O presidente do Grêmio Náutico União (GNU) será o primeiro intimado para depor sobre os atos de racismo ocorridos na sexta-feira (14), em Porto Alegre, contra o cantor Seu Jorge durante uma apresentação no clube. Paulo José Kolberg Bing será chamado para depor na quinta-feira (20) na Delegacia de Combate à Intolerância da capital gaúcha.
Conforme a delegada Andrea Mattos, que investiga o caso, imagens do show foram solicitadas à administração do GNU.
— Isso não significa que ele será a primeira pessoa a ser ouvida. Até porque, daqui a pouco, a gente pode identificar uma outra testemunha ou alguém nos procura aqui — ressalta.
Andrea Mattos pediu ainda a identificação da equipe organizadora do evento da semana passada. Ela também está entrando em contato com a equipe de Seu Jorge para saber se om artista tem interesse em se manifestar.
— De qualquer maneira, aquele vídeo que ele postou ontem (segunda-feira) para mim tem muito significado, porque indica que ele quer ver responsabilização e justiça — diz Andrea.
A delegada também já está de posse de um áudio atribuído ao presidente do GNU em que ele se manifesta sobre o caso.
Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (18), Bing afirmou não ter presenciado as manifestações racistas contra o cantor. O presidente do GNU disse ainda lamentar os fatos e informou que "serão tomadas medidas disciplinares dentro do clube".
— Em nenhum instante vi as manifestações racistas, mas recebemos uma gravação onde uma pessoa profere ofensas raciais. Nos nossos registros de áudio e vídeo não aparece nenhuma ofensa racista, mas me parece que elas ocorreram — disse (ouça a entrevista abaixo).
Racismo em show
As ofensas contra o músico, que é negro, teriam sido proferidas por parte da plateia que acompanhava o show. A apresentação de Seu Jorge foi marcada para celebrar a reinauguração de um salão, acompanhada de um jantar no GNU.
Manifestações em redes sociais, confirmadas por GZH com algumas pessoas que compareceram ao evento, indicam que o cantor teria sido hostilizado com gritos de "uh, uh, uh", simulando o som feito por macacos, além de ter sido xingado com termos como "negro vagabundo" e "preguiçoso".
Na noite de segunda-feira, Seu Jorge divulgou um vídeo em que afirma ter sido vítima de "muito ódio e grosseria racista" durante o show na Capital.
— Estaremos na luta juntos, denunciando e combatendo todo o tipo de tipificação da nossa gente e respondendo com excelência, preparo, coragem, sabedoria e diplomacia. Nunca, jamais, nos curvaremos ao racismo e à intolerância, seja ela qual for. Não cederemos um milímetro ao ódio. E cobraremos das autoridades que a Justiça prevaleça e os criminosos sejam devidamente punidos. A lei é para ser cumprida — ressalta no vídeo.