Um bebê foi sequestrado três horas depois de nascer no Hospital de Clínicas de Uberlândia na terça-feira (23). A suspeita, Cláudia Soares Alves, médica neurologista, 42 anos, foi presa em flagrante pouco tempo após o crime. Ela estava em casa, na cidade de Itumbiara, no sul de Goiás.
De acordo com a Polícia Civil, a médica entrou no hospital apresentando o seu crachá, já que ela é funcionária do local.
A gerente de Atenção à Saúde do hospital onde a recém-nascida foi sequestrada, Liliane Passos, disse que iniciou uma apuração interna sobre as circunstâncias e colabora com a investigação da polícia, que avalia se houve falha na segurança da instituição.
O que aconteceu?
Sequestro
A bebê nasceu por volta das 20h da terça-feira no HCU. Três horas depois, Cláudia entrou no quarto e se identificou como pediatra. Ao g1, Édson Ferreira, pai da criança, relatou o ocorrido.
— Ela era muito bem articulada. Entrou, mexeu nos peitos da minha esposa para ver se tinha leite. Disse que era pediatra e que ia levar a bebê para se alimentar. Minutos depois, eu vi que a minha menina não voltava, e aí percebemos que ela tinha sido levada — contou.
O sistema de segurança do hospital chegou a ser acionado, mas a mulher já havia fugido com a criança.
Câmeras de segurança registraram os momentos de entrada e saída de Cláudia do estabelecimento. Toda a ação durou cerca de 40 minutos:
- 23h18min: Cláudia chega ao hospital de carro. Ela entra no local usando jaleco, touca, máscara, luvas de borracha e uma mochila amarela nas costas
- 23h43min: a médica aparece andando pelos corredores com a bebê no colo
- 23h55min: ela sai do hospital carregando a recém-nascida, entra no carro e foge
A Polícia Civil investiga se ela parou em algum lugar durante a viagem e se teve ajuda para praticar o crime. Mas, em todos os momentos em que aparece nas câmeras de segurança, Cláudia está sozinha.
Fuga
A suspeita dirigiu da maternidade até sua casa, em Itumbiara, no sul de Goiás. O trajeto dura cerca de duas horas.
Resgate
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Anderson Pelágio, ao g1, a Polícia Civil de Goiás recebeu as informações sobre o sequestro, identificou o endereço da suspeita e foi até a residência da médica.
Quando chegaram, os oficiais encontraram o bebê sob os cuidados de uma empregada doméstica que trabalhava para Cláudia. A médica não estava em casa.
A criança foi resgatada e levada imediatamente pelos policiais ao Hospital Municipal de Itumbiara, onde recebeu atendimento médico e passou por exames, enquanto uma outra equipe da polícia permaneceu na casa, aguardando a chegada da suspeita.
Prisão
Quando chegou em casa, Cláudia foi abordada pelos policiais. Dentro de seu carro foi encontrado um enxoval para uma bebê do sexo feminino, com peças novas, fraldas, banheira e até piscina infantil.
Ela foi presa em flagrante por sequestro qualificado, cuja pena pode chegar até oito anos de prisão.
O que diz a defesa
O advogado de Cláudia, Vladimir Rezende, alega que ela tem transtorno bipolar, recentemente havia mudado a medicação e, no momento dos fatos, encontrava-se em crise psicótica, não tendo capacidade de discernimento.
— Com a alteração dos medicamentos, ela teve um surto, um surto psicótico. Nossa defesa vai ser essa, porque realmente foi o que aconteceu — afirmou Vladimir ao g1.
Ele também disse que Cláudia estava grávida no momento da prisão e acabou tendo um sangramento. Mas, de acordo com o delegado, ela passou por exame de corpo de delito no Hospital Municipal Modesto de Carvalho e os médicos descartaram a gravidez.
— Quando ela foi submetida ao exame de corpo de delito, o médico que a avaliou descartou a gravidez, porque ela alegou que estava com um sangramento, mas aparentemente se tratava de uma menstruação — afirmou Anderson.
Sobre a suspeita
Cláudia se formou em medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) em novembro de 2004. Ela concluiu a residência em clínica médica na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em 2007 e finalizou a residência em neurologia em novembro de 2011, na UFTM.
Era professora na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e, recentemente, havia ingressado como mestra na UFU.