A Polícia Civil encaminhou, nesta segunda-feira (30), à Justiça inquérito que indiciou 30 pessoas por lavagem de dinheiro e organização criminosa. Os indiciados — 18 deles detidos — foram alvo de uma operação realizada em 10 Estados, em junho do ano passado. Três facções criminosas do Rio Grande do Sul e de São Paulo movimentaram R$ 347 milhões em um ano com a venda de drogas e lavagem de capitais.
O titular da Delegacia de Lavagem de Dinheiro do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Adriano Nonnenmacher, diz que alguns dos investigados, considerados operadores logísticos dos grupos, também já haviam sido indiciados anteriormente por tráfico de drogas.
Os investigados integram dois grupos gaúchos, um da zona sul de Porto Alegre e outro do Vale do Sinos, além de um grupo criado a partir de presídios paulistas e que atua em todo país. A polícia investigou um total de 58 pessoas, bloqueou contas e bens de três empresas — duas de São Paulo e uma do Mato Grosso do Sul — e conseguiu sequestrar em torno de R$ 2 milhões entre bens móveis, imóveis e ativos financeiros.
Nonnenmacher informa ainda que os investigados também investiam em criptomoedas, na bolsa de valores e usavam empresas reais e de fachada. Valores e drogas eram enviados para a Europa.
Modus operandi
Com alta complexidade e divisão de tarefas, o modus operandi dos grupos consistia em usar empresas reais, fantasmas e de fachada para receber pagamentos de líderes da facção gaúcha sediada em Porto Alegre. Além disso, usavam operadores de lavagem de capitais e laranjas — pessoas físicas, empresários, comerciantes, sem antecedentes — para dar aparência de legalidade às transações financeiras.
Os suspeitos também realizavam o transporte de altas quantias do tráfico de drogas, após centenas de transações no sistema financeiro nacional, utilizando-se de depósitos e saques fracionados em nome de dezenas de empresas e pessoas físicas. Segundo Nonnenmacher, ainda utilizavam cheques ao portador, entre outras técnicas complexas para tentar driblar as fiscalizações administrativas.
Os valores eram destinados do Estado a grandes distribuidores de cocaína, sediados principalmente em São Paulo e Mato Grosso do Sul, a partir de compra da droga por líderes estaduais das duas facções que tiveram integrantes indiciados. O fluxo de ativos financeiros ilegais, a partir de Porto Alegre, chegava em São Paulo primeiro e, de lá, partia para outros Estados. Em alguns casos, também já estava sendo enviado diretamente para o Mato Grosso do Sul.
A polícia descobriu que o "dinheiro sujo" era destinado ainda a portos e fronteira, bem como empresas reais ou de fachada que atuavam com explosivos, aviação, navegação, criptomoedas, extração de pedras preciosas.
Operação com 400 policiais
A chamada Operação Pegasus, que contou com ação de helicóptero, foi coordenada pela direção do Denarc diretamente do Ministério da Justiça, em Brasília. As duas facções gaúchas, que tiveram integrantes presos, estiveram envolvidas no início de 2022 em uma guerra que deixou mais de 20 mortos. Cerca de 400 policiais civis cumpriram 502 medidas judiciais, sendo 21 de prisão, 63 de busca, além de apreensão de imóveis, veículos, bloqueios de contas bancárias e de demais atividades financeiras.
As ações ocorreram em Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Goiás, Rondônia e Amazonas. Foram apreendidos, no dia da operação, armas, drogas, material para preparar e distribuir entorpecentes, dólares, pesos, R$ 200 mil em espécie, documentos, cheques em branco e vários documentos e mídias eletrônicas.