Policiais civis gaúchos cumprem mandados nesta quarta-feira (10) em quatro Estados. A ação, coordenada pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), é desencadeada no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e em São Paulo. Entre os alvos da Operação Squadrone, está ainda um português, que tem mandado de prisão cumprido na Europa. A ofensiva tem como objetivo desarticular um esquema envolvendo dois dos maiores grupos criminosos do sul do Brasil. Segundo a polícia, as facções estabeleceram um convênio, que envolve aquisição de armas e drogas, como forma de tentar monopolizar o tráfico de entorpecentes.
São cumpridos 31 mandados de prisão e 40 de busca e apreensão, além de 26 bloqueios de contas bancárias. No Rio Grande do Sul, as ordens se dão em Cachoeirinha, Canoas, Gravataí, Triunfo, Sapucaia do Sul e Rio Grande. No Estado catarinense, onde se concentra a maior parte dos mandados, os alvos são procurados em Balneário Arroio Silva, Balneário Rincão, Balneário Camboriú, Criciúma, Içara, Itajaí, Itapema, Joinville, Navegantes, Penha e Tubarão. A operação ocorre ainda em Foz do Iguaçu e São Miguel do Iguaçu, no Paraná, e em Ribeirão Preto e Itaquaquecetuba, em São Paulo. Até as 7h57min, havia 23 presos.
Os crimes investigados pela polícia são tráfico de drogas, associação para o tráfico, porte ilegal de arma de fogo e comércio irregular de armas e munições. A ofensiva é resultado de uma investigação da 2ª Delegacia de Repressão ao Narcotráfico do Denarc, e conta com apoio de policiais civis de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, além do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Participam da operação cerca de cem policiais do Denarc e de 90 policiais civis dos outros Estados.
A ofensiva tem como alvo uma facção de Santa Catarina e outra gaúcha, nascida no Vale do Sinos e com atuação em todo o Estado. Segundo a polícia, os grupos se uniram nos últimos anos numa espécie de consórcio para obter vantagens no mundo do crime. A investigação teve início em junho de 2022, quando policiais do Denarc prenderam um casal, na zona leste de Porto Alegre. Ainda conforme a polícia, tratava-se de um catarinense, que seria membro do grupo criminoso do outro Estado, que estava junto de uma gaúcha. O investigado estaria tentando realizar uma transação de crack com a facção do Vale do Sinos. A apuração seguiu, em busca de mais informações, e apontou que havia um convênio estabelecido entre esses dois grupos.
— Descobrimos essa coalização entre esses dois grupos, que são os dois principais do narcotráfico do sul do Brasil, com exceção do Paraná — afirma o delegado Rafael Liedtke, responsável pela investigação.
Fora do país
Entre os alvos, está um investigado identificado como um traficante português, que atualmente cumpre pena na Europa. Ele está preso, segundo a polícia, por um caso de violência doméstica, numa casa prisional no Vale do Sousa. O homem, que é naturalizado brasileiro, e chamado de “Portuga” atuava em Santa Catarina, junto de outro investigado por tráfico, também alvo da operação. Ele seria o responsável por fazer a comercialização das drogas em seus perfis em redes sociais. Em 2018, o português chegou a ser preso em Araranguá, com 11 quilos de drogas. Mais tarde, ele foi extraditado para Portugal, mas teria continuado mantendo contato com o grupo de Santa Catarina.
Segundo a apuração, o criminoso mantinha uma vida de luxo, assim como outros investigados. Pelo menos uma transação bancária de três mil euros foi identificada pela investigação. Em apenas 15 dias, os bandidos teriam movimentado mais de R$ 5 milhões com a venda de cocaína e crack, entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os valores, recebidos em espécie, eram destinados para contas de empresas de fachada para os Estados do Paraná e São Paulo, além de uma casa de câmbio de Santa Catarina. Um dos objetivos da operação, segundo o delegado Liedtke, é a descapitalização dos grupos criminosos. Entre as ordens judiciais, há bloqueios de contas bancárias.
Um dos alvos da operação, apontado como um operador financeiro do esquema, foi preso em 2018, por suspeita de lavagem de dinheiro, com R$ 400 mil em espécie, numa ação da Polícia Rodoviária Federal, também em Santa Catarina. Ele estava com um veículo de valor estimado em R$ 300 mil.
Consórcio
Um dos alvos da investigação foi um homem que seria o responsável por fazer a conexão entre as duas facções. Segundo a polícia, as movimentações envolviam o comércio de cocaína, crack e maconha. Apontado como uma das lideranças do grupo de Santa Catarina, o homem acabou assassinado em setembro do ano passado, em Criciúma.
— Essa coalizão, essa associação entre esses dois principais grupos criminosos, tem como objetivo essa tentativa de monopolizar o tráfico de drogas no sul do Brasil. A gente sabe que eles têm uma rivalidade com outro grupo da região sudeste do Brasil e para manterem ou tentar lograr o monopólio do tráfico de drogas aqui na região sul do Brasil, principalmente nos Estados de Santa Catarina e do RS, acaba sendo mais fácil essa associação para delitos de tráfico de drogas — afirma o delegado Liedtke.
Segundo o diretor do Denarc, delegado Carlos Wendt, o trabalho conjunto entre as forças de segurança dos Estados e o apoio logístico fornecido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública foram essenciais para a realização dos trabalhos.
— Destacamos mais um trabalho efetivo da Polícia Civil, através do Denarc na data de hoje. Importante destacar a integração entre as polícias civis do Estado do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná e de São Paulo, que juntas trocaram informações e na data de hoje estão realizando as diligências, prisões, apreensões armas e dinheiro. E também fundamental a participação do Ministério da Justiça, através da DIOP (Diretoria de Operações), que nos forneceu todo apoio logístico e possibilitou essa operação em âmbito nacional — enfatiza.
Denuncie
Informações sobre tráfico de drogas podem ser repassadas ao Denarc-RS pelo telefone 0800-518-518.