Utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como principal indicador de violência em sociedades, os homicídios tiveram alta em quatro das 10 maiores cidades do Rio Grande do Sul.
Conforme levantamento da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado, houve redução no número de assassinatos em cinco desses 10 municípios. A Capital está entre os que registraram aumento. Em Gravataí, o número se manteve igual.
Após dois anos de queda (veja o gráfico abaixo), Porto Alegre apresentou, em 2022, aumento de 30,12% nos homicídios. Voltou ao patamar de 324 vítimas, mesmo indicador que havia registrado em 2019. No meio desse caminho, a Capital havia experimentado reduções para 281 mortes em 2020, e para 249 em 2021.
Além de Porto Alegre, também tiveram alta no número de homicídios as cidades de Canoas (26,78%) e Santa Maria (7,14%). Rio Grande vivenciou uma disparada, de 221,42%, tendo passado de 28 homicídios em 2021 para 90 casos no ano passado.
— Não existe uma resposta linear para explicar estas variações. Os crimes violentos letais intencionais são um fenômeno complexo, cujo enfrentamento exige estratégias adequadas. Atualmente, falamos em políticas públicas para segurança baseadas em evidências. Isso significa que transformamos indicadores em informações a serem aplicadas para sufocar a criminalidade — define o delegado e secretário-executivo do programa RS Seguro, Antônio Padilha.
O RS Seguro é uma iniciativa do Estado para concentrar energia no combate ao crime e no planejamento de ações em prevenção. O programa, conta Padilha, desenvolveu uma ferramenta tecnológica que combina e aplica ciência de dados, sistema de informações geográficas e business intelligence às análises de segurança.
— Este conjunto de dados passa por diversos ensaios, levando em conta tipos de ocorrências, territorialidade e periodicidade dos fatos, e mais uma série de detalhes que são convertidas em estratégia e traduzida em informação objetiva para os operadores na ponta — aponta Padilha.
Segundo ele, delegados da Polícia Civil, oficiais da Brigada Militar, membros do Ministério Público e do Poder Judiciário podem utilizar o conjunto de evidências estruturado no Sistema de Gestão Estatística em Segurança Pública (GESeg) para priorizar suas demandas e determinar o melhor plano de ação para cada uma delas.
Ao qualificar o esforço para limitar o avanço das mortes violentas, Antônio Padilha cita o que define como "ações enérgicas contra o crime organizado", as quais compreendem isolamento de lideranças encarceradas, captura de "soldados das facções", que seriam os principais autores das execuções, e apreensão massiva de bens e valores relacionados ao financiamento dos assassinatos.
Quedas em cinco municípios
Por outro lado, municípios com grandes contingentes populacionais tiveram reduções. Caxias do Sul, segunda cidade mais populosa do RS, registrou queda de 25,55% nos homicídios no ano passado. Isso acontece depois de dois ciclos de elevação, entre 2019 e 2021.
Também observam diminuições neste parâmetro da violência, as cidades de Pelotas (26,08%), Viamão (16,41%), Novo Hamburgo (10,71%) e São Leopoldo (3,12%).
Gravataí manteve o mesmo patamar, de 33 casos, nos últimos dois anos. Tais resultados são atribuídos também ao desenvolvimento de ações em prevenção.
— Quem pensar que a Brigada Militar trabalha no achismo estará totalmente enganado. Se existem patrulhas em determinados lugares e horários, atuação mais intensa sobre determinado foco de ação, isso faz parte da estratégia orientada por evidências científicas. Entender o fato ocorrido nos prepara para prevenir e enfrentar novas ocorrências — argumenta o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Douglas da Rosa Soares.
Para o oficial, a obtenção de resultados positivos em segurança para a sociedade passa por investimentos no aparelhamento e no reforço do efetivo — houve incremento de 3 mil brigadianos nos últimos três anos —, aplicação de dados para o planejamento de ações e integração entre as forças de segurança estaduais, federais e municipais.