Países como Estados Unidos, Coreia do Sul e China correm para ser pioneiros no lançamento da tecnologia 5G em 2019. A promessa é de avanços, como a possibilidade de médicos fazerem cirurgias à distância, por meio de robôs conectados à internet. Outra inovação será a Internet das Coisas, que permitirá que eletrodomésticos "aprendam" as preferências de seus usuários com o uso de inteligência artificial. Na América Latina, porém, o 5G só deve chegar em 2020 e não deve se massificar até 2025, prevê a GSMA, associação global de operadoras móveis.
— Ainda não se sabe qual será o primeiro país da América Latina a usar o 5G — disse Sebastian Cabello, diretor regional para a América Latina da GSMA. No caso do 3G, o primeiro experimento se deu no Chile, e o 4G começou no Uruguai.
O Brasil possui hoje 218 milhões de conexões móveis ativas, sendo 79% em smartphones. Pouco mais da metade (55%) já usa o 4G. Apesar de serem os maiores números da América Latina, segundo a GSMA, os dados refletem o atraso da região. No México, sede da Claro, são 109 milhões de conexões móveis ativas, 63% por smartphones e 24% com 4G.
O avanço em direção ao 5G será lento. Para 2025, a associação prevê que apenas 8% das conexões móveis da América Latina se darão pelo 5G e, inicialmente, em negócios entre empresas e nas conexões máquina a máquina.
Diretores da Anatel afirmam que o Brasil deve conviver com uma desigualdade tecnológica por muitos anos a partir do lançamento do 5G. Embora a agência já trabalhe para viabilizar o leilão de faixas para a nova tecnologia em 2019, a prioridade ainda é universalizar o acesso à internet banda larga. O 4G já está em mais de 4 mil municípios, onde vivem 94,5% da população, mas ainda há 2 mil localidades que não têm nem com sinal de celular 2G, tecnologia usada apenas para ligações de voz, sem acesso à web.
A ausência de internet móvel se espalha por todas as regiões do país e afeta 4 milhões de habitantes. São Paulo, por exemplo, possui áreas descobertas nos municípios de Cafelândia, Campo Limpo Paulista, Cananéia, Casa Branca, Cesário Lange, Ilhabela, Lavrinhas e Presidente Bernardes.
— Querer que o Brasil esteja na ponta das discussões tecnológicas sem ter feito o dever de casa é vender ilusões. Não faz sentido falar em 5G, Internet das Coisas, inteligência artificial e carros autônomos sendo que ainda não conseguimos universalizar o acesso à banda larga — disse o conselheiro da Anatel Anibal Diniz.
Segundo o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude, o desafio do 5G será a formatação de um modelo que viabilize capital para a exploração dos novos serviços. A novidade deve ser o slicing, sub-redes dentro de uma mesma rede que vão dar prioridade a alguns aplicativos em detrimento de outros.
— Provavelmente esse modelo não estará nas pessoas físicas, mas nas empresas, a partir da Internet das Coisas. Talvez tenhamos algo mais concreto em dois ou três anos — disse Eduardo.
A prioridade no Brasil é encontrar formas de financiar novas redes de fibra óptica, disse o diretor da Anatel. Neste ano, a agência reguladora enviou ao governo projetos de lei que direcionam taxas pagas por operadoras a esses investimentos. Hoje, a legislação só permite que o dinheiro seja usado nas redes de telefonia fixa.
A despeito do atraso tecnológico, o Brasil faz um trabalho prévio para receber as novas tecnologias. Diniz destacou que a Anatel propôs ao governo taxação zero para a Internet das Coisas. Sem a mudança, seria necessário pagar para habilitar o chip de cada eletrodoméstico conectado - hoje, o valor por chip de celular é de R$ 26. A proposta precisa passar pelo Executivo e também pelo Legislativo.