A Polícia Civil do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, além do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP), realizaram uma operação nesta terça-feira (29) com o cumprimento de 132 ordens judiciais, sendo 65 de prisões, em 18 municípios dos dois Estados. O objetivo foi desarticular um esquema de tráfico de drogas em que dois empresários de Torres monopolizaram as ações em cidades da região.
Além dos empresários, o detento, que seria o gerente do grupo criminoso, teve mais um mandado de prisão cumprido contra ele na cadeia. Foram presos também um advogado criminalista que atuava para o grupo, suspeito de guardar armas para esta célula de uma facção gaúcha, e também um dos principais executores que agia para os líderes. Ambos foram detidos em Torres. Até as 14h, a polícia contabilizava 54 detidos.
Na casa do advogado foram apreendidas 16 armas e munição. No total, foram 43 armas apreendidas.
A polícia divulgou uma série de áudios que revelam o funcionamento do grupo criminoso, como agiam contra os desafetos e a forma de acerto para a venda das drogas e de armas. Em uma primeira gravação, segundo a polícia, o advogado — que não teve o nome divulgado, assim como os outros investigados — combina a entrega de armas com o gerente do tráfico.
Em outro áudio, o suposto gerente do tráfico fala com um dos executores dos cinco homicídios comprovados. O homem diz que não pode perder a oportunidade porque procurava o alvo, a mando dos empresários, há seis meses.
Outra gravação mostra que um dos criminosos conseguiu matar os desafetos da quadrilha, geralmente traficantes que não aceitavam repassar porcentagem das vendas para o grupo supostamente liderado pelos dois empresários que monopolizaram o tráfico na região. Os suspeitos usavam roupas idênticas às da polícia e se passavam por policiais para abordar as vítimas, geralmente utilizando espingardas calibre 12 ou pistolas austríacas. No áudio, o gerente pergunta para o executor se ele gravou um vídeo.
Em outro áudio, o suposto gerente explica para vendedores de drogas como funciona o tráfico que estaria coordenando a mando dos irmãos empresários.
A Polícia Civil destacou ainda que os criminosos tinham como norma gravar pesagens de drogas, chegadas de armamentos e munições e até mesmo assassinatos. O objetivo era comprovar que as ordens da cadeia eram efetivamente cumpridas pelos integrantes da quadrilha que estavam na rua.
— Eles faziam isso sempre para mostrar para o patrão que a ordem foi realizada. Então, ele dá a ordem e tem que fazer. E tem várias imagens de pesagem de droga. E homicídios, é a mesma coisa. Quando não filmam, eles mandam um áudio — afirma o delegado Marcos Veloso, de Torres, um dos responsáveis pela apuração.
Também foi preso um ex-policial militar, em Porto Alegre, investigado por suspeita de fornecer munição para os criminosos e por coordenar suspeitos para fazer a segurança em pontos de venda de drogas. Em uma das gravações obtidas pela polícia, suspeitos negociam compra de munição e placas veiculares clonadas.
Um homem ainda foi detido em Alvorada por ser suspeito de fabricar e vender placas veiculares clonadas para os criminosos. O titular da 2ª Delegacia do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Rafael Liedtke, diz que o gerente — o apenado — também seria responsável por cooptar pessoas para o tráfico. Um último áudio revela como um dos supostos executores impõem o medo na região após dominarem o tráfico.
Os suspeitos são investigados por tráfico de drogas, associação para o tráfico, posse ilegal de arma e munição, corrupção de menores e homicídios.