Uma Mercedes-Benz que pertenceria à companheira de um líder de facção atuante no Rio Grande do Sul foi apreendida em Santa Catarina e trazida ao Estado na última sexta-feira (15). Esta é mais uma etapa da operação policial, deflagrada em 28 de junho, contra um detento da Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, suspeito de lavagem de dinheiro. O veículo apreendido seria da esposa dele, que vivia em SC e foi presa.
De acordo com a Polícia Civil gaúcha, a Mercedes-Benz GLA, ano 2017, é avaliada em cerca de R$ 145 mil. O delegado Filipe Bringhenti diz que a tendência é que o veículo vá a leilão. A polícia deve pedir aval da Justiça para que o valor obtido com o carro seja destinado à corporação.
O alvo principal da ação de junho é Tiago Benhur Flores Pereira, 38 anos, natural de Novo Hamburgo, apontado como um dos três principais nomes de uma organização criminosa que tem base no Vale do Sinos. O apenado é investigado por movimentar mais de R$ 1 milhão obtidos com o tráfico de drogas. Ele também foi investigado como um dos mentores da construção de um túnel, em fevereiro de 2017, para fuga em massa do Presídio Central. Cinco meses depois, ele foi um dos 27 líderes de facções transferidos para casas prisionais em outros Estados durante megaoperação do governo.
A mulher a quem a Mercedes pertenceria, que seria esposa do suspeito, foi detida no dia 27, na praia da Guarda do Embaú, em Santa Catarina, com o apoio de policiais de Palhoça. O carro foi localizado horas depois. Em depoimento, que ocorreu em meio virtual, a mulher ficou em silêncio.
Além do carro apreendido, outros bens possivelmente relacionados a atividade criminosa foram identificados ao longo da investigação pela Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Consta no inquérito uma casa adquirida pelo homem no bairro Ipanema, zona sul de Porto Alegre. O imóvel foi reformado e tem grande aparato de segurança. Possui 450 metros quadrados e está à venda por R$ 3,3 milhões, segundo a polícia.
Além da mansão em Ipanema, da qual já há pedido de sequestro judicial, há outra casa , avaliada em R$ 500 mil, que pertenceria ao investigado, e 18 veículos, vários da marca Mercedes e avaliados em R$ 1,6 milhão — nem todos foram apreendidos.
A ação no fim de junho contou com cem agentes, que cumpriram 18 mandados de busca e dois de prisão preventiva. A operação ocorreu no Vale do Sinos e na Região Metropolitana, mas também na cela onde o detento está atualmente.
Polícia vai contabilizar valores
A polícia agora contabiliza os valores movimentados pelo grupo alvo da operação. O Deic obteve da Justiça a quebra dos sigilos bancário e fiscal de 30 investigados: 18 pessoas físicas e 12 empresas.
O delegado Bringhenti afirma que as equipes aguardam o envio dos documentos por parte dos bancos, para fazer a análise financeira dos valores das contas.
— Essa parte leva algum tempo, porque precisamos unir todo o material e então fazer a análise. É muita informação, um trabalho denso, pois são 30 investigados. Além disso, também foram sequestrados todos os bens que provamos terem sido obtidos com dinheiro ilícito. A Polícia Civil quer recuperar, retirar desses grupos, o proveito e os lucros que obtêm com o crime. Vamos evitar que o crime compense — disse Bringhenti.
A investigação aponta 40 atos ilícitos envolvendo laranjas que atuariam para a facção, tanto pessoas físicas quanto jurídicas, na compra de veículos, muitos de luxo, lanchas, imóveis e depósitos em pelo menos 13 contas bancárias.
A ação no final de junho ocorreu pouco depois de o Judiciário decidir pelo retorno do homem ao Rio Grande do Sul. A Justiça Federal indeferiu a permanência dele no Mato Grosso do Sul, onde está preso atualmente, porque não houve, em princípio, renovação de informações sobre atividades dele como líder de facção. A expectativa é que ele volte ao RS nos próximos dias. O delegado afirma que as equipes aguardam autorização da Polícia Federal para ouvir o homem.
Contraponto
A advogada Bruna Thalita de Oliveira, que atende a mulher, afirmou que prefere não se manifestar sobre a apreensão do veículo.
Ela também atende Tiago Benhur Flores Pereira. No dia da operação, Bruna afirmou que a "defesa é firme em acreditar que a investigação, quando finda, apontará que o investigado Tiago não tem relação com a prática dos ilícitos que são objeto de apuração" (confira a nota completa).