Na noite de quarta-feira (4), Rodrigo Vargas da Silva, 23 anos, saiu de casa para assistir ao jogo de volta das semifinais da Libertadores entre Inter e Fluminense em um bar do bairro Cavalhada, na zona sul de Porto Alegre. Ele não retornaria com vida para casa.
Rodrigo foi alvejado com diversos disparos de arma de fogo enquanto assistia à partida dentro de um bar na Rua Professor Jorge Bahlis. De acordo com a Polícia Civil, um homem entrou no estabelecimento e atirou contra o jovem, que morreu no local. As outras pessoas que estavam no bar não ficaram feridas.
Segundo o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Mario Souza, a Polícia Civil trata o caso como prioridade. Ele explica que, no momento, a principal linha de investigação é de que o assassinato tenha relação com o crime organizado e que Rodrigo fosse o alvo do ataque.
Souza explica que, ao longo da investigação, foram realizadas perícias e ouvidas três testemunhas. Após análises de imagens de videomonitoramento da região, a polícia descartou a hipótese de briga, que havia sido considerada em um primeiro momento.
Conforme o delegado, um homem chegou ao local por volta de 22h e efetuou de 10 a 15 disparos que acertaram a vítima na cabeça, no tronco e nas costas. A polícia suspeita que outra pessoa tenha auxiliado no deslocamento do assassino.
— O caso é tratado como prioridade, independentemente da motivação, porque foi em uma área onde não costuma ocorrer este tipo de ataque. A investigação já avançou bastante. Acredito que em duas semanas devemos ter uma atualização mais concreta — diz o diretor da DHPP.
Souza frisa que a polícia busca identificar os executores e, também, quem encomendou o crime.
— Nosso interesse principal é identificar o executor, quem auxiliou no deslocamento e, principalmente, quem foi o mandante dessa morte. Se comprovar que há facção envolvida, queremos responsabilizar as lideranças dessa organização criminosa — ressalta.
Morador da área rural da Zona Sul
Filho do bombeiro militar aposentado Josué da Silva e da professora Selenia Vargas da Silva, Rodrigo morava na área rural da Zona Sul, onde auxiliava o pai com sua criação de equinos. Além dos pais, ele deixa uma irmã mais nova e os sobrinhos, um casal de gêmeos aos quais era muito apegado.
A cerimônia de despedida de Rodrigo ocorreu na manhã de sexta-feira (6), no Cemitério João XXIII, na Capital. Amigo da família há muitos anos, o farmacêutico bioquímico e servidor público Francisco Isaias, 58, lamentou a morte do rapaz.
— Era um jovem que estava sempre alegre, muito alto astral, se relacionava bem com a sua família. Um cara super de bem com a vida. O pai sempre sonhou que ele tivesse a carreira jurídica ou militar. Ele até iniciou um curso superior, mas agora estava se dedicando a ajudar o pai no sítio — conta Isaias.
Militante do Movimento Negro do RS, Isaias afirma que o assassinato de Rodrigo é fruto do racismo estrutural que há na sociedade brasileira. Ele pontua que as mortes de negros da periferia no Brasil se somam às estatísticas de violações de direitos das populações mais vulneráveis.
Ele também questiona a atenção que a sociedade e a mídia dedicam às mortes de pessoas brancas com maior poder aquisitivo, como o caso dos três médicos assassinados a tiros na orla da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, na quinta-feira (5).
— As políticas públicas estão muito distantes das parcelas mais vulneráveis, como pessoas pobres, negras, mulheres e crianças. Estamos à mercê da violência. O que ocorre é um genocídio da juventude negra brasileira. A minha manifestação é voltada àqueles que têm responsabilidade de constituir as políticas públicas do Estado. Sei que hoje temos a primeira mulher negra presidente do Tribunal de Justiça, mas isso tem que ir além de colocar uma negra ou um negro no poder. Temos que ter mais juízes, promotores e delegados negros — sublinha.
Como denunciar
Quem tiver informações que possam ajudar a desvendar o caso pode denunciar de forma anônima à Polícia Civil ligando para o telefone 0800-642-0121 ou pelo WhastApp da DHPP pelo (51) 98416-7109.