O índice de recuperação de veículos roubados ou furtados em Porto Alegre caiu no primeiro quadrimestre de 2023, em comparação ao mesmo período do ano passado. Em 2022, haviam sido recuperados, entre janeiro e abril, 626 dos 1.305 veículos roubados ou furtados, o que corresponde a 48% de êxito na recuperação. No período atual, o percentual de recuperações ficou em 44%, ou seja: 476 dos 1.078 carros envolvidos nestes crimes voltaram para seus proprietários. Os dados são da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP).
A oscilação de quatro pontos percentuais do dado é algo normal, na avaliação do titular da Delegacia de Roubo e Furto de Veículos (DRV), delegado Newton Martins de Souza Filho. No entanto, ele destaca que quase 50% dos veículos em ocorrência de furto ou roubo seguem sendo recuperados:
— A variação entre um período e outro existe, mas o que temos na verdade é um parâmetro quase constante que demonstra um potencial de recuperação em torno da metade dos veículos roubados ou furtados — analisa.
Se os percentuais de recuperação orbitam próximo da casa dos 50%, isso significa que a outra metade jamais é vista novamente. Conforme o delegado João Vitor Herédia, titular da DRV, uma pequena parte dos não recuperados, sobretudo carros de luxo, é clonada e vendida em outros estados e até em países vizinhos.
— Mas o grande destino dos carros roubados ou furtados que não são reencontrados é o desmanche — explica.
Herédia afirma que uma das frentes permanentes de investigação, descoberta e prisão de criminosos ocorre pela vistoria aos comércios de peças em busca de receptadores. As operações, segundo ele, são rotineiras e resultam na quebra de elos entre o crime e a capitalização dos objetos dele oriundos.
O foco das operações mira Porto Alegre e municípios de sua Região Metropolitana, como Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Gravataí, Sapucaia do Sul e Viamão.
Zona Norte concentra mais de 70% das ocorrências na Capital
De acordo com os indicadores, a área mais crítica da Capital é a Zona Norte, tendo os bairros Sarandi, Rubem Berta, Vila Jardim e Mário Quintana concentrando as ocorrências.
Depois vêm Centro, Moinhos de Vento, Bom Fim, São Geraldo, Farrapos e Navegantes. Somadas, as duas regiões compostas por estes bairros correspondem a mais de 70% das ocorrências de roubo. São lugares com os melhores acessos para entrada e saída da cidade.
Na sequência estão conjuntos de bairros das zonas Sul e Leste. O turno predominante para todas as regiões vai das 15h às 22h, tendo o pico determinado pelos registros das 19h às 20h.
Redução de 64% em furtos e roubos
Apesar do ligeiro declínio nas recuperações, o Rio Grande do Sul tem observado nos últimos anos uma queda acentuada no número de roubos e furtos. Em quatro anos, o recuo nos indicadores chega próximo aos 64% em Porto Alegre. Eram 4.747 ocorrências em 2019. Chegou-se a 1.708 no ano passado.
Para as autoridades, a redução deste tipo de delito se deve fundamentalmente a dois fatores: sofisticação das tecnologias aplicadas à segurança e integração entre forças com emprego inteligente dos recursos humanos e materiais.
— A polícia tem se apropriado de diversas ferramentas inovadoras para enfrentar a criminalidade, mas para este tipo de delito (roubo e furto de veículos) a tecnologia do cercamento eletrônico tem sido o principal diferencial — afirma Souza Filho.
Como funciona o cercamento
O cercamento eletrônico está estruturado em um conjunto de câmeras de videomonitoramento instaladas em pontos estratégicos das cidades, tais como grandes avenidas, vias de acesso a áreas comerciais e a bairros com grandes contingentes populacionais, além do perímetro urbano, suas principais entradas e saídas rodoviárias.
— Cada vez que a autoridade policial recebe a comunicação de um roubo ou um furto de veículo, esta notificação gera um alerta, que é compartilhado e propagado a todas as unidades da Brigada Militar e da Polícia Civil. A partir do alerta, todo o sistema de cercamento fica programado para identificar o veículo por suas características e identificação — aponta o comandante do Policiamento da Capital, coronel Luciano Moritz.
Na prática, o sistema opera como uma cerca virtual, uma espécie de malha tecida pelo conjunto de imagens, a qual envolve o território da cidade. A passagem do veículo classificado no alerta das polícias produz a captura de uma fotografia digital, que é processada e transformada em informação com dados sobre o delito que originou o alerta, incluindo as características do veículo.
Com a informação, a vez da polícia agir
A BM e a PC passam a saber por onde passou, instantes antes da captura da imagem, o veículo implicado em um crime. A partir deste momento, entra em ação o elemento humano.
— Sem a intervenção humana, a tecnologia pode ser insuficiente. É necessário sabermos onde e como distribuir as unidades pela cidade, saber analisar os dados e abastecer de forma eficiente as equipes com a informação relevante — explica Moritz.
A combinação das habilidades, aponta o comandante do CPC, proporciona o cerco aos criminosos em fuga ou em deslocamento para o cometimento de novos crimes com o carro que foi roubado.
— Desta forma construímos o cenário apropriado para uma prisão em flagrante e para outras situações que podem propiciar a recuperação dos automóveis — conclui o coronel da BM.
O que fazer em caso de roubo
A Polícia Civil e a Brigada Militar aconselham a manter a calma, não criar objeções e jamais esboçar reações para que o crime patrimonial não progrida para um latrocínio (roubo com morte).
Após o roubo, a vítima deve comunicar a Polícia o mais rapidamente possível, pelo telefone 190, com o máximo de detalhes possíveis, além de clara descrição do veículo roubado. Denúncias podem ser encaminhadas ao Deic pelo 0800-510-2828.