O grupo criminoso que foi alvo na manhã desta terça-feira (9) de uma operação policial em 12 cidades gaúchas é da Região Metropolitana, mas atuava em todo o Rio Grande do Sul. Mesmo que os mandados de prisão tenham sido indeferidos pela Justiça, oito suspeitos foram detidos em flagrante. Eles fazem parte de um esquema com 40 pessoas envolvidas em crimes patrimoniais.
A organização criminosa, segundo a titular da 1ª Delegacia de Viamão, delegada Jeiselaure de Souza, age há anos e já deixou centenas de vítimas. Por isso, um dos objetivos agora é unir apurações e identificar quem foi lesado para contabilizar o total de delitos cometidos pelos investigados. Na ação realizada, 222 policiais cumpriram 65 mandados judiciais, sendo a maioria de busca, mas também de quebra de sigilo bancário e fiscal, além de sequestro judicial de 15 bens.
A apuração se iniciou em setembro do ano passado quando o líder da quadrilha foi detido após o roubo de um caminhão — com violência — no município. O celular dele foi apreendido e, desta forma, foi possível identificar os demais suspeitos e comprovar, por meio de várias trocas de mensagens em textos, áudios e imagens, como os crimes eram cometidos, principalmente comércio ilegal de armas e veículos, mas também de fios, cargas em geral e falsificação de documentos privados e públicos.
Segundo o que foi apurado pela equipe da delegada Jeiselaure, uma das práticas adotadas pelos investigados é chamada de "andar até perder". Neste caso, que envolve um dos tipos de delitos cometidos por eles, se refere aos automóveis e caminhões furtados ou roubados. Depois disso, são clonados e revendidos por valores de até R$ 5 mil e ficam com os receptadores até serem apreendidos ou desmanchados posteriormente.
Em um dos áudios divulgados pela polícia, um dos criminosos informa que um tipo de veículo solicitado seria difícil de conseguir, mas, segundo ele, era só "dar uma roubadinha" para atender a "encomenda":
Outra gravação que constava no celular apreendido no momento da prisão do líder do grupo, é referente a caminhonetes clonadas e revendidas por apenas R$ 2,6 mil para fazendeiros mediante uso de documentos falsos:
Houve casos, conforme um terceiro áudio, em que um investigado explica que carro roubado e desmanchado pode valer oito vezes mais com a venda de peças:
E não somente áudios, prints de conversas pelo WhatsApp entre o líder da quadrilha e comparsas mostram a encomenda de carros, oferta de caminhões furtados, valores e falsificação de documentos.
Troca de mensagens em texto
Além de seis prisões nesta terça-feira e do líder do grupo preso em setembro do ano passado, outro integrante do grupo foi detido. Foi durante a investigação e na Região Metropolitana. A delegada Jeiselaure diz que chamou a atenção um outro áudio. Dois suspeitos falaram, na época, que estavam mais preocupados com o carro furtado pelo detido — que foi recuperado pela polícia — do que com o comparsa detido:
Outros crimes cometidos
O grupo investigado também realizava furto de cabos de energia, negociava cargas roubadas e também praticou furto de óleo diesel. Há registros de casos de estelionato. Além disso, os suspeitos traficavam armas e munição, incluindo comércio ilegal de fuzis com negociações dentro de presídios.
A próxima etapa da apuração, após a operação ter sido deflagrada nesta terça-feira, será buscar mais informações sobre a compra e venda de armamento, identificando fornecedores e receptadores, já que os criminosos são apontados como intermediadores neste comércio ilegal. A polícia ainda irá ouvir os detidos e acionar outros que estão respondendo ao inquérito em liberdade. A delegada Jeiselaure diz que irá também verificar as quebras de sigilo bancário e fiscal dos líderes da organização criminosa.
Além do homem preso em Viamão em setembro do ano passado, apontado por ser o mentor do esquema envolvendo delitos patrimoniais, a mulher dele, um filho e um genro tiveram quebras de sigilo financeiro autorizadas pela Justiça.
Além disso, durante a manhã houve ainda o sequestro judicial de 15 bens adquiridos pelos suspeitos, a maioria veículos. Foram apreendidos dez veículos, alguns clonados, uma moto e um reboque. Várias peças e carcaças de carros foram localizadas. Também foram apreendidos dinheiro, máquinas de cartão de crédito ou débito e dezenas de documentos.
Jeisalaure destaca que, entre os documentos localizados, alguns deles eram carteiras funcionais em nome de delegados de polícia, advogados e médicos, todos com nomes, fotos e assinaturas falsificadas. A delegada diz que também havia documentos em nome do Detran, atestados de óbito, registros de nascimento e até mesmo termos de acordos judiciais. Todo o material será analisado e periciado.
A delegada Jeisaleure de Souza explica todos os detalhes da operação e da forma de agir do grupo que foi alvo da polícia: