Uma operação policial foi deflagrada nesta quinta-feira (6), em sete municípios gaúchos, contra um grupo — ligado a uma facção criminosa — que tem 39 integrantes. Entre eles, conforme a investigação, há 32 laranjas que agiam para sete presidiários, movimentando pelo menos R$ 2,5 milhões com o golpe dos nudes.
Foram confirmadas três vítimas, duas no Rio Grande do Sul e uma em Santa Catarina. Mas a delegada Luciane Bertolotti, titular da Delegacia de Esteio, diz que o número de pessoas lesadas passa de 10, inclusive de outros Estados, principalmente de São Paulo — o que será motivo de nova apuração.
Na atual investigação, Luciane descobriu que um empresário de Balneário Camboriú, uma das três pessoas que já registraram ocorrência, perdeu R$ 8 mil. O homem pensava estar trocando imagens íntimas com uma adolescente, mas na verdade, tratava-se de um dos laranjas.
Neste caso, além da extorsão, houve ameaças. Para forçar o empresário catarinense a pagar para que as imagens não fossem divulgadas, os criminosos monitoraram a família da vítima.
Além de gravar imagens em frente à casa da filha do empresário, um dos integrantes do grupo levou um envelope com supostos nudes até o restaurante do qual o homem é proprietário.
A delegada Luciane afirma que confirmou que houve monitoramento da filha e da esposa do empresário por parte dos golpistas. Além da gravação feita pelos criminosos ameaçando a vítima e da entrega do envelope (conforme imagens de câmeras de segurança), foram enviadas mensagens de textos com fotos de armas e mais ameaças.
Segundo a delegada, o caso foi mantido em sigilo após o homem pagar o valor exigido pelos criminosos. Eles pediram ainda mais — além dos R$ 8 mil — e só não conseguiram porque a polícia foi acionada.
Mais vítimas
Luciane diz que, neste primeiro inquérito, há outras duas pessoas lesadas: uma de Flores da Cunha, na serra gaúcha, e outra de Santo Augusto, no noroeste do RS. No entanto, já foram descobertas outras vítimas dos golpistas, que serão motivo de uma continuidade da investigação.
— São pelo menos 13 vítimas, além dos três que já ouvimos e que motivaram esta operação. Temos mais 10 e não só do Estado e de Santa Catarina, mas de outras regiões, principalmente paulistas — explica a delegada.
Ela diz que, somente entre janeiro e abril de 2021, os criminosos movimentaram R$ 2,5 milhões nas contas bancárias que também foram alvo de mandados judiciais. A maioria dos suspeitos é de Novo Hamburgo, São Leopoldo e Esteio, mas há de outras cidades também. Os criminosos fariam parte de uma facção que tem base no Vale do Sinos.
Operação
Foram cumpridos nesta quinta-feira 39 mandados de prisão, 41 de busca e 39 de bloqueio judicial de contas bancárias. Participaram da operação, coordenada pela Delegacia de Esteio, 240 policiais civis em: Esteio, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Porto Alegre, Xangri-lá e Lajeado. A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) também integra a ofensiva. Os nomes dos presos não foram divulgados.
Conforme a delegada Luciane Bertoletti, até as 17h30min desta quinta-feira, 34 pessoas já haviam sido presas pela Polícia Civil. Outros cinco suspeitos seguem foragidos. A delegada estima que eles sejam presos ou se apresentem voluntariamente nos próximos dias.
— A Delegacia de Esteio já conta com mais de cem presos pelo golpe dos nudes, entre operações e prisões individuais. Os criminosos estão migrando para o ambiente virtual pela facilidade, por ter um meio de comunicação rápido, pelo anonimato, pelo alcance em diferentes lugares do país. Eles acreditam que não vão ser presos. O que nós mostramos hoje é que a internet não é terra de ninguém. Conseguimos, com técnicas modernas de investigação, chegar até a autoria desses delitos e prender os responsáveis — sublinha.
O golpe praticado por este grupo é investigado desde junho de 2021. O diretor da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Mario Souza, destaca um fato que tem ocorrido após operações deste tipo:
— O mesmo que vale para o golpe do bilhete premiado, vale para o golpe dos nudes. Temos constatado que após cada operação, e somente de Esteio foram três desde setembro do ano passado, há queda do número de vítimas. Sempre que divulgamos uma operação como esta, passamos dois ou três meses com poucos casos de pessoas lesadas. Mas com o tempo, parece que as pessoas esquecem e continuam caindo no golpe, aumentando de novo, geralmente após o terceiro mês, o número de ocorrências deste tipo — diz.
O que é o golpe dos nudes
O golpe dos nudes ocorre quando uma pessoa finge ser uma adolescente e mantém contato com homens mais velhos para trocar imagens íntimas, simulando depois acionar pais e a polícia para exigir dinheiro, com o objetivo de não expor a situação para familiares da vítima ou até mesmo não iniciar uma suposta investigação policial.
Alguns golpistas atuam como pais da suposta adolescente e outros como falsos advogados da família ou policiais, tudo para fazer com que a vítima desembolse dinheiro para realização de um prometido acordo.
Para transmitir credibilidade às exigências e causar pânico nas vítimas, os criminosos chegam a montar falsas delegacias de polícia, onde fazem imagens internas simulando a tramitação de investigações e até a expedição de supostos mandados de prisão.