O Grupo Carrefour investiu R$ 2,4 milhões na implementação de cerca de 600 câmeras corporais — chamadas de bodycams — para uso de funcionários nas unidades do RS. No Brasil, serão implementados 4 mil equipamentos até o fim do mês com aporte total de R$ 16 milhões.
Os dispositivos serão usados tanto pelos fiscais internos dos hipermercados, supermercados, atacados e clubes de compras, que são contratados diretamente pelo Grupo, quanto pelos seguranças que atuam na área externa, que são terceirizados.
Segundo o diretor executivo de Transformação do Grupo Carrefour Brasil, Marcelo Tardin, os primeiros testes começaram em 2021 em três unidades do RS, entre elas, o hipermercado do bairro Passo D'Areia, na zona norte de Porto Alegre, onde João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, foi espancado e morto por seguranças na noite de 19 de novembro de 2020.
Em 2022, o projeto foi expandido para mais unidades, mas foi em 2023 que a rede decidiu implementar os dispositivos em unidades de varejo, atacado e clube de compras do país. Tardin explica que as câmeras fazem parte de um conjunto de ações voltadas a promover mais segurança e transparência aos clientes e trabalhadores da rede.
— Somos pioneiros, mas esse projeto não é um ato isolado, e sim uma política de inclusão e antidiscriminação. As bodycams nos ajudam a garantir que os nossos profissionais estejam agindo dentro dos nossos protocolos e garantir maior transparência — afirma o diretor.
Funcionamento
Pesando 180 gramas — peso médio de um aparelho celular — o equipamento é utilizado preso junto ao corpo do fiscal de loja ou segurança. O conteúdo gravado em alta resolução fica armazenado durante 30 dias e passa por análise de equipes do Carrefour, para garantir a confidencialidade das imagens, seguindo o que prevê a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Quando o funcionário chega ao estabelecimento, ele retira o dispositivo da base de carregamento e o fixa junto ao corpo. No horário de descanso, ou caso precise usar o banheiro, por exemplo, o trabalhador deve devolver o dispositivo à estação de recarga.
Marcelo Tardin garante que o uso dos equipamentos não deve invadir a privacidade dos colaboradores. Ele afirma que antes da implementação do sistema foram realizados encontros com os funcionários para tratar sobre o assunto.
— Conversamos bastante com os nossos times. Foi uma jornada de implementação. Muitos trabalhadores, inclusive, vieram nos dar feedbacks informando que eles se sentem mais seguros também, porque se uma pessoa for hostil com eles e perceber a câmera vai pensar duas vezes — comenta Tardin.
Trabalho preventivo
Maria Alicia Lima Peralta, vice-presidente de Relações Institucionais, ESG e Comunicação do Carrefour Brasil afirma que após a morte de João Alberto foi necessário rever as políticas de prevenção do grupo. Ela conta que a empresa focou em treinamentos tanto para os novos funcionários, que ainda estão conhecendo a cultura do grupo, quanto em reciclagens para os funcionários em exercício.
— Um pré-requisito que adotamos é de que os novos colaboradores só comecem a trabalhar depois que passem pela qualificação. Entendemos o tamanho que o grupo tem e a responsabilidade que isso representa. Interagimos 15 milhões de vezes com os clientes, praticamente o tamanho da população de São Paulo, por semana. Além do uso das bodycams, também estamos fazendo encontros para tratar da prevenção, do letramento racial, como um funcionário media um conflito em vez de se envolver em um, focando em relações de respeito, sem qualquer rispidez — explica Maria.
Marcelo Tardin acrescenta que esse trabalho do Carrefour está dentro de um contexto de mudança de comportamento e de construção de espaços de inclusão, com política antirracista.
— Não é uma bala de prata, mas é uma forma de promover uma mudança necessária — diz o diretor.