A principal linha de investigação por trás de um confronto que resultou em cinco mortos e um preso na última semana em Porto Alegre é de que o grupo envolvido no tiroteio com a Brigada Militar estava se organizando para atacar uma facção rival. A troca de tiros aconteceu numa casa no bairro Mario Quintana na terça-feira (26). O episódio, investigado pela 5ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), está relacionado aos conflitos recentes entre criminosos na zona norte da Capital.
Os fatos que culminaram com esse confronto, segundo a polícia, tiveram início cinco dias antes. No fim da tarde de 21 de setembro, um homem foi executado a tiros dentro de casa na Rua das Camélias. A vítima foi identificada como Leo Michael Correa dos Reis, 32 anos. Três criminosos armados invadiram o local e dispararam contra o homem, atingido nas costas e na cabeça.
No mesmo dia, cerca de duas horas depois, também no bairro Mario Quintana, uma mulher morreu e um homem foi baleado em outro ataque a tiros, na Rua Manoel Marques.
Após a identificação do grupo que entrou em confronto com a Brigada Militar na noite da terça-feira (26), a polícia descobriu que entre os cinco mortos estavam um homem com prisão preventiva decretada. Ele tinha sido apontado na semana anterior como suspeito de ser um dos atiradores envolvidos no assassinato da Rua das Camélias.
— Essa morte da quinta-feira (dia 21) foi a primeira, foi o start dessa guerra. Ainda no plantão já tínhamos pedido a prisão dele, após ele ser identificado como um dos autores — afirma o delegado Daniel Queiroz, titular da 5ª DHPP.
Até o momento, os nomes dos mortos no confronto com a BM não foram divulgados. Segundo a polícia, eles tinham histórico de envolvimento com o crime. Dois dos mortos tinham 21 anos, um deles com antecedente por receptação e porte ilegal de arma de fogo e outro por roubo, tráfico de drogas e também porte ilegal. Morreram ainda no tiroteio dois adolescentes de 17 anos e um homem de 25 anos. Este último, com antecedentes por tráfico de drogas e roubo, era o que tinha a prisão decretada pelo homicídio do dia 21 de setembro.
Um sexto suspeito, de 24 anos, com antecedentes por roubo, receptação, porte ilegal de arma de fogo e dois homicídios, foi preso.
— Não é coincidência que um dos mortos já estivesse com prisão preventiva decretada e o sobrevivente ser alguém que já vinha sendo investigado. A linha da investigação mais forte é de que eles pretendiam fazer um ataque contra outros criminosos ali no bairro — diz o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.
Esse ataque que não chegou a se concretizar está no contexto de um conflito que vem sendo investigado na Zona Norte. Uma das situações apuradas é que houve uma espécie de "golpe de Estado" dentro da facção que domina o tráfico no bairro Mario Quintana. Uma das lideranças teria decidido tomar para si alguns pontos de comércio de drogas. A polícia investiga se há participação de outro grupo criminoso nesse racha.
A casa onde aconteceu o tiroteio, segundo a polícia, estaria sendo usada pelo grupo para se reunir antes de seguir para o local onde atacariam os desafetos.
— Eles partiriam dali para um ataque na Zona Norte certamente contra a facção rival — diz o delegado.
Dinâmica dos fatos
Sobre o confronto que resultou em cinco mortos, segundo a polícia, o caso é investigado como legítima defesa por parte dos policiais militares. A equipe do 20º Batalhão de Polícia Militar relatou que chegou até o local, na Rua Recife, após informações de que criminosos armados estavam circulando pela região. Os policiais afirmaram ter visto um dos atiradores por uma janela de vidro, armado com um fuzil.
— A arma que eles estavam usando na contenção, o fuzil, é um armamento que perfura colete à prova de balas, perfura viaturas. É uma arma muito potente. Os policiais militares correram risco alto de vida. E eles (os criminosos) poderiam causar uma série de assassinatos com esse armamento — afirma Souza.
Os policiais relataram que houve troca de tiros e que eles ingressaram na casa, em meio ao tiroteio. Quatro homens foram mortos dentro da residência. Um quinto ficou ferido, e faleceu mais tarde, durante atendimento médico.
— Quando os policiais subiram para o segundo andar, um sexto estava rendido, já no chão — diz o delegado Queiroz.
Este homem foi preso em flagrante e segue sendo investigado por tentativa de homicídio contra os policiais. A investigação ainda aguarda o resultado de perícias.
Apreensões
Além do fuzil de calibre 5.56, foram apreendidos dentro da casa cinco pistolas de calibre 9 milímetros e uma espingarda calibre 12. Também foram encontradas 111 munições para fuzil de calibre 5.56, 134 munições de calibre 9 milímetros e 15 munições calibre 12. Ainda foram apreendidos quatro carregadores de pistola, um carregador de fuzil, uma câmera de vigilância e 332 pedras de crack.
Outros episódios
- 21 de setembro — Duas pessoas são mortas a tiros com cerca de duas horas de diferença no bairro Mario Quintana. O primeiro ataque aconteceu na Rua das Camélias, onde um homem foi executado, e o segundo na Rua Manoel Marques onde uma mulher foi morta a tiros e um homem ficou baleado.
- 22 de setembro - Nos bairros Mario Quintana e Costa e Silva uma operação da Brigada Militar e da Polícia Civil resultou em 28 pessoas presas e 25 armas apreendidas. Três fuzis, três submetralhadoras, duas espingardas calibre 12 e 16 pistolas estão entre os armamentos encontrados. Segundo a BM, os presos eram integrantes de pelo menos dois grupos criminosos, um com berço na Vila Cruzeiro, na Zona Sul, e outro criado no bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital.
- 26 de setembro - Os policiais encontraram dentro de outra casa uma pistola, carregadores, munições, coletes à prova de balas e fardas (estilo militar), que costumam ser usadas pelos "soldados" do tráfico. Neste caso, o homem que estava no local conseguiu escapar.