Uma briga doméstica silenciou para sempre a voz da professora Jaqueline Araújo dos Santos, 46 anos, na noite da última segunda-feira (13). Por volta de 23h, ela foi assassinada com um tiro no rosto disparado pelo seu esposo, que se entregou às autoridades no dia seguinte. A polícia não divulgou a identidade do homem, mas GZH apurou que se trata do policial militar Jandavi Campos da Silva, 49, lotado no 15º Batalhão de Polícia Militar (BPM), de Canoas.
O assassinato aconteceu na residência do casal, na Rua Rio Claro, no bairro Ipiranga, em Sapucaia do Sul. Segundo o delegado Gabriel Lourenço, que investiga o caso, o homem relatou à polícia que, ao chegar em casa, após o trabalho, teria iniciado uma discussão entre ele a esposa.
De acordo com o relato do suspeito à polícia, durante o desentendimento ele teria pegado uma arma de fogo para se suicidar e nesse instante a mulher teria ido em sua direção, quando um disparo acidental teria a atingido. Silva entrou em contato com uma vizinha informando que a esposa havia sido baleada e pediu que ela pedisse por socorro. Depois, ele fugiu.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado, mas ao chegar no endereço, a mulher já estava sem vida. Testemunhas relataram ao delegado que o casal vivia uma relação conturbada, com brigas frequentes.
Na tarde de terça-feira (14), Silva se apresentou ao comandante do 15º BPM e foi encaminhado à 2ª Delegacia de Polícia de Sapucaia para prestar depoimento. O caso é investigado como feminicídio.
— A polícia civil trabalha para esclarecer as circunstâncias desse crime, para ver se a versão do policial militar se ampara nos fatos. Serão chamadas testemunhas para serem ouvidas e esperamos concluir a investigação já na próxima semana para remeter à Justiça — diz o delegado.
O delegado ressalta que a prisão preventiva do suspeito menos de 24 horas após o crime se deve à agilidade no trabalho da Polícia Civil, do Ministério Público e do Judiciário.
Despedida
Jaqueline foi velada na noite de terça-feira em Esteio. A irmã dela, Elaine Araújo, 29, comenta que, assim como em vida, ela esteve rodeada de pessoas queridas na sua despedida.
Ela lembra da irmã mais velha com carinho. Gremista como o pai e apaixonada pelo verão, a professora só abriu mão de ir à praia no ano passado porque estava focada em realizar um sonho: a festa de 15 anos da filha. Segundo a irmã, ela não teve festa de debutantes e viu na filha a oportunidade de realizar seu sonho de adolescência.
— A Jaque fazia com que todo mundo estivesse junto. Ela era a união da família. Foi minha irmã, minha mãe, minha companheira — lembra.
Elaine conta que a irmã gostava muito de sapatos e de roupas coloridas e alegres, como ela. A irmã foi sua professora na 1ª série e, segundo ela, era uma professora que deixava a sua marca nos alunos.
O marido foi o primeiro e único namorado de Jaqueline, com quem teve dois filhos. A professora Josiane da Silva dos Santos, 45, que foi colega de magistério de Jaqueline lembra de quando se conheceram há quase 30 anos.
A Jaqueline era uma profissional extremamente delicada, amorosa, dedicada com seus alunos, sempre preocupada com a aprendizagem de todos.
JOSIANE DA SILVA DOS SANTOS
Professora e amiga de Jaqueline.
— Eu lembro do dia da nossa formatura, que ela era adolescente e estava grávida do primeiro filho, que hoje está com 26 anos. Eu tenho muito carinho por ela. A Jaqueline era uma profissional extremamente delicada, amorosa, dedicada com seus alunos, sempre preocupada com a aprendizagem de todos. Uma colega preocupada com o bem-estar dos seus colegas, que gostava de agregar as pessoas, de fazer momentos que as pessoas pudessem estar juntas, compartilhando, confraternizando.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Sapucaia (Sintesa) publicou uma nota de pesar lamentando a perda da professora. "A Educação de Sapucaia está em luto! Perde uma professora maravilhosa, uma pessoa fora de série e da maneira mais covarde possível: vítima de feminicídio!
Professora Jaqueline Araújo dos Santos, atualmente trabalhava na EMEF Professora Aurialicia Chaxin Bess, mas já trabalhou no Lourdes, no Alfredo, no Justino e onde passou sempre deixou muito carinho! Nos fará muita falta!", dizia o texto.
Feminicídio em Santa Cruz do Sul
A Polícia Civil também investiga um caso de feminicídio seguido de suicídio registrado na noite de segunda-feira, em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. Por volta de 18h20min, o corpo de uma mulher de 27 anos e de um homem de 35 foram localizados com marcas de golpes de faca dentro de casa.
O crime aconteceu na Rua Guilherme Kempf, no bairro Germania. Segundo a delegada Raquel Schneider, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) da cidade, quem localizou os corpos foi a mãe da vítima, que teria ligado na noite anterior para a filha, que não atendeu.
Após ligar novamente na segunda-feira e não obter resposta, a mãe decidiu ir até a casa da filha. Segundo o levantamento inicial da perícia, por meio da necropsia, foi um feminicídio seguido de suicídio. Conforme a delegada, em 2021, houve uma ocorrência de vias de fato registrada pela vítima, mas ela não quis dar andamento e nem solicitou medidas protetivas.
— Não houve nenhuma indicação de participação de terceiros no crime. Na sequência, nós estamos encaminhando aí para a oitiva dessas testemunhas — explica a delegada.