Pressionado pelos escândalos de interferência russa na eleição norte-americana, de uso indevido de dados dos clientes e de disseminação de fake news e discursos de ódio, o Facebook reagiu de forma inusitada.
Conforme a reportagem desta semana do New York Times, a rede social preferiu partir para a ofensiva, em lugar de simplesmente penitenciar-se e mudar. "Enquanto Zuckerberg realizava uma turnê de desculpas, Sandberg supervisionava uma agressiva campanha de lobby para combater os críticos do Facebook, direcionar a raiva pública para empresas rivais e evitar regulamentação prejudicial aos interesses da empresa", diz a reportagem. O Facebook contratou lobistas para atuar junto aos congressistas e chegou a se mobilizar, segundo o jornal, para que o público visse as críticas à companhia como resultantes de antissemitismo (Zuckerberg e Sandberg são judeus).
A estratégia de desviar atenção e desacreditar críticos encorpou-se depois que um novo escândalo atingiu o Facebook em cheio. Em março deste ano, o New York Times e os jornais britânicos The Guardian e The Observer revelaram que a consultoria política Cambridge Analytica havia tido acesso aos dados de milhões de usuários do site de Zuckerberg. A empresa teria usado esses dados para influenciar votantes na eleição norte-americana e no referendo que levou os britânicos a decidirem pela saída da União Europeia.
O episódio causou indignação em todo o mundo e fez autoridades internacionais abrirem investigações contra o Facebook. Depois de duas semanas sob ataque, a rede social admitiu que "as informações no Facebook de 87 milhões de pessoas – a maioria nos Estados Unidos – podem ter sido compartilhadas de forma indevida com a Cambridge Analytica".
A reportagem publicada nesta semana pelo New York Times revela que, dias antes de o escândalo de março ser divulgado, a equipe do jornal apresentou ao Facebook provas de que os dados obtidos de forma indevida estavam de posse da Cambridge Analytica. Zuckerberg e Sandberg resolveram se antecipar à publicação da reportagem sobre o assunto, anunciando a suspensão da empresa de consultoria política de sua plataforma, acreditando que isso aplacaria os críticos – o que não aconteceu.
Os ataques vieram inclusive de outras gigantes do Vale do Silício. Tim Cook, principal executivo da Apple, pronunciou-se:
— Nós não vamos negociar sua vida pessoal. Privacidade para nós é um direito humano. É uma liberdade civil.
A partir de então, começaram a aparecer no site de notícias NTK vários artigos atacando Google e Apple. Um dos textos acusava Cook de ser hipócrita ao criticar a política de privacidade do Facebook, uma vez que a Apple também recolheria dados dos seus usuários. Outra matéria defendia que o impacto do uso do Facebook pelos russos não havia sido relevante. O NTK, revelou o New York Times, está ligado à Definers, uma consultoria contratada pela Facebook.
Outro encargo que a Definers assumiu foi lançar uma campanha para apresentar o investidor liberal George Soros como a força por trás dos ataques de diferentes ativistas ao Facebook. Era uma forma de descredibilizar esses ativistas. Em um discurso no Fórum Econômico Mundial, Soros havia descrito o Facebook como uma ameaça monopolista "sem vontade ou inclinação para proteger a sociedade contra as consequências de suas ações".
Nesta semana, com a publicação da reportagem sobre o assunto, a empresa de Zuckerberg informou ter encerrado sua relação com a Definers.