Um vídeo que passou a circular na última semana levou a Polícia Civil a desencadear nova ofensiva no Condomínio Princesa Isabel, em Porto Alegre. Nas imagens, dois homens aparecem armados na calçada do residencial, fazendo menção a uma facção rival. Na ofensiva desta quarta-feira (29), dois suspeitos foram presos temporariamente: o que fez a filmagem e um dos que aparecem exibindo as armas. A ação é do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc).
Segundo o delegado Rafael Liedtke, responsável pela investigação, no mesmo dia em que teve conhecimento do vídeo, a polícia ingressou com pedido de prisão dos suspeitos.
— Esses indivíduos são de alta periculosidade. Já bastante conhecidos das forças de segurança, da Polícia Civil. Eles ostentam antecedentes por associação criminosa armada, tráfico de drogas, roubo majorada. A gente sabe que nesse condomínio tem muitas pessoas de bem, trabalhadores, crianças adolescentes, e eles portando armas de fogo aqui numa das avenidas mais movimentadas da Capital — afirma o delegado.
Nesta manhã, foram cumpridos três mandados de prisão temporária, além de quatro ordens de busca e apreensão. As prisões foram determinadas pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (seriam pistolas de calibre 9 milímetros), associação criminosa armada, e associação para o tráfico. Um dos alvos, que também aparece com uma arma na mão no vídeo, não foi localizado e está foragido.
— Ali, eles estão guarnecendo uma boca de venda do tráfico. Fazem segurança ali do ponto de tráfico para que não venha a facção contrária — explica Liedtke.
Nas imagens, a dupla exibe as armas para o alto.
— Quero ver os (cita a facção rival) brotar aqui — diz o que grava o vídeo.
— Começou a circular um vídeo com esses indivíduos portando armas e nós entendemos isso como uma afronta. A Polícia Civil não vai admitir esse tipo de situação, indivíduos portando armas como se não houvesse lei. Pelo contrário, o exemplo foi dado de forma eficaz e ágil —diz o diretor do Denarc, delegado Carlos Wendt.
Uma arma de mesmo calibre das que aparecem nas imagens foi apreendida no local durante a operação desta manhã. Ela foi localizada com o homem identificado como sendo o autor do vídeo. Com ele ainda foi encontrado o celular, que teria sido usado para fazer a gravação. O aparelho passará por análise pericial.
— Foi apreendida a pistola utilizada no vídeo, uma pistola 9 milímetros com numeração suprimida. Quando os policiais adentraram o apartamento, a pistola estava pronta para o uso, municiada. Foram apreendidas drogas, crack, porção de cocaína, maconha, além de dinheiro em espécie — diz o delegado Liedtke.
Prisão domiciliar
O homem preso por suspeita de gravar o vídeo estava em prisão domiciliar, segundo a Polícia Civil. Ele não foi encontrado no apartamento no qual estava registrado seu endereço e sim em outro imóvel no mesmo residencial.
— Ele estava cumprindo pena no local e ao mesmo tempo praticando ações criminosas. Fizemos uma ação cirúrgica no local, conseguindo prender dois indivíduos. A Polícia Civil continuará atenta a esse tipo de situação. Não iremos tolerar esse tipo de afronta — diz o diretor do Denarc.
As imagens foram gravadas durante a madrugada na Avenida Princesa Isabel, em frente ao condomínio de mesmo nome. O residencial fica a poucas quadras do Palácio da Polícia e já foi alvo de diversas operações contra o tráfico. O local, no entanto, continua sob domínio de organizações criminosas.
— Esse condomínio já é bem conhecido, onde infelizmente continua ocorrendo o tráfico, embora várias ações já tenham sido realizadas. Tem muitas pessoas de bem lá dentro, grande maioria, e isso que nos preocupa. Essas pessoas não podem ficar a mercê desses criminosos. A gente sabe que grande parte é uma população de bem, que não concorda com essas ações — afirma Wendt.
— A Polícia Civil está atenta a todas esses movimentos, inclusive nas redes sociais, e vamos tomar providências todas as vezes que tivermos indicativos de algum crime que necessite ser investigado. Tivemos pouco mais de uma semana entre a divulgação do vídeo e a deflagração da operação — completa o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré.
Um dos pontos destacados pela polícia nos pedidos de prisões encaminhados ao Judiciário foi justamente o fato de esse tipo de ação gerar risco a outras pessoas, sem qualquer envolvimento com o crime organizado.
— Embora o vídeo seja de madrugada, ali se sabe que durante o dia naquela calçada passam trabalhadores, adolescentes, crianças. É um risco. O Judiciário, também atento isso, deferiu nosso pedido — afirma o delegado.
Colabore
Quem tiver informações que possam contribuir com investigações contra o tráfico de drogas pode entrar em contato com o Denarc pelo telefone 08000518518. É possível fazer isso de forma anônima.
Líder foragida
Apontada como uma das lideranças do tráfico de drogas no Condomínio Princesa Isabel, em Porto Alegre, Jurema Cristina Marques Perez, a Tina, foi alvo de mandado de prisão durante a Operação Heres, no último dia 14 - que resultou também na prisão de uma ex-estagiária do Tribunal de Justiça do RS por suspeita de vazar informações sobre processos aos criminosos.
Segundo a Polícia Civil gaúcha, agentes do Rio de Janeiro tentaram prender Tina, mas ela conseguiu escapar, após arremessar o veículo contra os policiais, que haviam descido da viatura para tentar abordá-la. Conforme a investigação, a mulher vivia num condomínio de alto padrão na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde também é proprietária de empresas. Mesmo distante, Tina ainda seria responsável por coordenar o tráfico no condomínio em Porto Alegre, por meio de familiares.
Uma filha dela foi presa na mesma operação, num condomínio de alto padrão em Gravataí, na Região Metropolitana. Ela recebeu direito à prisão domiciliar. O genro da líder também foi preso no aeroporto de Campinas, em São Paulo, enquanto se preparava para embarcar para Paris, na França. Segundo a polícia, o homem residia com a mulher em Gravataí, na Região Metropolitana. Ele e a companheira são apontados como gerentes do tráfico.
A mulher foragida é ex-companheira de Renato Fao Gambini, encontrado morto com sinais de infarto na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) em novembro do ano passado, onde cumpria pena. O preso era considerado sucessor do traficante Alexandre Goulart Madeira, o Xandi, executado a tiros de fuzil em 2015, enquanto fazia churrasco em uma casa alugada a uma quadra da orla de Tramandaí, no Litoral Norte. Após a morte do companheiro, conforme a investigação, ela teria se tornado uma das lideranças do tráfico no residencial.