A Justiça do Rio Grande do Sul determinou, nesta sexta-feira (16), a suspensão do exercício da medicina pelo cirurgião plástico Leandro Fuchs, investigado pela Polícia Civil por lesões corporais gravíssimas em pacientes após problemas em operações. Além disso, o judiciário gaúcho proibiu o médico de sair de Porto Alegre, onde reside. Ele também teve o passaporte apreendido.
Também nesta sexta, imóveis de propriedade do médico, bem como o hospital onde trabalhava e do qual está afastado, foram alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Civil por determinação judicial. Foram eles:
- Residência onde vive em Porto Alegre
- Apartamento em Capão da Canoa, no Litoral do RS
- Consultório médico
- Hospital Ernesto Dornelles
— O objetivo da ação foi a coleta de documentos, mídia, dados relacionados às pacientes vítimas dessas cirurgias que ele havia feito. Ele é suspeito de crimes de lesão corporal grave a gravíssima. Houve pacientes que ficaram com deformidades permanentes decorrentes das cirurgias. Investigamos, agora, se foi de forma dolosa ou culposa. Dependemos de perícias técnicas. Prontuários médicos e o Instituto-Geral de Perícias vão ajudar a esclarecer — explica o delegado Cléber Lima, diretor da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre
Já foram registradas junto à Polícia Civil 25 queixas, além de haver mais quase 20 processos judiciais contra ele. Oito mulheres contaram terem feito procedimentos com o profissional entre 2020 e 2023: são histórias de procedimentos sendo realizados por médicos residentes, falta de atenção e acolhimento durante a recuperação depois da cirurgia, sangramentos, infecções, mutilações e deformações.
"Só inchaço"
Uma das ex-pacientes de Fuchs, que preferiu não se identificar, conta que consultou com o médico em novembro de 2020.
— Disse que eu ficaria uma Barbie, que tiraria toda a gordura do meu tronco, prometeu que eu ficaria do jeito que eu queria — lembra.
A cirurgia aconteceu em fevereiro de 2021 e custou R$ 25 mil. Para ela, um sonho de 11 anos que se concretizava. Ela viu que tinha algo errado quando foi chamada para a sala de operação: ele não estava lá. As marcações em seu corpo que indicavam os locais em que haveria intervenções foram feitas por uma médica residente.
— Ele apareceu somente quando eu já estava toda riscada e, aí, viu que algumas marcações estavam erradas. Na mesa de cirurgia, ele rabiscou por cima — diz.
Durante alta hospitalar, ela diz que o médico não estava e quem deu a liberação foi a residente. Durante a recuperação, teve complicações, mas ele estava viajando e quem atendeu foram residentes.
— Eles diziam que era só inchaço. Minha lipoaspiração ficou mal feita mesmo após o reparo. Minha cicatriz da abdominoplastia é totalmente torta, parece que foi dado um bisturi com alguém com tremedeira nas mãos. Tive de tatuar nos flancos, pois me atormentava a vergonha de por um biquíni e aquilo aparecer. Meu seio, que ele prometeu ficar no lugar por 10 anos, caiu em seis meses — conta.
Contraponto
Em 16 de janeiro, o cirurgião enviou uma nota à imprensa. Confira na íntegra:
"Exerço a Medicina há aproximadamente 30 anos, sempre tendo pautado os meus atendimentos pelo extremo respeito aos aspectos técnicos e éticos da profissão. Sou especialista em Cirurgia Plástica há mais de duas décadas e, atualmente, além de membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, atuo como regente no Hospital Ernesto Dornelles, onde oriento médicos graduados, com residência concluída em Cirurgia Geral, que estão se especializando em Cirurgia Plástica.
No que diz respeito às matérias veiculadas na imprensa, manifesto a seguinte posição:
i) todo procedimento cirúrgico está sujeito a riscos inerentes e a intercorrências estatisticamente comprovadas pela literatura médica e pela ciência, que são devidamente comunicados e consentidos pelos pacientes;
ii) a plena recuperação depende de diversos fatores, inclusive da rigorosa observância das recomendações médicas para o período pós-operatório;
iii) tirar conclusões precipitadas neste momento se constitui em desrespeito inclusive aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório.
Convicto de que sempre atuei com respeito aos preceitos técnicos, éticos e legais da profissão, estou – e sempre estive – à disposição das autoridades para eventuais esclarecimentos.
Mantenho a convicção de que, ao final de todos os procedimentos investigatórios em curso, a verdade irá demonstrar a exatidão do aqui afirmado por mim.
Porto Alegre, 16 de janeiro de 2024".