A Polícia Civil recebeu nesta quinta-feira (24) novos depoimentos de supostas vítimas na investigação do caso da Imobiliária Menino Deus, suspeita de ter se apropriado de mais de R$ 1,2 milhão de pelo menos 36 condomínios em Porto Alegre, a maioria localizada no bairro.
De acordo com o titular da 2ª Delegacia da cidade, delegado Vinícius Nahan, desta vez, não eram síndicos que representam conjuntos habitacionais — e alegam que água, luz, gás ou vigilância não teriam sido pagos pela empresa mesmo após terem repassado os valores para os pagamentos —, mas pessoas físicas, locatários de imóveis, que registraram ocorrência relatando que também não teriam recebido dinheiro de aluguéis. Foram três registros feitos nesta quinta.
O delegado ressalta que mesmo os casos envolvendo pessoas físicas também se tratam de apropriação indébita, como na situação dos mais de 30 condomínios que já registraram ocorrência contra a imobiliária.
Em contato com um desses locatários, que preferiu não ser identificado, GZH recebeu a informação de que a pessoa não recebe da imobiliária valores de aluguéis e IPTU desde o primeiro trimestre do ano. O prejuízo estimado passaria de R$ 10 mil e um advogado foi acionado para ingressar com ação judicial contra a imobiliária.
O delegado Nahan diz que ainda investiga uma suposta simulação de serviço de manutenção que nunca foi prestado, o que configuraria caso de estelionato, mais um delito que seria atribuído aos investigados.
— Trata-se de um serviço de manutenção, no valor de R$ 11 mil, que nunca foi realizado. Um dos condomínios da Capital que teria sido lesado por apropriação indébita também teria pago à imobiliária investigada por este tipo de serviço e até hoje estaria esperando, apesar de ter sido apresentado um recibo sobre o mesmo — explica o delegado.
Nahan investiga se há mais pessoas envolvidas nesta suposta simulação e se houve mais casos, assim como de locatários pessoas físicas e de condomínios lesados.
Dois celulares, documentos e comprovantes de transferências bancárias foram apreendidos durante cumprimento de mandados judiciais na sede da Imobiliária Menino Deus, na terça-feira (22). Todo o material recolhido será analisado nos próximos dias para se ter uma dimensão mais precisa dos supostos valores movimentados e na busca por mais provas.
São três sócias do empreendimento que respondem aos inquéritos na 2ª Delegacia, que incluem, além da apropriação indébita e do estelionato, suposto caso de furto, já que teriam havido transferências bancárias diretas da conta da imobiliária para a conta pessoal de uma das sócias.
A advogada Mariju Maciel representa uma delas, Sueli Ivone Fin Gonzales, e procurou a reportagem na terça-feira para esclarecer que a sua cliente se retirou da sociedade em março de 2023, por meio de medida judicial. Em mensagem pelo WhatsApp, a advogada afirmou na ocasião: "Ela, quando percebeu irregularidades, realizou o pedido de afastamento de uma das sócias, o que foi negado pela juíza. Diante disso, por não compactuar com tudo que estava acontecendo, pediu a sua retirada da empresa de forma que não só não é responsável pelos fatos que estão sendo apurados como ela própria levou as irregularidades para conhecimento da Justiça".
Contraponto
Assinada por um grupo de advogados, nota enviada para GZH na terça-feira (22) apresenta a defesa da Imobiliária Menino Deus. No texto, os advogados afirmam que "nada de ilícito foi encontrado no interior dos locais averiguados pelos serventuários do Estado".
Veja a nota completa:
"Em nome da empresa denominada Imobiliária Menino Deus, sediada a 25 anos no bairro Menino Deus, nesta Capital. Com notória e ilibada atuação em nossa sociedade.
Com o consentimento de suas sócias remanescentes, em virtude do fato ocorrido no dia 22 de agosto de 2023, em torno das 10h, na sede da empresa, ou seja, Av. Getúlio Vargas 918 policiais civis lotados na 2 DP desta Capital juntamente com o ilustre delegado cumpriram mandado de busca e apreensão oriundos de determinação judicial, em busca de objetos ilícitos e documentos pertencentes a pessoa jurídica em tela, assim como, mesmo no aludido mandado não constasse o recolhimento de bens pessoais levaram a manu militari aparelhos e notebooks daquela empresa.
Primeiramente, cumpre esclarecer que nada de ilícito foi encontrado no interior dos locais averiguados pelos serventuários do Estado, sendo que até este momento, após dois requerimentos defensivos para ter acesso a investigação, não foram apreciados pelo delegado titular daquela DP, sendo adstrita a defesa técnica e deduzir semelhante pedido perante a 15ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca de Porto Alegre.
Em face da gravidade dos fatos elencados pelos meios de comunicação, os quais denigrem e aviltam a imagem da empresa e de suas representantes, sem que haja respaldo no processo judicial que apura a culpabilidade dos fatos narrados.
Diante disso, está sociedade de advogados no âmbito empresarial e criminal, está acompanhando os fatos ocorridos desde março do corrente ano, época na qual a terceira sócia da empresa retirou-se através de determinação judicial, juntamente com outros funcionários que lá labutavam há mais de 15 anos e vieram a fazer parte de outras empresas do mesmo ramo, as quais em tese configuram a formação de quartel fato que será apreciado pela autoridade competente, com pedido a ser deduzido no dia 23 de agosto de 2023, através dos profissionais que atuam na área criminal e civil, face a farta documentação probatória reunida ao longo destes meses, os quais confirmação as assertivas deduzidas pela defesa.
Saudações,
Thiago Crippa Rey- OAB/RS 127.653
Marcelo da Rocha Trelles - OAB/RS 31.686
Luiz Fernando B. Alfama- OAB/RS 31.573
Eduardo Lima Freitas Holetz - OAB/RS 63.767
Patrícia Conde OAB/RS 115.741
Lucas Resende Fraga OAB/DF 50.028".