Cinco réus começaram a ser julgados nesta quinta-feira (9), em Porto Alegre, por um crime que aconteceu há cinco anos e meio. Ao amanhecer de 11 de julho de 2017, moradores da Vila Brasília, no bairro Sarandi, na Zona Norte, acionaram a Brigada Militar após ouvirem rajadas de disparos de armas de fogo. Quando chegaram ao local, os policiais encontraram quatro corpos, num beco da Rua Francisco de Medeiros.
Moradores relataram aos policiais que criminosos chegaram armados com pistolas e fuzis, e passaram a atirar contra as vítimas. Entre elas estava um adolescente, identificado como Juliano Santos dos Reis, 17 anos, o Juju. Ainda foram mortos outros dois jovens: Douglas da Conceição Garcia, 18 anos, o Dodô, e Dênis Fabrício dos Santos Borssato, 22, além de Jair Silva dos Santos, 39.
As investigações concluíram, na época, que o crime aconteceu dentro do contexto de disputas entre grupos criminosos. O ataque teria sido ordenado por uma facção com objetivo de controlar os pontos de tráfico dos rivais no Sarandi.
Naquela madrugada, criminosos armados teriam invadido uma casa na Vila Brasília e retirado as vítimas de lá. Alguns estariam usando roupas semelhantes às da Polícia Civil, segundo testemunhas. Logo depois, teriam colocado todos de joelhos, na rua, antes de dispararem com fuzil e pistolas. Os atiradores chegaram ao local em três veículos e um dos carros foi abandonado na fuga.
Por este crime, estão sendo submetidos ao Tribunal do Júri na Capital cinco réus. São eles: Juliano Guimarães da Silva, 29 anos, Luís Felipe Bittencourt de Oliveira, 24, Bruno Muller da Silva, 26, Cristian Michel Silva do Nascimento, 39, e William Miranda Lemes, 30. Os réus respondem por quatro homicídios, receptação de veículo, corrupção de menor (havia um adolescente envolvido no ataque) e adulteração de sinal de veículo. Segundo o Tribunal de Justiça, os cinco estão presos na Cadeia Pública de Porto Alegre (antigo Presídio Central).
Ao longo do processo, o Ministério Público denunciou sete homens – inicialmente a Justiça determinou que seis fossem a júri e impronunciou um deles. A acusação recorreu, tentando que ele também fosse a júri, mas o pedido foi negado pela Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. Na mesma decisão, ficou estabelecido que um segundo réu não deveria ir a julgamento. Com isso, cinco réus foram enviados ao Tribunal do Júri.
O júri começou às 9h30min desta quinta-feira, no Foro Central. A primeira etapa foi o sorteio dos jurados, para integrarem o Conselho de Sentença. A sessão é presidida pelo juiz Nildo Inácio, do 2º Juizado da 1ª Vara do Júri. Duas testemunhas foram ouvidas pela acusação. Interrogados, os cinco réus negaram que tenham tido participação nos assassinatos das vítimas.
Durante a tarde, o julgamento entrou na fase dos debates, com duas horas e meia para cada parte. A primeira a detalhar seus argumentos foi a promotora Lúcia Helena Callegari, pelo Ministério Público. Na sequência, falariam os responsáveis pela defesa dos réus, entre eles, o advogado Jean Severo Menezes, que defende Luís Felipe, e os defensores públicos Ariane Ramos da Cunha Freitas Ritter, pelos réus Juliano e Bruno; Eledi Amorim Porto, por William; e Álvaro Roberto Antanavicius Fernandes, pelo réu Cristian.
— Um crime como esse, uma chacina, tem que ser devidamente apurado e punido. Uma barreira muito grave foi ultrapassada quando temos um quádruplo homicídio. Estou buscando justiça, com a punição dos responsáveis — diz Lúcia Helena, do MP.
Os debates seguiram até 21h50min, quando o júri foi interrompido. A sessão deve ser retomada com réplica e tréplica às 9h desta sexta-feira (10).
Contrapontos
O que diz a defesa dos réus Juliano Guimarães da Silva, Bruno Muller da Silva, Cristian Michel Silva do Nascimento e William Miranda Lemes:
A Defensoria Pública do Estado informou que só se manifestará sobre o caso no processo e no julgamento. Até a publicação desta reportagem, ainda não havia começado a manifestação das defesas. Durante os interrogatórios, os réus negaram participação nos crimes.
O que diz a defesa de Luís Felipe Bittencourt de Oliveira:
O advogado Jean Severo Menezes, que defende o réu, sustenta que o cliente é inocente:
— Luís Felipe é completamente inocente. O que foi apurado em sede policial, no entender da defesa, é extremamente fraco para o indiciamento do réu! Luís Felipe é primário, com bons antecedentes e residência fixa. A defesa acredita na absolvição do acusado.