A vida de Anna Pilar Cabrera, sete anos, uma menina descrita por vizinhos e conhecidos como esperta e meiga, foi ceifada abruptamente na última sexta-feira (9). A criança foi atingida por nove golpes de faca no condomínio onde residia, na área central de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. A mãe da criança, Kauana do Nascimento, 31, é a principal suspeita do assassinato. Ela está presa preventivamente.
Pelos corredores do prédio em que a Anna Pilar morava, onde, no primeiro pavimento, também funcionam estabelecimentos comerciais, o crime brutal é assunto entre moradores e lojistas. Eles dizem que, anteriormente, nada do tipo havia acontecido no recinto, considerado até então seguro de frequentar e viver.
— Isso nos pegou de surpresa. Nunca tínhamos visto algo que pudesse indicar que havia um problema ali. As duas eram educadas. Nunca escutamos brigas entre as duas. A menina era encantadora. Não temos qualquer tipo de reclamação sobre elas — relata uma das vizinhas, que mora no mesmo andar em que Anna vivia com a mãe.
Um outro vizinho comenta que a menina costumava cumprimentar as pessoas nas escadas do prédio, sorria com frequência, parecia alegre e ativa.
— Às vezes ela era animada, tinha energia, coisa de criança. Talvez a mãe não gostasse disso — conta.
Um condômino, que vive há mais de uma década no edifício, explica que a família da vítima havia se mudado para o prédio há cerca de seis anos. Ele acompanhou o crescimento de Anna e relata que, no começo, moravam o pai, que é argentino, a mãe e criança. O casal se separou e apenas mãe e filha continuaram no prédio.
— O que eu sabia até então era de uma relação harmoniosa entre mãe e filha. Nada que desabonasse a criação dela. A mulher parecia se dar bem com o ex-marido — analisa.
Na sexta-feira, ele relata ter visto as duas feridas, o que lhe abalou emocionalmente.
— No dia anterior, eu vi a menina feliz, conversando, brincando. No outro, vi aquela cena trágica, as duas ensanguentadas na escada... De sexta para sábado não dormi. O sábado inteiro também não consegui. Causou para todos os moradores um trauma, principalmente para aqueles que viram a cena, assim como eu. É uma cena chocante, difícil de se ver — diz.
Amigável e inteligente
Anna estudava na escola municipal São Jacó, também em Novo Hamburgo. O colégio não abriu na segunda-feira (12), em luto pelo episódio. A direção da escola afirmou que não se pronunciará neste momento.
Pais de crianças que estudaram com Anna comentam que a mãe parecia preocupada com ela e era presente nos compromissos escolares.
— Eu nunca vi ela chamar a Anna só de Anna, sabe? Era sempre Anna Pilar. Ela parecia muito envolvida com a filha. Levava a criança na escola e costumava levar em diversas atividades, como aulas de música, teatro, dança — comenta uma mãe, que preferiu não se identificar.
Ela explica que os filhos estudaram com a menina por pelo menos três anos. Neste período, ela se mostrou amigável e amável. Na época, relata, a mãe de Anna buscava verificar se a criança era autista e conversava com frequência com pais de alunos da escola que tinham o laudo para este quadro.
— A Anna era muito inteligente. Falava português e o espanhol muito bem. Ela gostava de abraços e era muito carinhosa. Eu via ela sair da escola e correr em direção à mãe, dar um beijo, todo santo dia. Fiquei chocada quando soube do que aconteceu, porque não condiz com o que eu via na rua — diz.
A reportagem de Zero Hora entrou em contato com o Conselho Tutelar de Novo Hamburgo, que afirmou que "não recebeu quaisquer informações objetivas" que permitissem "identificar o núcleo familiar" da criança assassinada. "De maneira que, as informações de nosso conhecimento são oriundas das notícias veiculadas pelas mídias. Não havendo, portanto, nenhuma comunicação oficial dos fatos ao Conselho Tutelar", informaram na nota.
Após a reportagem fornecer o nome da menina, o órgão respondeu: "Não temos histórico de atendimento ou qualquer denúncia de maus-tratos contra a criança em nosso sistema".
O crime
A Polícia Civil, por meio da Comunicação Social, disse que Kauana do Nascimento não quis falar sobre o crime em depoimento. Ela é representada no caso pela Defensoria Pública. Zero Hora tenta contato para posicionamento, mas ainda não obteve retorno.
Segundo o delegado Fernando Sodré, a mulher teria desferido nove facadas na filha, de sete anos. O crime teria ocorrido no final da tarde da sexta-feira, em um condomínio na região central de Novo Hamburgo.
Os vizinhos chamaram o socorro, após encontrarem a mãe abraçada à filha, ambas ensanguentadas. A mulher dizia que a filha havia caído da escada, mas foram encontrados ferimentos de facadas pelo corpo. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi ao local, mas constatou que a criança já estava morta.
Havia sangue dentro do apartamento e uma faca foi achada sobre uma cama. Como também tinha um ferimento de faca no peito, a mãe foi hospitalizada sob custódia da polícia. O caso está com a Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo. A motivação ainda não foi esclarecida.
O pai da criança, que é separado da mãe, chegou ao local durante o atendimento e entrou em choque. Ele já prestou depoimento e também teria dito que não tinha conhecimento sobre qualquer problema de relacionamento entre mãe e filha.