Um novo sistema de segurança que promete otimizar o combate a furtos e roubos de veículos em Porto Alegre está em fase de testes na Capital. O Hórus NG é uma plataforma desenvolvida pela Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa) que possibilita aos agentes da segurança pública a consulta a placas de veículos por meio de um aplicativo de celular.
Desde o dia 15 de abril, 10 viaturas da Guarda Municipal (GM) de Porto Alegre circulam com o sistema.
— A iniciativa é muito positiva. Toda ferramenta tecnológica colocada à serviço da segurança pública é sempre muito bem-vinda. O que cabe a nós, como profissionais, é fazer o melhor uso dela — sublinha o comandante da GM, Marcelo Nascimento.
O app é integrado ao sistema de cercamento eletrônico da cidade e faz a análise de placas em tempo real a partir das câmeras dos celulares dos agentes. A proposta é que o sistema complemente o trabalho realizado pelas mais de 400 câmeras distribuídas pela cidade.
— O Hórus é uma evolução do cercamento eletrônico, que é estático. Pensamos em algo que tivesse um elemento surpresa, fazendo com que o ladrão se sinta intimidado — explica a presidente da Procempa, Letícia Batistela.
Segundo ela, foi preciso um ano entre a concepção e a implementação do novo sistema, que utiliza tecnologia de georreferenciamento. Ela explica que o app pode ser instalado em qualquer celular com sistema Android mas será disponibilizado exclusivamente a agentes das forças de segurança.
A presidente da Procempa acrescenta que o Hórus funciona de forma complementar ao Detetive Cidadão, um recurso disponível no aplicativo 156+POA, que permite a qualquer cidadão denunciar veículos suspeitos localizados em situação de roubo ou furto — além de outros crimes — pelo smartphone.
Funcionamento
A reportagem de GZH acompanhou guardas municipais durante uma ronda por algumas quadras do Centro Histórico. O smartphone em que o Hórus estava instalado foi fixado no painel da viatura, do mesmo modo que muitos motoristas de aplicativo fazem. Enquanto a equipe percorria o bairro com o app ativado, a plataforma realizou uma varredura pelas placas de carros estacionados.
Os números e letras das placas regulares apareciam na tela do celular com uma tarja verde logo que eram detectadas. Quando alguma irregularidade com documentação ou multa associada à placa era identificada, o app emitia um sinal sonoro e uma tarja amarela aparecia sobre os dígitos da placa. Nessa fase de testes, os condutores dos veículos com placas com tarja amarela não serão abordados.
Caso um veículo em situação de furto ou roubo seja identificado, o app emitirá um sinal sonoro e uma tarja vermelha aparecerá na tela do celular. Nesse caso, os agentes emitirão um alerta ao Centro Integrado de Coordenação de Serviços (Ceic-POA), onde o caso será avaliado e, se a informação for confirmada, a Brigada Militar será acionada.
BM também fará testes
Na semana passada, uma equipe de agentes da Brigada Militar (BM) participou de uma capacitação junto à Procempa para conhecer o Hórus. Segundo o major Cristiano Luis de Oliveira Moraes, comandante do Centro de Operações Policiais Militares (Copom) da Capital, a proposta é usar o dispositivo em 18 viaturas, distribuídas em diferentes pontos da cidade. A fase de testes da BM deve iniciar nas próximas semanas.
— Queremos fazer uma integração de algumas tecnologias que a prefeitura tem. O Hórus é uma delas. Fizemos uma reunião e um treinamento inicial com alguns pilotos. Vamos receber algumas licenças para que possamos operá-lo e vamos fazer um teste inicial — diz o comandante.
Desafios
Durante a fase de testes, os agentes devem observar como o aplicativo se comporta quando utilizado em diferentes situações, por exemplo, se consegue ler as placas em dias de chuva, sob neblina ou com reflexo do sol. Além disso, o comandante do Copom pontua que é preciso ter cuidado com as informações coletadas para que as abordagens sejam realizadas com responsabilidade.
— É preciso ter muita cautela com toda tecnologia nova que chega, para não gerar uma abordagem indevida ou causar um constrangimento. Temos que nos certificar com as nossas outras tecnologias também — pondera.
Outro fator que precisa ser observado, segundo ele, é o tipo de smartphone que será utilizado e a duração da bateria dos equipamentos, uma vez que, para realizar a varredura, o celular precisa ficar ligado e conectado à internet o tempo todo.
Recuperação de veículos
Na outra ponta da identificação dos veículos roubados está a recuperação desses automóveis. Segundo o delegado Eibert Moreira Neto, diretor da Divisão de Investigação Criminal do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), mais de 70% dos carros roubados em Porto Alegre no mês de abril foram recuperados, em operações conjuntas da Polícia Civil com a Brigada Militar.
— A gente mudou bastante a estratégia de atuação da Delegacia de Polícia de Repressão ao Roubo de Veículos, fazendo um trabalho de investigação preliminar que visa não só coletar informações que nos levem à autoria do roubo, mas também tem por objetivo recuperar os veículos subtraídos. E essa ação, que obviamente é feita em conjunto com a Brigada Militar, tem tido êxito —sublinha.
Para se ter um parâmetro, entre janeiro e novembro de 2015, Porto Alegre registrou 8.632 roubos de veículos. No mesmo período de 2023, houve 1.319 casos, o que representa uma queda de 84% neste tipo de crime. Com o uso do Hórus, a expectativa das forças de segurança é de que Porto Alegre mantenha esse ritmo de redução.