Os últimos movimentos do agricultor de Três Coroas Selívio Colombo, 66 anos, desaparecido desde 13 de julho, permanecem um mistério. Mesmo tendo realizado mais de duas dezenas de incursões em uma extensa área de vegetação cerrada e com desafiadoras variações de relevo, a investigação coordenada pela Polícia Civil ainda não obteve êxito em localizar sinais dos últimos passos dele.
— Continuamos buscas em campo. A gente não pode descartar a possibilidade de ele estar vivo, que tenha ficado desorientado, tenha sido acolhido ou mesmo que se manteve afastado por vontade própria. Contudo, a possibilidade mais plausível, após profundo trabalho e investigação é que tenha ocorrido a morte do senhor Selívio em razão de desorientação seguida de inanição ou hipotermia — indica o responsável pelo caso, delegado Ivanir Caliari.
O delegado explica que a polícia realizou um minucioso levantamento da área, demonstrado no inquérito através de fotos extraídas de registros de satélite. O material exibe a amplitude do território implicado nas buscas.
— Foram mais de 20 incursões ao cenário das buscas e conseguimos cobrir parcialmente esta porção de terra, tamanha a imensidão da área. Tivemos o apoio de voluntários que conhecem o terreno e também contamos com o serviço especializado dos cães treinados pelo Corpo de Bombeiros — pontua.
Caliari destaca que a polícia também aplicou estratégias de busca sob a hipótese de Selívio estar morto.
— Parte destas incursões ocorreram sob indicação da existência de cadáveres na região envolvida, com base, por exemplo, no apontamento de moradores sobre a presença de aves necrófagas, que se alimentam de restos mortais — comenta.
Quebra do sigilo bancário não revela movimentação
O delegado acrescenta que no campo da apuração técnica, foram ouvidos depoimentos de diversas testemunhas, tendo acessado o conjunto possível de familiares, conhecidos e vizinhos do agricultor. Além disso, houve quebra de sigilo bancário.
— Realizamos varredura nas contas dele e não houve nenhuma movimentação suspeita. A última operação ocorreu em 7 de julho, dias antes do desaparecimento, com o saque integral do benefício previdenciário. Não há nada que inspire a suspeição de utilização indevida do cartão do senhor Selívio por terceiros ou que indique a localização dele em outro município — relata.
Caliari revela que a investigação localizou outra conta em nome do agricultor, diferente daquela vinculada à aposentadoria, e também não identificou movimentação posterior ao sumiço.
Perícia examinou vestígios de sangue na residência
O delegado Ivanir Caliari conta ainda que foi designada uma diligência realizada para exames do Instituo-Geral de Perícias (IGP) na propriedade, envolvendo a casa e o galpão onde estão as ferramentas de trabalho do agricultor.
— Era uma necessidade vasculhar se havia algum indício de morte por assassinato, acidente ou ataque de um animal. Utilizamos a técnica do luminol (produto reagente a vestígios de sangue humano), que somente reagiu na pia do banheiro da casa, o que é comum nos pequenos acidentes domésticos, o que nos fez desacreditar na hipótese de morte decorrente de violência — reporta Caliari.
Sem novos elementos, inquérito deverá ser concluído
Para o delegado, as alternativas de investigação estão próximas de se esgotar. Segundo ele, caso não surjam novos elementos de investigação nas próximas semanas, o inquérito será concluído e remetido ao Poder Judiciário apontando o desaparecimento e o insucesso nas buscas.
— Vamos promover o fechamento do relatório do inquérito para que o Judiciário e o Ministério Público tenham conhecimento sobre a totalidade das apurações. Para que possam analisar e, eventualmente, requisitar alguma providência que considerem ser possível de ser realizada com o apoio da Polícia Civil — define.
Persistência no sumiço reforça hipótese de desorientação
Diante da persistência do desaparecimento de Selívio Colombo, a Polícia Civil passa a fortalecer o entendimento de que o idoso tenha se perdido, sendo vítima de desfecho trágico decorrente de desorientação.
— Temos um território caracterizado pela vastidão e densidade da mata. São milhares de hectares. O corpo dele pode estar perdido em algum lugar ali, após ter sofrido uma hipotermia tentando achar o caminho de volta e não conseguindo — analisa o delegado.
Caliari aponta como agravantes a idade avançada de Selívio e eventuais condições adversas de saúde relacionadas ao envelhecimento.
— A gente questionou com a família, durante a investigação, se ele tinha diagnosticado Alzheimer ou algo do tipo. Embora não tenham esta informação de forma precisa, familiares reportaram comportamentos que sugerem esta possibilidade, como desorientação, muitas lembranças do passado, esquecer e repetir um assunto que recém tinha falado — explica.
Em abril, agricultor já havia dado susto em familiares
Em abril, Selívio Colombo havia ficado ausente e foi considerado desaparecido. A Polícia foi notificada pela família. O idoso foi encontrado três dias depois andando em uma estrada de saibro próximo da sua propriedade.
— Ao ser indagado, minimizou a situação de estar perdido. Mas ele não estava sendo localizado, nem no local onde reside com a esposa e filhos, nem na propriedade onde mantém produção rural perto da residência — lembra o delegado.
Para Ivanir Caliari, este desaparecimento do mês de abril vem a corroborar com esta situação posterior, em julho.
— Ele provavelmente se perdeu e, naquela ocasião (abril), por não ser frio, o senhor Selívio conseguiu resistir na mata e recuperou a capacidade de orientação, tendo encontrado uma estrada e sendo localizado por uma equipe de voluntários que auxiliava nas buscas. Na atual ocasião, por ser julho, ápice do inverno e período de extrema chuva, estamos acreditando que ele veio a se perder. Era final de tarde, escureceu e ele não teve mais êxito em encontrar a estrada — conclui o delegado.
Apoio da comunidade
Para apoiar as autoridades com informações, o telefone é o da Delegacia de Três Coroas pelo telefone 51 3546-1190.