A Polícia Civil confirmou, na manhã desta sexta-feira (7), que o corpo encontrado às margens do Rio Ibirapuitã, em Alegrete, na Fronteira Oeste, é o da enfermeira Priscila Leonardi Ferreira, 40 anos. Ela estava desaparecida desde a noite de 19 de junho.
Priscila residia na Irlanda e teria viajado ao Rio Grande do Sul para resolver questões relacionadas a uma herança deixada pelo pai.
Segundo a delegada Fernanda Graebin Mendonça, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Alegrete, o corpo foi reconhecido por familiares da enfermeira na manhã desta sexta. Ainda conforme a policial, foi realizada a necropsia na vítima pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), que constatou indicativos de que Priscila tenha sido vítima de um crime.
Foram encontradas lesões de espancamento no corpo da enfermeira. De acordo com a análise da perícia, Priscila foi morta por estrangulamento. Há sinais que indicam que teria sido usada uma fita ao redor do pescoço da vítima para matá-la.
A investigação do crime, que é investigado como homicídio, segue em sigilo. Até o momento, a polícia não divulgou nenhuma prisão relacionada ao caso.
Priscila havia sido vista pela última vez na noite do dia 19 de junho no bairro Vila Nova, também em Alegrete. No local, a enfermeira teria embarcado em um veículo, de cor preta, após deixar a casa de um familiar.
Herança
Priscila residia em Dublin, na Irlanda, desde 2019, não tinha filhos e era solteira. A mãe e o pai dela são falecidos. De férias, ela estava visitando familiares em sua terra natal, quando desapareceu.
— Uma pessoa amiga, tranquila e admirada por todos — contou uma amiga da enfermeira, que prefere não se identificar.
Nascida em Alegrete, Priscila era a única filha da mãe, Maria Madalena, que morreu em 2009, após lutar contra o câncer no estômago. Os pais se separaram quando ela ainda era criança. Formada pela Universidade Franciscana, como enfermeira, Priscila se mudou para a Irlanda para aprimorar o inglês e continuar estudando na área da enfermagem. O pai dela, Ildo Leonardi, faleceu no início de 2020, também vítima de câncer.
Priscila tinha uma irmã, filha de um outro relacionamento do pai. Em razão disso, foi dado início ao inventário para partilha dos bens.
O advogado Rafael Hundertmark Oliveira, que representava a enfermeira no inventário, afirma que a divisão de bens — terras e um imóvel — entre as irmãs estava seguindo normalmente. No entanto, havia conflitos de Priscila com outros familiares, que não estão incluídos dentro do processo do inventário. Recentemente, ela havia ingressado com uma ação de cobrança contra um parente, envolvendo um imóvel.
— Além do deixado pelo pai, ela tinha patrimônio próprio, de herança da mãe e também do trabalho dela — explica o advogado. — Entre as irmãs não tem briga, não tem disputa. Mas havia outras demandas, que não têm diretamente relação com o inventário — acrescenta.
Oliveira conta que nos últimos três anos mantinha contatos regulares com Priscila, normalmente por videochamadas, já que ela estava na Irlanda. Em 2022, a enfermeira chegou a cogitar vir ao Brasil, mas desistiu. Neste ano, resolveu retornar à terra natal para visitar algumas pessoas, durante as férias, e resolver questões de ordem financeira.
Nesse período, Priscila visitou por duas vezes o advogado. A primeira delas foi no início de junho, quando esteve no escritório dele em Alegrete, e a segunda alguns dias depois em Santa Maria, na Região Central. Os dois agendaram uma nova reunião para o dia 19 de junho, mas Priscila não apareceu.
— Causou estranheza ela não comparecer. Embora o sumiço dela tenha sido à noite, à tarde ela já não apareceu no compromisso. Sempre percebi ela como uma pessoa extremamente educada, pontual. Minhas reuniões com ela nunca atrasaram. Sempre foi tranquila. Não demonstrava pressa em terminar o inventário. Sempre me pareceu uma pessoa muito justa — afirma o advogado.
Embora não esteja divulgando detalhes sobre a investigação, a polícia já havia confirmado que os conflitos envolvendo disputas por bens estão entre as hipóteses investigadas para o desaparecimento da enfermeira.
O advogado afirma que o sumiço e a confirmação da morte da cliente lhe deixou consternado. A Funerária Santa Clara, de Alegrete, repassou no fim da manhã informações sobre a despedida de Priscila. Não será realizado velório, e o corpo foi enterrado às 14h desta sexta-feira no Cemitério Municipal.
— Foi uma pessoa com quem me relacionei profissionalmente por três anos. Atendi presencialmente, vi o olhar dela. E agora simplesmente acontece isso. È algo muito triste, muito injusto — afirma.
Colabore
Informações sobre o caso podem ser repassadas para a polícia pelos telefones (55) 3427-0300 (plantão) ou (55) 98451-1689 (WhatsApp). A denúncia pode ser feita de forma anônima, garantido o sigilo da informação.