A Polícia Civil concluiu que o agricultor Ari Rosa dos Reis, 84 anos, atacado a golpes de facão em sua propriedade rural, em Maquiné, foi vítima de latrocínio. O crime teria sido cometido por um vizinho, de 20 anos, que tinha trabalhado para o idoso havia cerca de cinco anos, e teria contado com a participação do irmão dele, um adolescente de 15. O inquérito contendo o indiciamento por latrocínio e corrupção de menor foi remetido na última sexta-feira (28) ao Poder Judiciário.
Ari vivia sozinho. Seu corpo foi encontrado por familiares na manhã de 21 de abril. Para o responsável pelo caso, delegado Valdernei Tonete, o depoimento do adolescente, que cumpre medida cautelar com privação de liberdade em uma unidade da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase), é elemento definidor para a conclusão do inquérito.
— Este jovem relatou a sequência de fatos relacionados ao crime com riqueza de detalhes. Disse que foi convencido pelo irmão mais velho e afirmou que não esperava testemunhar o assassinato do idoso. Afirmou ter entrado em choque com a brutalidade da cena, arrependeu-se e resolveu colaborar com a investigação — diz o delegado.
Tonete revela que a apuração chegou a considerar a eventual participação de mais pessoas no crime, mas esta hipótese foi afastada posteriormente, sobretudo diante da colaboração do adolescente:
— Tivemos este indicativo, inclusive por parte de pessoas próximas da vítima, mas tal hipótese não se consolidou no curso das investigações.
O delegado explica que o homem indiciado cumpre prisão preventiva na Penitenciária Modulada de Osório. Segundo depoimentos, o suspeito havia prestado serviços gerais na propriedade de Ari, dos 11 aos 15 anos de idade.
A Polícia não informou se haveria algum precedente de violência ou desentendimento entre o suspeito e o idoso, que pudesse servir como motivação para uma vingança ou intenção prévia de matá-lo. Interrogado, o suspeito optou pelo silêncio.
Conforme o delegado, o homem indiciado teria como motivação a intenção de roubar dinheiro e o veículo da vítima para deixar Maquiné, pois teria frequentes desentendimentos com pessoas da própria família, que mora em residência vizinha à propriedade de Ari dos Reis.
A prisão do suspeito ocorreu na noite de 21 de abril, em Torres. A caminhonete do idoso foi localizada no dia seguinte, em Passo de Torres, Santa Catarina, nas proximidades de onde o suspeito buscava se esconder, em uma pousada para veranistas, onde também foi encontrado o dinheiro roubado.
Valdernei Tonete diz que ainda restam diligências a serem feitas e cita a busca pela arma do crime como um dos pontos de atenção em ações previstas para os próximos dias:
— O facão teria sido jogado em um dos córregos da região. Caso tenhamos êxito nas buscas, a arma será encaminhada como evidência material do crime.
Filho do idoso contesta atuação da Polícia Civil
Em meio ao luto pela perda do pai, o advogado Roberson dos Reis afirma discordar da atuação da Polícia Civil. Para ele, pessoas que poderiam trazer contribuição ao inquérito e ao esclarecimento dos fatos deixaram de ser ouvidas em depoimento.
— Acredito que a decisão de fechar o inquérito e dar por encerrada a investigação pode ter sido precipitada. Estou acompanhando o trabalho de apuração e vejo que faltam as oitivas de familiares dos autores e até de vizinhos nossos que poderiam deixar mais claras as intenções deles (irmãos detidos) — aponta o filho de Ari dos Reis.
Roberson conta que o corpo do pai foi encontrado em uma posição típica de como Ari costumava dormir, virado de lado e com uma perna cruzada sobre a outra.
— Não houve luta. Não teve reação. Não lembro de ter visto ferimentos nos braços. Eles chegaram e desferiram golpes no velho enquanto dormia. Assim ele ficou. Provavelmente morreu com o primeiro golpe, desferido com lâmina pesada na cabeça — descreve o advogado.
O filho de Ari dos Reis diz desconfiar que o crime pode ter sido premeditado e seria, em sua visão, um homicídio qualificado. Outro elemento que Roberson menciona é o fato de que o irmão adolescente depôs dizendo que o plano do irmão mais velho era fugir para Chapecó, em Santa Catarina, mas foram localizados e detidos em Torres.
— Isso é mentira. Eles foram onde queriam. Usaram o telefone do meu pai, colocaram um chip e instalaram Facebook para trocar mensagens com outras pessoas. Abasteceram o tanque do carro (caminhonete roubada) em Terra de Areia, compraram drogas em Capão da Canoa e se hospedaram em Passo de Torres. Será que havia alguém esperando? O crime foi planejado com mais participantes? — questiona.
Além disso, Roberson considera fundamental estabelecer a circunstância de aquisição e condução da arma usada no crime pelos irmãos.
— O adolescente disse que eles usaram um machado tirado de uma parede na casa do pai. Mentira! O pai tinha dois machados. Os dois estão lá, sem nenhuma marca de sangue. Onde está essa arma? Já foi levada com eles com a intenção de matar? Essas perguntas não estão respondidas e eu prosseguirei questionando estes pontos — desabafa.
Família fundou propriedade em Maquiné em 1974
Conforme Roberson dos Reis, a família estabeleceu-se em Maquiné em 1974. Ari, segundo o filho, fundou uma propriedade rural produtiva com base em muito esforço, colaboração dos cinco filhos e da falecida esposa. Além dos filhos, Ari dos Reis deixou quatro netos.
Desde 2001, quando ficou viúvo, Ari morava sozinho no local, mas continuava recebendo apoio da família em atividades para manutenção do imóvel. Para serviços ocasionais, contratava peões. Foi em uma destas circunstâncias que contratou o suposto autor de seu assassinato, quando este era adolescente.
Roberson conta que familiares dos irmãos implicados no crime também trabalharam para o agricultor e garante que a relação entre as famílias foi sempre amistosa.
— Meu pai era um homem do campo. Um pouco rude e às vezes autoritário. Mas sempre justo e correto com o pagamento para aqueles que trabalharam para ele. Não vejo razão para algum ressentimento que motivasse a gana com a qual mataram o pai. Beberam cerveja no quarto e deixaram lata ao lado do corpo. Não é o indicativo típico de uma morte resultante de uma luta inesperada — analisa.