Alessandra Dellatorre, 29 anos, era filha única do casal Ivete e Eduardo Dellatorre. Vivia em São Leopoldo, no Vale do Sinos, com os pais. Advogada de formação, estudava para concursos, e era apaixonada pelos animais. O cão Max, que foi adotado por ela, tornou-se o xodó da família. Ale, como era chamada, queria casar, adotar filhos e outros pets. É dessa jovem, generosa, idealista e corajosa, que os familiares querem recordar. Neste fim de semana, uma missa será realizada em homenagem à advogada, que foi encontrada sem vida 23 meses após seu desaparecimento.
O sumiço de Alessandra mobilizou familiares, amigos e as forças de segurança ao longo de quase dois anos. Na última terça-feira (18), a Polícia Civil confirmou que uma ossada encontrada há cerca de duas semanas num local de mata, junto a uma área militar, no limite entre São Leopoldo e Sapucaia do Sul, havia sido identificada. Laudos periciais confirmaram que se tratava da advogada. Nenhum indicativo de que Alessandra tenha sofrido violência foi encontrado – no entanto, a polícia ainda investiga todas as possibilidades sobre a causa da morte, que ainda é desconhecida.
Ale ingressou no curso de Direito da Unisinos em 2011 e se formou em julho de 2017. A advogada tinha como meta ser aprovada num concurso público, e estudava para isso havia cerca de quatro anos. Só depois disso pretendia casar com seu namorado, com quem mantinha relacionamento havia cerca de oito anos, após se conhecerem numa festa. Segundo a família, a advogada sonhava em ter uma casa, para viver com o marido, adotar filhos e mais pets. Ale era empenhada em campanhas de resgates de animais de rua. O cão Max, que até hoje vive com os pais dela, chegou à família dessa forma.
“A Ale era muito espontânea, divertida, generosa, idealista, corajosa, tinha opiniões firmes, conselheira. Foi 'cupido' várias vezes, unindo casais que estão juntos até hoje. A família está muita abalada com o desfecho dessa situação. Havia muita esperança de encontrá-la viva. Agora vamos aguardar as conclusões finais do IGP para entendermos melhor o que pode ter acontecido”, escreveram os familiares em resposta à reportagem. O contato foi feito por meio do advogado que representa a família dela.
Despedida
O velório de Ale ocorreu no Cemitério Ecumênico Cristo Rei, na quarta-feira (19), e o sepultamento foi realizado no mesmo dia. No próximo domingo (23), a família se reunirá na Paróquia Santa Catarina de Alexandria, no bairro São José, em São Leopoldo, a partir das 16h. “Normalmente, se realiza missa de 7° dia, mas diante das circunstâncias denominamos missa em homenagem que será um momento espiritual dedicado a ela”, explicou a família.
Foi nesta mesma igreja que em julho de 2023 a família realizou um encontro para marcar um ano do desaparecimento dela. Ivete Dellatorre, mãe de Ale, afirmou que, apesar do tempo corrido, mantinha a esperança de encontrar a filha.
— Ela está em toda a parte, em cada canto da casa. Em tudo a gente vê a Alessandra. É terrível. O que mantém nossa esperança é Deus. Nos apegamos muito à fé — disse, emocionada.
A Ale era muito espontânea, divertida, generosa, idealista, corajosa, tinha opiniões firmes, conselheira.
MENSAGEM DOS FAMILIARES
Diversas vezes, a família se manifestou por meio das redes sociais, nas quais pedia ajuda para tentar localizar Ale. Foi assim também no último dia 10 de maio, quando a advogada deveria ter completado 31 anos. Naquela data, a família lembrou que aquele era o segundo aniversário em que os pais não tinham respostas sobre o paradeiro da filha.
“O vazio provocado pelo desaparecimento da Ale é uma dor repleta de lembranças de nossa garota generosa, determinada, idealista, corajosa, habilidosa em se relacionar com as pessoas, e muito criativa, surpreendia ao falar algo engraçado e inesperado, provocando risos e tornando difícil a tarefa de não gostar dela”, escreveram na homenagem.
Os familiares encaminharam a GZH uma nova mensagem direcionada a Alessandra. “Ale, jamais te esqueceremos. Tuas lembranças viverão para sempre em nossos corações e tua luz nos iluminará em cada passo de nossas vidas. Devastados, nos resignamos que teu caminho, agora, é junto a Deus. Nós ainda temos nosso tempo a cumprir aqui, mas temos a certeza do nosso reencontro. Te amamos. Até breve”.
“Busca por explicações”
O advogado da família, Matheus Trindade, afirma que o intuito da homenagem neste fim de semana é também agradecer a todos que participaram da jornada de buscas e “pedir a Deus que cuide da Alessandra”.
— A família sempre teve esperanças de encontrar a Alessandra com vida, então a notícia da sua morte foi um golpe muito forte. Porém, agora o capítulo das buscas pela localização foi encerrado e começa o capítulo de buscas por explicações. Nos habilitaremos no inquérito policial e vamos buscar ajudar a Polícia Civil a averiguar a causa da morte e condições do local em que a Alessandra foi localizada — afirmou.
O caso
A advogada desapareceu em 16 de julho de 2022. Durante a tarde, ela saiu da casa dos pais, no bairro Cristo Rei, em São Leopoldo, no Vale do Sinos, para uma caminhada – era habitual se exercitar ao menos duas vezes por dia. O paradeiro da jovem permaneceu incerto para a família até o início desta semana, quando a Polícia Civil confirmou a localização dos restos mortais.
O desaparecimento de Alessandra mobilizou familiares, amigos e as forças de segurança ao longo de quase dois anos. A advogada saiu de casa sem levar celular, só carregando uma garrafinha com uma bebida que ingeria antes do exercício. Imagens de câmeras registraram parte do trajeto dela, mas não eram conclusivas sobre onde a jovem poderia estar. Buscas foram realizadas em diversos lugares, inclusive fora do Estado. A família suspeitava que ela pudesse ter ficado desorientada durante a caminhada. A polícia não encontrou evidência de algum crime ao longo da apuração.
Na última terça-feira, em coletiva à imprensa o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) confirmou que a os restos mortais dela tinham sido localizados. Foi necessário realizar exames periciais, incluindo a análise da arcada dentária e de próteses mamárias que ela usava, para confirmar a identificação dela.
As perícias e investigações nesse momento não indicam para crime.
MARIO SOUZA
Diretor do DHPP
Sobre a possibilidade de Alessandra ter sido vítima de crime, a polícia reiterou que não existem evidências disso, mas que a hipótese não é totalmente descartada até o fim dessa investigação.
— Não existem sinais de crime. As roupas não estão rasgadas. Os ossos estão todos juntos. A imagem é de uma ossada posicionada no mesmo pedaço de terra. As perícias e investigações nesse momento não indicam para crime — afirmou o delegado Mario Souza, diretor do DHPP.
Diretor adjunto do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Maiquel Santos, afirmou que as análises na ossada não permitiram constatar nenhuma evidência de violência, mas que a causa da morte foi indicada como indeterminada.
— Essa ossada estava íntegra. Não tinha sinal nos ossos de tiro, ou facada, por exemplo. Nenhuma marca que levasse a crer em violência contra a vítima — disse.
Ainda sobre o levantamento no local do crime, segundo o perito, não se localizou nenhum vestígio que levasse a crer na participação de outras pessoas.
— Não havia sinais de cordas, armas brancas. As roupas estavam íntegras, o que indica que ela estava vestindo essas roupas no momento da morte — afirmou.