No fim de junho de 2022, ação do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) prendeu por tráfico de drogas, na zona leste de Porto Alegre, um catarinense, que estava na companhia de uma gaúcha. O preso, que seria membro da principal organização criminosa de Santa Catarina, o Primeiro Grupo Catarinense (PGC), estava no Estado para negociar a venda de entorpecentes com uma facção nascida no Vale do Sinos, Os Manos.
Aquela prisão resultaria numa série de informações que foram levantadas pela Polícia Civil ao longo de meses. Os investigadores descobriram que o preso integrava um esquema muito mais amplo, envolvendo um consórcio que teria sido estabelecido entre esses dois grupos. Diversas vezes, os agentes do Denarc viajaram a Santa Catarina para trocar informações. Esse acerto do crime é alvo da Operação Squadrone, desencadeada nesta quarta-feira (10) em quatro Estados do país — Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo — e que também cumpre um mandado de prisão em Portugal, na Europa.
Um dos intuitos dessa coalizão, segundo a polícia, é facilitar os caminhos para a aquisição de drogas e transportar dentro do país. De Santa Catarina, foram detectadas remessas de cocaína e crack enviadas ao Rio Grande do Sul. Os traficantes faziam o envio por meio de rotas terrestres, usando dois veículos – um batedor, para identificar possíveis barreiras policiais, e o que estava carregado com os entorpecentes.
— Eles traziam as drogas da região norte de Santa Catarina para a região sul, como Araranguá e Criciúma, para depois distribuírem para o Rio Grande do Sul — explica um dos policiais que investigou o consórcio.
De outro lado, a facção gaúcha seria responsável por fazer as remessas de maconha e skank para os catarinenses. Um dos alvos da operação nesta quarta-feira, inclusive, é um preso na Penitenciária de Rio Grande que, mesmo recolhido, segundo a polícia, negociava a venda da droga conhecida como supermaconha para o grupo criminoso. O entorpecente resulta em efeitos potencializados no organismo, em razão da maior concentração de Tetrahidrocanabinol (THC), componente ativo da maconha.
Fortalecimento
A parceria entre as duas facções não se limitava somente ao comércio de drogas. Além do tráfico, a polícia identificou apoio entre os grupos para a aquisição de armas de fogo, no Paraguai. Em conversas telefônicas obtidas pela apuração, os investigados falam sobre a compra de armamentos.
— A gente pode afirmar que as armas, às vezes até as melhores do mundo, armas de ponta, estavam entrando em Santa Catarina e chegando até o RS via Paraná e Foz do Iguaçu — afirma o delegado Rafael Liedtke, da 2ª Delegacia do Denarc.
Parte dos mandados no Paraná foram cumpridos em Foz do Iguaçu, onde os criminosos fariam a aquisição das armas, na fronteira. Em Santa Catarina, os mandados foram cumpridos em diversas cidades, como Balneário Arroio Silva, Balneário Rincão, Balneário Camboriú, Criciúma, Içara, Itajaí, Itapema, Joinville, Navegantes, Penha e Tubarão.
A polícia ainda busca entender desde quando teria se estabelecido essa espécie de consórcio. Parte das informações obtidas pela investigação dão conta de um período de 15 dias, em junho de 2022, no qual conversas extraídas de celulares mostram que os grupos já mantinham as relações bastante estabelecidas. Isso leva a polícia a acreditar que essa união se dava há mais tempo. Somente nesse período de duas semanas, os dois grupos teriam movimentado cerca de R$ 5 milhões em comércio de drogas.
Uma das suspeitas da polícia é de que o grupo catarinense tenha buscado aliança com a facção do RS para buscar se fortalecer, diante do crescimento da presença de outro grupo. Nos últimos anos, houve avanço da facção paulista Primeiro Comando da Capital, no Paraná.
— A gente sabe que eles têm uma rivalidade com esse outro grupo da região sudeste do Brasil, e para manterem ou tentarem lograr o monopólio do tráfico de drogas aqui na região sul do Brasil, principalmente nos Estados de Santa Catarina e do RS, acaba sendo mais fácil essa associação para delitos de tráfico de drogas — analisa Liedtke.
A operação
A Operação Squadrone conta com apoio das polícias civis do Paraná, de Santa Catarina e do Paraná. São cumpridos 31 mandados de prisão e 40 de busca e apreensão, além de 26 bloqueios de contas bancárias. Até as 8h, 23 pessoas tinham sido presas na ação. Entre os alvos da operação, está um investigado por tráfico que foi preso no Vale do Sousa, em Portugal.