Quando se aproximaram de uma casa de dois andares no bairro Mario Quintana, na noite de terça-feira (26), policiais do 20º Batalhão de Polícia Militar de Porto Alegre avistaram por uma larga janela de vidro no alto do imóvel um criminoso empunhando uma arma longa. Era um fuzil de calibre 5.56. Segundo a Brigada Militar, assim que perceberam que os PMs estavam ali, houve uma saraivada de tiros. Durante o confronto, cinco homens que estavam nesta casa morreram e um sexto foi preso.
Além do fuzil, foram apreendidos dentro da casa cinco pistolas de calibre 9 milímetros e uma espingarda calibre 12. Também foram encontradas 111 munições para fuzil de calibre 5.56, 134 munições de calibre 9 milímetros e 15 munições calibre 12. Ainda foram apreendidos quatro carregadores de pistola, um carregador de fuzil, uma câmera de vigilância e 332 pedras de crack.
O homem de 24 anos, preso no local, foi autuado por tentativa de homicídio contra os policiais. Segundo a polícia, ele tem antecedentes por homicídio doloso, receptação de veículo, porte ilegal de arma de fogo e roubo.
Até o início da tarde desta quarta-feira (27), somente um dos cinco mortos estava identificado como um homem de 21 anos, com antecedentes criminais por receptação, porte ilegal de arma de fogo, tráfico de entorpecentes, roubos e outros antecedentes. O nome dele não foi divulgado.
Tensão
A presença desse grupo armado, que gerou o confronto com mortes no bairro Mario Quintana é mais um dos episódios envolvendo novos conflitos que têm tensionado a região nos últimos dias. A polícia apura qual a origem desse desacerto. Nesta quarta-feira (27), foi realizada operação de combate aos homicídios nesta mesma região, mas o pano de fundo dessas mortes não é o mesmo. Trata-se de um novo conflito.
— O que sabemos até agora é que houve uma espécie de "golpe de Estado" dentro da facção no Mario Quintana. Uma liderança ou um conjunto de lideranças teria pego uma parte (da área) só para ela. Existem diversas linhas de investigação para entender como esse golpe ocorreu. Criminosos estão sendo investigados para montarmos esse quebra-cabeça — explica o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Mario Souza.
O primeiro fato que chamou a atenção foi a execução de duas pessoas na quinta-feira da semana passada. As mortes aconteceram com cerca de duas horas de diferença, também no bairro Mario Quintana. Neste caso, segundo informações apuradas pela inteligência da BM, os alvos seriam integrantes da facção que historicamente domina o tráfico na região. Causou estranheza que essas pessoas tenham sido mortas dentro de uma área que pertencia ao grupo. Isso fez os policiais suspeitarem que outro grupo poderia estar tentando tomar território ali.
O receio de que um novo conflito pudesse estar se formando na região levou a uma operação de saturação da área. No dia seguinte, nos bairros Mario Quintana e Costa e Silva uma operação da Brigada Militar e da Polícia Civil resultou em 28 pessoas presas e 25 armas apreendidas. Três fuzis, três submetralhadoras, duas espingardas calibre 12 e 16 pistolas estão entre os armamentos encontrados. Segundo a BM, os presos eram integrantes de pelo menos dois grupos criminosos, um com berço na Vila Cruzeiro, na Zona Sul, e outro criado no bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital.
Apreensões
Na tarde de terça-feira, na mesma região, os policiais encontraram dentro de outra casa uma pistola, carregadores, munições, coletes à prova de balas e fardas (estilo militar), que costumam ser usadas pelos "soldados" do tráfico. Neste caso, o homem que estava no local conseguiu escapar.
— Só na Brigada Militar de sexta para cá, temos 43 presos, 37 armas apreendidas e nove coletes. E mais ainda as prisões da Polícia Civil. A Zona Norte está com reforço de toda a Capital. Cada batalhão de Porto Alegre está contribuindo com viaturas e policiais. Estou empregando 24 horas ali na Mário Quintana — afirma o comandante do 20º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Rafael Tiaraju de Oliveira.
A polícia continua apurando quem são os envolvidos em cada um desses episódios. Uma das suspeitas é que outro grupo criminoso possa estar envolvido na disputa, e tomado ou auxiliado a tomar parte do território no Mario Quintana.
— Nosso objetivo é barrar as mortes que possam acontecer fruto desses conflitos e aprofundar as investigações para esclarecer tudo que aconteceu. Se for detectada a presença de criminosos de outras facções eles vão ser responsabilizados, tanto os executores, como principalmente as lideranças — diz o delegado Souza.
Homicídios na região
A Zona Norte ainda é a região que concentra a maior parte dos homicídios em Porto Alegre. Isso também se constata quando olhamos para os crimes com mais de uma morte num período mais longo. Das 22 chacinas registradas desde 2019 na Capital, 12 delas ocorreram nessa área e resultaram em 39 mortes.
— Nos últimos três meses, a zona norte de Porto Alegre estava com uma queda bem acentuada em homicídios. Foram meses muito bons. Esse mês vai haver aumento, até em razão desse conflito, dos confrontos armados. Tanto a BM como a Polícia Civil estão mobilizadas para reestabelecer a ordem pública na zona norte da Capital e isso vai acontecer. Nós vamos reestabelecer a ordem na região — afirma o comandante Tiaraju.