O novo superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Rio Grande do Sul, Anderson Nunes dos Santos, tomou posse nesta segunda-feira (26), em Porto Alegre, com a promessa de contribuir para a recuperação da imagem de polícia humanizada e cidadã. Anderson foi empossado em uma cerimônia ocorrida pela manhã, na sede do Ministério Público do Estado, que foi prestigiada por lideranças políticas e institucionais gaúchas e nacionais, e com a presença massiva de agentes da corporação.
O intuito de marcar com ênfase a nova fase da PRF ficou destacado nos discursos durante a cerimônia, no vídeo exibido aos convidados — em que a instituição se compromete com valores de justiça e segurança pública com respeito aos direitos humanos — e ainda antes, na entrevista coletiva prestada pelo novo comandante estadual.
— A grande missão da PRF no Brasil inteiro e também no Rio Grande do Sul é reconstruir a nossa imagem, de 95 anos de atuação como uma polícia humanitária e cidadã. Trabalhar pela proteção da vida e no combate ao crime, com grande senso de responsabilidade e respeito aos direitos humanos — definiu Nunes dos Santos.
Ao seu lado, o diretor-geral da PRF no Brasil, Antônio Fernando Souza Oliveira, que esteve no Rio Grande do Sul especialmente para a atividade, fez questão de acrescentar que "a Polícia Rodoviária Federal é formada por policiais, filhos e componentes da sociedade brasileira".
— Existe, no tecido social brasileiro, esta situação política que está posta, de muita rivalidade. A PRF sofreu, como a sociedade brasileira sofreu, por esta rivalidade. Contudo, ao falarmos de reconstrução, não vejo isso com grande complexidade. Uma instituição de postura marcadamente cidadã não pode sofrer, por conta de dois anos, o esquecimento da história pela conduta que teve durante mais de 90 anos. A boa imagem da PRF será reconstruída em muito pouco tempo — analisou Oliveira.
A tônica dos discursos e abordagens públicas das novas lideranças da PRF se deve ao desgaste ocorrido, sobretudo, nos dois últimos anos, quando a instituição foi implicada em eventos de violência policial praticada por agentes, que deixaram a PRF exposta ao julgamento da opinião pública.
Um dos mais graves episódios aconteceu há pouco mais de um ano, em Sergipe, quando um motociclista abordado para inspeção de trânsito foi enclausurado no porta-malas de uma viatura com uma bomba de gás acionada. Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, morreu por asfixia.
Mais tarde, apurações revelaram que ele sofria de transtorno psicológico e por esta razão teria resistido à abordagem e questionado os policiais antes de ser imobilizado e trancado na viatura. O caso chamou a atenção do país e da comunidade internacional.
Além deste tipo de circunstância, a corporação foi inserida no cenário de ultra polarização política por conta de um suposto viés ideológico que teria sido adotado pelo diretor-geral na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Silvinei Vasques, que, segundo autoridades, mantinha-se atuante em redes sociais na defesa do governo derrotado nas últimas eleições.
Vasques está sendo investigado pela CPI do 8 de Janeiro, que apura atividades golpistas e antidemocráticas no país, que culminaram com invasão e depredação de patrimônio público em Brasília, no dia 8 de janeiro desse ano. O ex-diretor da PRF é acusado de ter orquestrado, durante o período eleitoral, a obstrução de rodovias, prejudicando o acesso de eleitores às urnas, principalmente na Região Nordeste.
A grande missão da PRF no Brasil inteiro e também no Rio Grande do Sul é reconstruir a nossa imagem, de 95 anos de atuação como uma polícia humanitária e cidadã. Trabalhar pela proteção da vida e no combate ao crime, com grande senso de responsabilidade e respeito aos direitos humanos.
ANDERSON NUNES DOS SANTOS
Superintendente da PRF do RS
Para o atual diretor-geral, a postura que, segundo ele, pode ter impactado na confiança da sociedade, ficará no passado.
— Hoje o Brasil tem um presidente que não é truculento, tem um ministro da Justiça que rejeita a truculência, e tem um diretor-geral que desaprova a truculência. O exemplo é mais forte que a palavra. Os agentes entenderão isso e a truculência será página virada na importante história de defesa da vida, contribuição para a sociedade e combate ao crime pela PRF — pontuou Oliveira.
Reabertura de unidades e ampliação de efetivo
Anderson Nunes dos Santos afirmou, durante as atividades relacionadas à sua posse, nesta segunda-feira (26), que irá conduzir o trabalho da instituição no Estado com aplicação permanente de ferramentas tecnológicas e suporte do gabinete de inteligência.
— Vamos utilizar nossa capacidade para análise de dados e direcionar recursos de forma inteligente e coordenada para que cada grupo de agentes embarque na viatura sabendo o perfil de monitoramento que deverá realizar, preparado para o atendimento a determinadas zonas críticas, pronto para cuidar da segurança viária e do combate ao crime, estando orientado ao propósito maior que é salvar vidas — definiu Anderson.
O novo chefe da PRV gaúcha citou a relevância das áreas de fronteiras e trechos de rodovias classificados como pontos quentes, tanto sobre acidentalidade, quanto para potencial rota de crimes. Destacou a extensão fronteiriça com Argentina e Uruguai, e citou BR-392 e BR-386 como algumas das rodovias consideradas prioritárias para o monitoramento.
O superintendente comentou, ainda, a criação de parcerias com outras instâncias de serviço público, dando exemplo de prefeituras, para reabertura de unidades que haviam sido fechadas nos últimos anos. Ele indicou os postos Camaquã, Lagoa Vermelha, Torres, Soledade e Santa Vitória do Palmar como iniciativas próprias da atual gestão da PRF e mencionou as parcerias que irão propiciar a reativação de postos em Nova Petrópolis, Dom Pedrito e São Gabriel.
O reforço de efetivo também está no horizonte. De acordo com o diretor-geral Antônio Fernando Oliveira, foi solicitada ao governo federal a análise para prorrogação do período de vigência para chamamento a 1,4 mil agentes aprovados em concurso público que estariam aptos a iniciar a formação para integrarem as fileiras da corporação. Ele informou que um pedido para ampliação do provimento de cargos já foi transmitido ao ministro da Justiça, Flávio Dino, e poderá facilitar a ampliação de efetivo ainda em 2023. A PRF, atualmente, possui cerca de 13 mil agentes no Brasil. No Rio Grande do Sul, são cerca de 820 policiais.