Pelo segundo ano consecutivo, uma das mais importantes avenidas de Porto Alegre segue como a mais visada para o roubo de veículos na cidade. Mesmo com movimento constante, a extensa Avenida Protásio Alves atrai a atenção de criminosos e teve 14 assaltos nos primeiros oito meses deste ano. Na comparação com o mesmo período de 2021, quando 20 assaltos foram registrados, o número representa queda.
Se no ano passado a via se isolou como a primeira no número de assaltos, em 2022 a Protásio empata com outra importante: a Estrada João de Oliveira Remião, que também acumula 14 roubos de veículos entre janeiro e agosto desde ano.
No total, Porto Alegre registrou 1.297 roubos de veículos nos primeiros oito meses de 2021, e 1.149 no mesmo período em 2022, uma queda de 11,4%.
Os dados foram obtidos por GZH junto a Polícia Civil, via Lei de Acesso à Informação (LAI). A instituição não informou distinção de quais veículos mais foram roubados – se motos ou carros, por exemplo –, nem a localização por bairro ou trecho.
O impacto dos roubos é sentido pela população que frequenta a avenida. Após uma série de prejuízos, um casal que mora na região da Protásio decidiu passar a deixar o carro em um estacionamento. Apesar de nunca ter tido o veículo levado por criminosos, Mariana Saikoski Faller, 45, e Eduardo Caberlon 49, relatam que tiveram o carro furtado ao menos quatro vezes em dois anos. Depois disso, passaram a mantê-lo em um posto de combustível durante a noite. Eles relatam que crimes envolvendo veículos são frequentes na avenida:
— Muitos prédios por aqui não têm garagem, e as pessoas acabam deixando na rua de noite ou de madrugada, quando tem menos movimento. Acredito que seja o momento mais crítico. Esses roubos aqui são problema antigo e também acontece bastante nas ruas no entorno. Teve um dia que chegamos e o nosso carro tinha sido furtado e o carro do lado também, os dois. Mesmo que o carro não tenha sido levado, é um estresse, dá prejuízo, precisa consertar o que foi quebrado, fazer boletim. E é uma sensação muito ruim, a gente se sente invadido — afirma Mariana.
Outro frequentador da região, Igor da Silva Camargo, 19, também afirma ouvir com frequência relatos sobre roubos na avenida. Para ele, o policiamento na região é insuficiente.
— Minha sogra mora aqui há 10 anos e sempre relata, anda assustada, diz que vê direto isso. Geralmente é uma ação bem rápida, a pessoa está entrando ou saindo do veículo e é abordada. Há uns dois meses, uns vizinhos estavam chegando em casa e renderam eles na porta do prédio, levaram o carro. De hora em hora passa uma viatura, mas eles não conseguem monitorar o local o tempo todo, não dá conta, aí eles (criminosos) aproveitam.
Há três anos, Cristiano Oliveira trabalha fazendo entregas em uma loja na avenida, e relata não ter sofrido assaltos na região. Ele conta tomar alguns cuidados para evitar o problema:
— A gente está sempre de olho, alguns cuidados básicos ajudam. Não ficar no celular, estar atento ao embarcar ou descer do carro, manter o alarme sempre ligado. Também deixo no estacionamento quando não vou usar o veículo por um período maior, porque na rua fica mais vulnerável, há essas ocorrências — diz Oliveira.
Trabalho das polícias
Para a Polícia Civil, a fácil ligação com cidades da Região Metropolitana, como Viamão e Alvorada, é a principal explicação para a Avenida Protásio Alves ter o maior registro de roubo de veículos nos últimos dois anos. O que também se aplica para a Estrada João de Oliveira Remião, que divide a primeira posição com a Protásio em 2022.
— Há muitos anos essa região tem altos índices de roubo, justamente pela proximidade com esses dois municípios, onde se concentra um grande número de quadrilhas especializadas no roubo de veículos. Inclusive deflagramos diversas operações para coibir criminosos da região — explica o delegado Rafael Liedtke, da Delegacia Especializada na Repressão aos Crimes de Roubos de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DRV/Deic).
Segundo o delegado, o combate ao crime deve ser feito em diversas frentes, tanto com operações focadas na captura de quem realiza o assalto quanto por meio de investigações sobre quadrilhas que clonam e comercializam os veículos roubados.
— Procuramos combater o crime como um todo. Vamos em ferros-velhos, com busca e apreensão, investigamos o ladrão que, armado, faz o assalto. Além de todos que trabalham para agregar valor ao carro após o furto, desde quem fabrica placas falsas ou fornece documentos, até quem anuncia o veículo nas redes sociais — explica.
Para combater o crime, a polícia afirma que tem realizado operações contra grupos especializados no roubo e na clonagem de veículos. Na terça-feira (4), dois homens foram presos em flagrante em um fábrica de placas falsas em Novo Hamburgo. Segundo o delegado, no local, eram emplacados boa parte dos carros roubados a mão armada em Porto Alegre.
Liedtke explica ainda que a forma de os criminosos operarem mudou com o passar dos anos. Os grupos deixaram de lado os desmanches, onde revendiam as peças dos veículos, e se especializaram na clonagem. Essa mudança chamou atenção das investigações. Atualmente, mais de 90% dos veículos roubados são clonados posteriormente, e poucos acabam em desmanches, o que permite um lucro maior e mais rápido às quadrilhas, segundo a polícia.
De acordo com a Brigada Militar, três batalhões atendem a extensão da Protásio, em diferentes pontos, e um fica responsável pela Estrada João de Oliveira Remião.
A frente do Comando de Policiamento da Capital (CPC) da Brigada Militar, o coronel Luciano Moritz explica que a instituição foca os trabalhos especialmente em lugares com mais ocorrências, ressaltando a importância do registro por parte das vítimas junto a polícia.
— O trabalho da Brigada Militar tem foco na gestão por resultados. Basicamente, trabalhamos em cima das informações que temos sobre os delitos, onde ocorrem, como são, informações que vêm na ocorrência registrada. Por isso, é muito importante que as pessoas nos passem o máximo de informações possível, porque aí reforçamos o trabalho em cima daquele local. Além disso, há também o patrulhamento, que foca na prevenção — diz Moritz.
Veja as ruas com mais assalto em 2022
Entre os meses de janeiro e agosto
- 1º lugar: Avenida Protásio Alves e Estrada João de Oliveira Remião, com 14 roubos
- 2º lugar: Baltazar de Oliveira Garcia, Bernardino Silveira Amorim e Estrada Martim Felix Berta, com 10 roubos
- 3º lugar: Avenida Bento Gonçalves e Rua dos Maias, com 9 roubos
- 4º lugar: Rua Carlos Estevão, com 7 roubos
- 5º lugar: Avenida Assis Brasil, Cavalhada e Edgar Pires de Castro, com 6 roubos
As ruas com mais assalto em 2021
Entre os meses de janeiro e agosto
- 1º lugar: Avenida Protásio Alves, com 20 roubos
- 2º lugar: Avenida Assis Brasil e Baltazar de Oliveira Garcia, com 13 roubos
- 3º lugar: Avenida Ipiranga, Manoel Elias e Rua Carlos Estevão, com 9 roubos
- 4º lugar: Avenida João Antonio Silveira e Professor Oscar Pereira, com 8 roubos
- 5º lugar: Avenida A.J. Renner, Bento Gonçalves, Delmar Rocha Barbosa, Sertório, Rua Sezefredo Ignácio de Oliveira e Rua Tenente Ary Tarrago, com 7 roubos
*Produção: Lucas de Oliveira