À frente da Associação dos Moradores dos bairros Bela Vista, Boa Vista e Mont’Serrat (Amobela), na zona norte de Porto Alegre, Luiz Felipe Irigaray, 65 anos, é um dos entusiastas de uma aposta da Brigada Militar: a comunicação instantânea entre policiais e moradores. Atualmente, há 131 grupos de WhatsApp ativos na Capital, nos seis batalhões. O principal objetivo do uso do aplicativo é agilizar a troca de informações e ajudar a prevenir possíveis crimes.
— Não tenho dúvidas nenhuma sobre a efetividade. Hoje temos quase 700 integrantes, em dois grupos — afirma Irigaray, que reside no Boa Vista.
Responsável pelo policiamento na região aonde mora o pecuarista, o 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM), ampliou os grupos no último ano, de 28 para 41. O batalhão, atualmente, reúne o maior número de grupos da Capital. O aumento, na visão do comandante, tenente-coronel Daniel Araújo de Oliveira, é reflexo de uma decisão de dar maior atenção às comunidades, não somente por meio do policiamento, mas também da troca de ideias. O aplicativo acaba sendo a forma mais ágil para manter a troca de informações.
— O crime migra, então também temos que nos readequar. Nos aproximamos mais da comunidade, e isso acaba resultando neste aumento. Tivemos algumas reuniões comunitárias no Bela Vista, por exemplo, onde havia preocupação com furtos e arrombamentos em estabelecimentos comerciais. Em novembro, tivemos 30 ocorrências de furto e arrombamento, na área do batalhão. Agora, até dia 17 de dezembro tivemos apenas sete. Se continuar nesse padrão, vamos ter redução de 50% ou mais (na comparação dos dois meses) — exemplifica o oficial.
A ideia não é que a comunicação por WhatsApp substitua a ligação para o 190, pelo contrário. O telefone segue sendo o canal oficial da Brigada Militar para recebimento de ocorrências. Mas pelo grupo as pessoas podem comunicar o fato, depois de acionar o policiamento pelo 190, e repassar outros tipos de informações, inclusive de casos que não seriam registrados. As tentativas de golpe, por exemplo, quando não se concretizam, ainda que possam ser registradas, nem sempre chegam ao conhecimento da polícia. Mas, por meio do grupo, os moradores podem informar a situação, e permitir que o policiamento atue.
— São informações úteis, como fotos, placas de veículos, descrições, que nos permitem fazer uma abordagem, identificar suspeitos — afirma o comandante do batalhão.
O 11º BPM atende ainda bairros como Humaitá, Anchieta, Vila Farrapos, Petrópolis, Chácara das Pedras e Três Figueiras.
QRCode
Em segundo lugar com maior número de grupos, está o 20º BPM, que também atende a zona norte da Capital. Atualmente, são 33 canais de comunicação instantânea entre policiais e moradores. Houve leve aumento em comparação com o ano passado, quando eram 29. Ao todo, o batalhão atende 14 bairros, que concentram uma população de 350 mil habitantes, além de cerca de mais 150 mil que frequentam o local diariamente.
— Quando chegamos aqui, em setembro de 2022, vimos que os grupos estavam mais voltados para que fossem atendidas ou recebêssemos informações de lideranças dos bairros. Optei por abrir o leque maior, de maneira que todas as pessoas que quisessem participaram teriam acesso. Tínhamos entre seis a 10 pessoas (por grupo), e hoje temos mais de 200 — explica o comandante, tenente-coronel Rafael Tiaraju de Oliveira.
Uma das estratégias usadas pelo 20º BPM para conseguir alcançar maior número de participantes é distribuir cartões com QRCode. Quando o morador direciona a câmera, aparece um formulário onde a pessoa se identifica, e clica na sequência em qual grupo deseja ingressar. Quando o bairro possui maior população, como no caso do Sarandi, por exemplo, o serviço é dividido em diversos grupos, por localidade.
— Em primeiro lugar, os grupos são mais uma maneira de as pessoas acessarem a BM. Por ali a gente pode ter uma percepção de como a comunidade está se sentindo, e o que pode fazer para ampliar a segurança daquela comunidade. Num segundo momento, podemos melhorar a gestão. É mais um indicador para poder fazer análise de aplicação de recursos humanos ou material — diz o tenente-coronel.
As entregas dos cartões com QRCode são feitas pelas chamadas patrulhas de bairro, outra iniciativa de policiamento. São guarnições que prioritariamente circulam pelos bairros, fazendo abordagens em áreas como paradas de ônibus, praças, zonas comerciais, próximo de escolas, entre outros. Quando essas patrulham recebem a demanda dos grupos, podem checar.
— Ainda não é uma ocorrência, mas nos permite direcionar nossos esforços. Em dezembro do ano passado, lançamos as patrulhas de bairro. De lá para cá, em todo os meses tivemos redução de roubos de pedestre. O mês de novembro teve menor numero de roubos a pedestres de toda a série histórica. E um programa que tem mostrado resultado — avalia o comandante.
Bairros como Jardim Lindoia, Jardim Itu e Jardim Carvalho apresentaram os menores números de roubos a pedestres em toda a região. No Jardim Lindoia, em todo o mês de novembro, apenas um caso foi registrado. Já no Jardim Itu foram registrados três casos do delito em 30 dias.
Redução de indicadores na Capital
Em suas passagens pelo 26º BPM, em Cachoeirinha, e pelo 9º BPM da Capital, o atual comandante do policiamento de Porto Alegre, coronel Luciano Moritz Bueno, já era um incentivador do uso dos grupos de WhatsApp. Ao longo desse tempo, entende que a iniciativa ganhou a simpatia da comunidade.
— Quando vim para o 9º, tínhamos 72 grupos de bairros, e ajudava muito. Hoje, no CPC, estimulo que os batalhões tenham essa boa prática. A informação rápida antecipa o crime. Nossos policiais estão interligados com os grupos e circula muito rápido a informação. Temos muitos relatos onde conseguimos evitar assaltos, roubos de veículos, roubos a pedestres — afirma.
Cada batalhão define as regras de distribuição dos grupos, se por bairro, localidade ou setor da comunidade (escolar, comercial, bancário, etc). Para o comandante, essa estratégia é uma, entre outras adotadas, que se reflete na redução dos indicadores de criminalidade na Capital. De 1º a 18 de dezembro deste ano, por exemplo, houve redução em Porto Alegre de 24% nos roubos a pedestres (de 543 para 408) e 43% (de 23 para 13) em roubos a estabelecimentos comerciais.
— É um somatório que nos permite estar comemorando as reduções em todos os indicadores. Nos roubos de veículos, nos CVLIs (crimes violentos letais intencionais), como os homicídios, nos roubos a pedestres. O Whats é mas uma das estratégias que faz com que consiga promover essa redução — diz o coronel.
Grupos por batalhão
- 1º BPM – 10
- 9º BPM – 20
- 11º BPM – 41
- 19º BPM – 19
- 20º BPM – 33
- 21º BPM – 08
Total: 131
O que é proibido nos grupos
- Mensagens e cards de bom dia, boa tarde e boa noite
- Manifestações políticas
- Envio de correntes e piadas
- Fazer propagandas comerciais
- Ofender participantes
Orientações
- O grupo não é o canal oficial para informar ocorrências, mas é útil para o repasse de informações.
- Em caso de ocorrências, a orientação é ligar para o 190 para que o atendimento seja imediato. Depois disso, o fato pode ser comunicado pelo grupo.