Os quatro presos apontados como responsáveis pelo assassinato do médico gaúcho Gabriel Paschoal Rossi, 29 anos, em Dourados, no Mato Grosso do Sul, se tornaram réus. Elas irão responder na Justiça pelo homicídio qualificado consumado, tortura e furto qualificado — por terem subtraído o celular da vítima. O crime foi motivado, segundo a investigação, por uma dívida que Rossi estava cobrando de um dos acusados, de R$ 500 mil.
O médico foi encontrado morto no dia 3 de agosto, com mãos e pés amarrados, em uma casa em Dourados, a 232 quilômetros de Campo Grande. Ele havia sido visto com vida pela última vez em 26 de julho, ao deixar o plantão de um hospital onde atuava.
Os acusados são Gustavo Kenedi Teixeira, 27 anos, Keven Rangel Barbosa, 22, e Guilherme Augusto Santana, 34. Junto deles, também vai responder pelos crimes Bruna Nathalia de Paiva, 29, apontada pelo trio como a mandante do crime. O grupo foi preso em 7 de agosto e segue detido, segundo a polícia.
A denúncia do Ministério Público de Mato Grosso do Sul foi aceita pelo juiz Ricardo da Mata Reis, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Dourados, e a decisão foi divulgada na segunda-feira (28). O processo corre em segredo de Justiça.
Conforme a investigação, o médico e a ré Bruna se conheciam havia algum tempo e atuavam em um esquema ilícito em que aplicavam golpes de transações. A mulher seria a responsável por comandar o esquema, do qual o gaúcho faria parte. Segundo a Polícia Civil, Bruna tinha uma dívida de R$ 500 mil com o médico em razão dessas fraudes, e o homem estaria cobrando o pagamento. Essa teria sido a motivação para o assassinato, de acordo com as autoridades.
Bruna "não estava disposta a repassar o valor cobrado pelo médico, e este ameaçou entregar o esquema criminoso, pois detinha elementos para tanto. Assim, temendo ser descoberta, a acusada tomou a decisão de ceifar sua vida", diz o MP.
Em depoimento, os três homens, agora réus, afirmaram que foram contratados por Bruna para cometer o crime. Residentes da cidade de Pará de Minas, em Minas Gerais, os quatro viajaram até Mato Grosso do Sul. No caminho, teriam cruzado a fronteira até o Paraguai e adquirido duas armas de airsoft.
"Dessa forma, (Bruna) premeditou o delito, elaborou uma trama criminosa complexa, a qual acompanharia de perto, para garantir o sucesso do evento", pontua o MP.
Esquema de golpes
Segundo o delegado Erasmo Cubas, Rossi integrava o esquema, que consistia em utilizar cartões clonados e fazer saques com documentos adulterados. Essas informações teriam sido obtidas por meio de depoimentos de pessoas próximas ao médico. A mulher seria a responsável por fornecer os documentos que ele usava para fazer os saques.
O policial diz que o médico repassava o dinheiro obtido com os benefícios ao grupo criminoso. Ele supostamente mantinha contato com Bruna desde o período em que era universitário. Rossi se formou em março em Medicina.
— Ele não tinha timidez para narrar para os amigos e para as pessoas conhecidas, dentre elas algumas testemunhas, que utilizava cartões clonados. Bem como ele também fazia saques de benefícios no banco de pessoas mortas, que tinham valores a receber. E que isso acontecia por meio de documentos falsos — explicou o delegado, em entrevista a Rádio Gaúcha, no dia 10.
Em relação a Bruna, o delegado afirmou que ela mantinha uma loja, enquanto seguia comandando os golpes, em Pará de Minas, na região metropolitana de Belo Horizonte. Sobre a relação entre ela e o médico, o policial afirmou, na época da investigação, que os dois tinham certa confiança um no outro.
Emboscada e tortura
A investigação indica que o médico foi morto em emboscada. De acordo com a polícia, a mando de Bruna, Gustavo entrou em contato com Rossi alegando que buscava o contato de um fornecedor de drogas que ele teria. Os dois teriam marcado de se encontrar em uma casa alugada, em Dourados — cidade em que o gaúcho morava. A residência foi locada por meio de um aplicativo, pelo período de 15 dias.
No local, os três homens, agora réus, aguardavam por Rossi, que teria sido rendido com as armas falsas ao chegar. Ele foi amarrado com fios na cama e asfixiado, até perder a consciência. Antes disso, teria tentado reagir, mas foi agredido na cabeça e no pescoço.
Segundo o relato dos três homens, quando deixaram a casa, acreditavam que o médico já estava morto. No entanto, a perícia indicou que a vítima pode ter morrido somente 48 horas depois dos ataques, já que o corpo não apresentava sinais de que a morte tivesse ocorrido naquela data.
A ligação de uma vizinha da residência alugada ajudou os investigadores a localizarem a vítima. À polícia, ela relatou um odor desagradável e a presença de um carro — um HB20, de Rossi — parado no local havia uma semana. O veículo estava estacionado em frente à casa.
Na residência, o corpo dele foi encontrado sobre a cama, dentro do quarto. O cadáver já estava em decomposição, indicando que a morte teria ocorrido dias antes. Segundo o MP, "após terem torturado" o médico, o grupo também subtraiu um celular da vítima, um Iphone 11.
"O crime foi perpetrado mediante dissimulação e recurso que dificultou a defesa da vítima", uma vez que Rossi "foi atraído até o local onde se encontravam os algozes, em superioridade numérica, rendido com as armas de pressão e imobilizado".
Quem era o médico
Natural de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, Rossi era formado em Medicina pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
Ele trabalhava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), na Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul (Cassems) e no Hospital da Vida. Após a confirmação da morte do médico, o Hospital da Vida publicou uma nota de pesar manifestando solidariedade aos familiares e amigos de Gabriel.
Contraponto
GZH questionou o Ministério Público do MS sobre quem são os advogados que defendem os quatro réus, para solicitar contraponto, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
O TJ daquele Estado afirmou que não pode divulgar os nomes dos advogados porque o processo tramita em segredo de Justiça.