A Polícia Civil investiga o caso de um empresário que teria forjado um furto no próprio estabelecimento, uma loja de caça e pesca em Cruz Alta, no noroeste do Estado. Na ação, foram levadas do local 49 armas, entre pistolas, submetralhadoras, espingarda e fuzil. As equipes investigam o que poderia ter motivado a ação. O proprietário e mais duas pessoas que teriam executado o serviço foram presos. Eles não tiveram os nomes divulgados.
O furto ocorreu na madrugada de 9 de fevereiro, na loja do bairro Turíbio Veríssimo. De acordo com o delegado Ricardo Drum Rodrigues, a ação e o depoimento do empresário levantaram suspeitas.
— A investigação é uma construção, fomos juntando elementos, detalhes, informações, e formando essa convicção. Desde o começo, ficamos desconfiados com a narrativa apresentada sobre o furto. O empresário foi ouvido na condição de vítima, mas trouxe muitas incoerências na versão. A cena do crime também tinha elementos que levaram a desacreditar a fala dele. Havia arrombamento na loja, mas constatamos que os criminosos entraram na garagem com o próprio controle (do portão) — comenta o titular da Delegacia de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Cruz Alta.
A polícia pediu a prisão do proprietário da loja, que foi detido no dia 17 de fevereiro, por comércio ilegal de armas de fogo, associação criminosa e falsa comunicação de crime. Outros dois homens também foram presos no mesmo dia, suspeitos de serem os executores do furto.
As prisões são temporárias. No mesmo dia, a ação também cumpriu seis mandados de busca e apreensão, em que as equipes encontraram celulares e os enviaram para a perícia. A operação foi denominada "Senhor das Armas", e deflagrada com o apoio da Força Tática da Brigada Militar (BM).
Desde o roubo, foram recuperadas três pistolas levadas da loja. A investigação segue em andamento para identificar mais pessoas que possam ter ligação com o crime e reunir mais indícios da participação dos suspeitos.
Motivação
O delegado preferiu não comentar os possíveis motivos que levaram o empresário a forjar o furto, "para não prejudicar as investigações":
— Ainda temos muitas diligências em andamento e a divulgação da motivação poderia prejudicar o inquérito. Mas são fortes os elementos que ligam o empresário com a falsificação do furto.
O empresário ainda não foi ouvido pelas equipes após ser preso, mas informalmente negou qualquer envolvimento no furto. A polícia afirma que ele deve prestar depoimento, desta vez na condição de investigado, assim que algumas diligências forem concluídas. No dia da ação, o dono da loja não estava no local. Ele afirmou que jantava em um restaurante. Já foram ouvidas 13 pessoas na investigação.
Outro ponto que gerou desconfiança na polícia foi o fato de que diversos clientes do homem eram familiares de pessoas que têm envolvimento com o tráfico de drogas, possivelmente adquirindo o armamento para repassar a um grupo criminoso que atua na região.
Conforme o delegado, um homem que foi preso no município havia algum tempo, por tráfico de drogas, tinha feito uma compra de 11 armas de fogo, entre fuzil e submetralhadora, da loja do empresário. Na ocasião em que foi preso, nenhuma das armas foi encontrada com ele. O homem teria dito aos policiais que perdeu os equipamentos, mas não apresentou nenhum registro na polícia sobre o extravio. Ele não teria ligação com o furto na loja, segundo a polícia.
A loja do empresário funcionava havia pelo menos dois anos, legalmente. O homem também é dono de um clube de tiro em Cruz Alta e, anteriormente, tinha atuado como despachante de armas.