Os dois integrantes da Defesa Civil Municipal de Eldorado do Sul que foram presos na manhã desta sexta-feira (28) por suposta participação em saques durante a enchente de maio negam ter praticado os crimes. Imagens mostram ambos, com coletes identificatórios da repartição que lida com catástrofes, tripulando uma retroescavadeira junto a mureta de uma empresa que foi arrombada e saqueada. Testemunhas dizem que a dupla derrubou o muro e ajudou ladrões a levarem doces e outros produtos guardados no depósito da firma. Um deles admite que levaram caixas de guloseimas, mas para distribuir à população.
A operação conjunta foi deflagrada pela Polícia Civil e 31º Batalhão de Polícia Militar. Os dois integrantes da Defesa Civil que foram presos são Jonathan Madruga (que atuava como CC da Câmara de Vereadores e na Defesa Civil) e Maximiliano Cabral, o Max (voluntário na Defesa Civil). Além deles, foi presa uma terceira pessoa, suspeita de roubo (ameaçar funcionários de empresas para levar produtos). Na casa dele foram encontrados víveres e vestuário empacotados, suspeitos de serem produto de saque.
Eldorado do Sul tem apenas três servidores de carreira na Defesa Civil. Em caso de emergência, são chamados funcionários de outras áreas para atuar e também aceitos voluntários. Foi o que aconteceu com Jonathan e Maximiliano. Em depoimento à Polícia Civil, eles dizem que se apresentaram como voluntários. Apesar de não serem efetivos, os dois têm status de servidores e respondem dessa forma, porque estavam de forma temporária no funcionalismo durante o tempo da tragédia climática, explica a delegada Luciane Bertoletti, que conduz a operação policial.
A prefeitura de Eldorado do Sul nega que os dois presos tenham algum vínculo com o Executivo.
Jonathan e Max afirmam que atuaram na área de saúde municipal e também como voluntários da Defesa Civil em outros eventos climáticos. Asseguram que foram admitidos na Defesa Civil pelo secretário de Habitação, João Ferreira, que também coordenava a Defesa Civil em maio. A prefeitura diz que a nomeação não foi oficializada.
Ferreira foi afastado da Defesa Civil há algumas semanas, por ser investigado pelo Ministério Público por suposto desvio em donativos para flagelados das enchentes - delito que ele nega ter cometido.
Ouvido pelos policiais, Jonathan nega ter participado de saques. Ele diz que usou a retroescavadeira "para salvar vidas" de pessoas que entravam na empresa alimentícia e estavam nas águas. O preso relata que a inundação não estava em nível baixo e que muitos populares não sabiam nadar, por isso a máquina foi utilizada. Tanto ele quanto Maximiliano garantem que não praticaram danos no depósito de alimentos. A diferença, nos depoimentos, é que Max disse que Jonathan e outro homem "colocaram cinco ou seis caixas de doces na concha da retroescavadeira, para distribuir a crianças". Ele dirigia o veículo e assegura que se arrepende de ter levado a carga. Ambos disseram não lembrar de terem "rompido algum obstáculo" na empresa arrombada.
O depoimento deles contraria relato de testemunhas ouvidas pela Polícia Civil. Elas dizem que ambos os servidores se identificaram como sendo da Defesa Civil e usaram a máquina para arrombar a empresa alimentícia e para ajudar os saqueadores. Fotos tiradas no momento, em 4 de maio, indicam que o nível das águas era baixo dentro da área do depósito, salienta a delegada Luciane.
Prefeitura nega que sejam servidores
A prefeitura de Eldorado do Sul nega que Jonathan e Max sejam servidores formais da Defesa Civil (embora eles tenham dito, em depoimento, que foram aceitos como voluntários pelo coordenador do órgão municipal). Confira a nota do Executivo de Eldorado:
"A prefeitura de Eldorado do Sul, através da Defesa Civil Municipal, esclarece que os indivíduos mencionados nas notícias não são integrantes da Defesa Civil do município de Eldorado do Sul, pois não possuem vínculo oficial com nossa instituição. Salientamos que durante a situação de emergência diversos itens foram subtraídos da sede da Defesa Civil que está temporariamente no Centro Administrativo da Prefeitura, bem como os demais locais do munícipio. Assim, o uso de coletes não implica necessariamente a condição de membro oficial.
A Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV) esclarece que a informação sobre a retroescavadeira supostamente locada pela Prefeitura não procede, pois todos os equipamentos vinculados a Prefeitura possuem contrato de prestação de serviços.
Reiteramos nosso compromisso com a transparência e com a proteção da população durante situações de emergência. Estamos colaborando com as autoridades competentes para esclarecer os fatos e tomar as medidas cabíveis diante desta situação. Contamos com o apoio e a compreensão de todos os cidadãos de Eldorado do Sul neste momento, reafirmando nosso compromisso com o serviço público e com o bem-estar da comunidade".