A Polícia Civil divulgou áudios que registram supostas ameaças a internos de uma instituição de longa permanência de idosos (ILPI) em Canoas. O estabelecimento foi interditado na sexta-feira (27) após solicitação do Ministério Público, por suspeita de tortura e maus-tratos.
De acordo com a polícia, durante a ação na sexta-feira, duas cuidadoras foram presas em flagrante, suspeitas de serem responsáveis pelas agressões. Em um dos áudios divulgados, aos quais o g1 teve acesso, uma delas parece ameaçar um dos residentes do local:
— Eu vou matar esse velho. Eu vou me enfurecer, eu vou dar nele até dizer chega! Vamos! Vamos! Para de se fazer de louco.
Conforme o delegado Mauricio Barison, que investiga o caso, as gravações, complementados por depoimentos dos idosos, são indícios fortes de crime.
— Os idosos nos relataram que eram agredidos constantemente e durante anos, até a nossa ação, por xingamentos, ameaças de agressões e agressões físicas graves, que ultrapassam maus-tratos e são configuradas como tortura — afirma.
A polícia não divulgou os nomes dos suspeitos, nem da ILPI.
Em outros áudios usados na investigação, é possível ouvir frases como "não te levanta que tu vai apanhar", "nós vamos botar ele na cadeira amarrado lá no quarto" e "esse vai tomar muito pau".
A proprietária do estabelecimento, que já prestou depoimento à Polícia Civil, e o marido de uma das cuidadoras também são investigados. A reportagem do g1 procurou os advogados das investigadas, que não quiseram se manifestar sobre o caso.
Segundo o MP, a ação foi levada à Justiça após uma vistoria realizada no local. Na ocasião, um dos idosos entregou um pen drive no qual estavam os áudios que indicam os maus-tratos contra os residentes.
Na sexta-feira, uma idosa foi encontrada no local com ferimentos graves e precisou ser levada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a um hospital.
— O relato do idoso 1, que foi ouvido hoje, trazia indícios, relatos de que as cuidadoras batiam a cabeça de uma pessoa na parede, que gritava, pedia socorro. Diante disso, nós nos deslocamos até o último cômodo da casa. E tava lá uma das idosas em estado de semiconsciência, babando e meio delirando, e com muitos hematomas na cabeça — informa a promotora Melissa Marchi Juchen.
Oito idosos, com idades entre 70 e 90 anos, moravam na instituição de longa permanência, interditada na sexta. Alguns deles voltaram para as famílias, enquanto os demais vão ser encaminhados para outras instituições do tipo no município.
A promotora destacou também que as famílias dos idosos não tinham conhecimento do que aconteceria dentro do asilo. A prefeitura de Canoas, por sua vez, afirmou que o asilo não tem convênio com o município, e que nada de suspeito havia sido identificado no local na última fiscalização periódica, em julho.