A Polícia Civil de Canoas recebeu novos registros do golpe da falsa central bancária. Na quinta-feira (3), Zero Hora mostrou a história de uma moradora que estava economizando para reconstruir a casa atingida pela enchente de maio mas perdeu R$ 80 mil ao ser enganada por estelionatários no fim de setembro. Segundo a polícia, pelo menos outros três fatos semelhantes a esse foram informados por clientes de bancos. A investigação apura se há ligação entre os crimes.
Segundo a delegada Luciane Bertoletti, da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas, foram registrados cinco casos ocorridos em setembro, sendo que três deles são bastante semelhantes ao da moradora que perdeu R$ 80 mil. Os casos comunicados ocorreram entre 17 de setembro e 28 de setembro.
Em um deles, no dia 25 de setembro, a vítima relatou que recebeu uma ligação de um homem que se identificava como gerente de sua conta bancária. O golpista alegou que havia uma movimentação suspeita e que era necessário realizar o bloqueio. A mulher acabou realizando transferências no valor de R$ 70 mil.
Foi dessa mesma maneira que a vítima que juntava dinheiro para reconstruir a moradia foi ludibriada por criminosos. No caso dela, após retirarem R$ 80 mil da conta, os estelionatários ainda fizeram novo contato no dia seguinte, tentando dar sequência ao golpe. A mulher acabou gravando essa segunda ligação em vídeo. O estelionatário insiste para que ela acesse novamente o aplicativo do banco e siga as orientações dele sobre como proceder.
— Me sinto assaltada, culpada. É uma dor tão grande. Um dinheiro que a gente trabalhou tanto para juntar. Perdemos tudo — narrou a vítima.
Investigação
Na semana passada, a Polícia Civil de Canoas desencadeou, em conjunto com a polícia paulista, uma operação em Campinas, no interior de São Paulo. Os alvos foram suspeitos de integrarem uma quadrilha especializada nesse tipo de golpe. Uma das vítimas também era de Canoas, e perdeu R$ 55 mil. Foram cumpridos 11 mandados de prisão. Segundo a delegada Luciane, que coordenou essa investigação, a apuração dos novos casos indica que se trata de outro grupo.
— Estamos investigando, apurando se há ligação entre esses casos registrados agora. Mas é importante dizer que essa fraude está disseminada. Vários grupos do Brasil estão aplicando esse tipo de golpe. Descartamos a possibilidade de ser o mesmo de Campinas. Seria de outra localidade — diz.
As vítimas, segundo a delegada, possuem perfis diferentes, e as contas bancárias também são em diferentes instituições. Em um dos casos, o criminoso alegou que a vítima tinha tido o celular hackeado e que golpistas estavam acessando suas contas. Uma das estratégias desses criminosos é justamente fazer a pessoa acreditar que está protegendo sua conta. Além disso, os golpistas costumam informar dados pessoais da vítima, para que ela acredite que ele tem mesmo acesso ao cadastro bancário.
— No início, imaginávamos que as vítimas fossem somente pessoas idosas. Mas o que temos visto é que isso varia muito. Os golpistas estão muito articulados, provavelmente usando de informações privilegiadas. Isso faz com que as vítimas acreditem que estão mesmo falando com alguém do banco — explica.
Os golpistas também têm passado a usar, segundo a delegada, mais ferramentas que sofisticam o golpe. Inicialmente, as ligações eram feitas por meio de telefones 0800, mas muitos grupos substituíram isso e passaram a usar o spoofing, uma técnica empregada por cibercriminosos para falsificar o número de telefone de uma ligação. Com isso, os bandidos conseguem mascarar o número de telefone que estão usando.
— No caso de Campinas, vimos que eles usavam inteligência artificial para simular a voz do gerente do banco. A cada dia eles passam a usar mais elementos, que tornam mais crível o golpe — alerta a delegada.
Abalo psicológico
No caso da moradora do bairro Mathias Velho, que perdeu R$ 80 mil, um dos impactos deixados é o abalo psicológico. A idosa, de 60 anos, relata que depois que caiu no golpe tem dificuldade para dormir, sofre com depressão, crises de pressão alta, não consegue ficar sozinha e tem medo de atender o telefone.
— Eles tiraram minha alegria de viver — desabafa a vítima.
— Todo mundo tem o estelionato digital como não grave, de médio potencial ofensivo, porque não é praticado com violência nem grave ameaça. Ele pode não ter uma violência física, mas a violência psicológica, o sofrimento da vítima. Muitas vezes, as pessoas perdem todas suas economias. Pessoas que trabalharam a vida inteira. Isso deixa uma marca que realmente é difícil de se recuperar. O nosso legislativo tem que olhar melhor para esse tipo de crime que só aumenta no país — completa a delegada.
Como se proteger
- Ligações recebidas pelos clientes solicitando qualquer documento, senhas, dados cadastrais, estornos ou a realização de transferências não são práticas das instituições financeiras, portanto, os clientes não devem repassar informações ou efetuar operações sob orientação desse tipo de contato.
- Nunca realize ligações para números de telefone 0800 recebidos por SMS ou outras mensagens. Ligue sempre para o número da central de atendimento do seu banco ou para seu gerente.
- Os bancos nunca ligam para pedir aos clientes que façam transferências ou Pix ou qualquer tipo de pagamento.
- Se receber esse tipo de ligação, desconfie na hora. Desligue e entre em contato com a instituição pelos canais oficiais, de preferência de outro telefone, para saber se algo aconteceu mesmo com sua conta. Ou vá pessoalmente na agência bancária.
- Se sofrer algum tipo de golpe, vá direto à delegacia mais próxima para registrar a ocorrência. Uma das medidas possíveis é o bloqueio das contas bancárias. Quanto mais demorado for o registro, mais difícil é de a investigação conseguir localizar os valores nas contas dos golpistas.
Fonte: Febraban e Polícia Civil