Após encontrar uma metralhadora israelense, dois revólveres e seis pistolas de diversos calibres com um grupo especializado em aplicar o conto do bilhete, a Polícia Civil quer saber como o arsenal foi parar nas mãos dos golpistas.
Seis suspeitos de fazerem parte da quadrilha, moradores de Passo Fundo, foram presos na ação que confiscou as armas, deflagrada no último dia 19, em Porto Alegre, pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizada (Draco) de Passo Fundo em conjunto com a Draco de Canoas.
A polícia ainda não sabe quem seria a vítima a quem o arsenal pertencia, mas acredita que seja um colecionador, devido às características dos itens. As armas, de modelos que não costumam ser usados por facções criminosas, estavam em excelente estado, mas não eram novas.
— O armamento tem, certamente, uns 30 anos de fabricação, mas foi armazenado com muito zelo, inclusive com os papéis originários, que vêm com a compra — conta o delegado Gustavo Bermudez, da Draco de Canoas.
Ele calcula que, caso as armas fossem vendidas pelos golpistas, o lucro chegaria a R$ 300 mil, e elas provavelmente terminariam em posse do tráfico de drogas.
A polícia trabalha com a hipótese de que a vítima possa ter trocado os itens valiosos por um bilhete de loteria, acreditando ser premiado. Mas não descarta que as armas possam ter sido roubadas ou furtadas, caso os golpistas tenham conseguido entrar na casa do alvo a partir da história inventada.
Os presos têm de 25 a 34 anos, todos com antecedentes por crimes como estelionato, roubo, porte ilegal de arma, agressões, ameaça e tráfico de drogas, em sua maioria cometidos na Capital e Região Metropolitana. Três deles têm inclusive registros por casos de homicídio.
Descoberta incomum
A organização criminosa já era conhecida da polícia, mas a apreensão surpreendeu. Segundo o delegado Bermudez, não é do feitio do grupo de golpistas o uso de armas.
A polícia recebeu a informação de que o grupo estaria tentando vender os armamentos. Diante disso, as Dracos de Passo Fundo e Canoas interceptaram o grupo em Porto Alegre, quando os suspeitos se preparavam para voltar à cidade de origem, após terem aplicado o golpe em que angariaram as armas.
De acordo com o delegado Bermudez, os membros do grupos atuavam de maneira organizada:
— Segunda-feira, eles iam para alguma cidade, passavam a semana praticando o golpe no local e voltavam a Passo Fundo na sexta-feira.
Como funciona o conto do bilhete
O golpe foi noticiado pela primeira vez na imprensa na década de 1930, mas, segundo a polícia, ainda engana muita gente devido à encenação elaborada pelos golpistas. Confira como os estelionatários agem:
- A vítima é abordada por um criminoso que se faz passar por uma pessoa humilde, que pede ajuda para trocar um bilhete premiado.
- Outros golpistas aparecem em cena e se oferecem para ajudar o “sortudo”. Eles simulam acreditar que o bilhete é verdadeiro e reforçam a narrativa.
- Muitas vezes, ligam para um comparsa, que se passa por “gerente da Caixa” e “confirma” que o bilhete teria sido premiado.
- O “dono do bilhete” age como se não soubesse o que fazer com o dinheiro e propõe dividir o valor com a vítima, caso ela o ajude a trocar o bilhete. Mas exige que a vítima lhe repasse valores, como garantia de que ela retornará após resgatar o prêmio.
- Depois que a vítima repassa suas economias, os golpistas desaparecem de vista.
* Produção: Camila Mendes