O desaparecimento de Alessandra Dellatorre, 29 anos, advogada de São Leopoldo, está prestes a completar três meses, no domingo (16). Enquanto a Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) do município do Vale do Sinos adotou a estratégia de não revelar detalhes da investigação, a família mantém a esperança de encontrá-la com vida. A busca por qualquer informação que leve ao paradeiro da advogada encontra fôlego na inconformidade com a ausência.
Na metade de setembro, um outdoor foi instalado pela família de Alessandra em uma das esquinas mais movimentadas do centro de São Leopoldo. Uma foto da moradora do bairro Cristo Rei e os telefones de contato de parentes estão expostos no encontro da Avenida Dom João Becker com a Rua São Joaquim. Além disso, uma força tarefa envolvendo conhecidos e amigos fez com que os cartazes chegassem também a outros municípios do Vale do Sinos, ao litoral gaúcho e à Serra.
— Esse tempo todo tem sido muito difícil. Os pais estão muito tristes e sem forças. Mas a família permanece unida nas buscas — comenta Erica Dellatorre, 49 anos, tia de Alessandra.
Um perfil no Instagram criado em agosto publicou 16 pedidos de ajuda para encontrar a advogada. A conta @ProcurandoAle tem 2,7 mil seguidores e oferece uma recompensa a quem encontrá-la. Na mesma época, uma missa católica foi organizada para que o momento espiritual fosse fonte de energia para os familiares, mas não contou com a presença de Eduardo, 63 anos, pai de Alessandra, que não teve condições de comparecer ao encontro, segundo a irmã dele.
— Ele literalmente perdeu a força física e não foi — diz Erica.
As imagens da última caminhada de Alessandra, captadas por câmeras de segurança, mobilizaram dezenas de pessoas na procura pela advogada. Na semana do desaparecimento, uma equipe da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros, composta por 38 pessoas, cães farejadores e apoio de helicóptero, fez as primeiras buscas. Os próprios familiares também caminharam por horas a fio nas regiões próximas aos locais por onde a advogada passou naquela tarde de 16 de julho, mas não foram encontradas pistas que levassem ao paradeiro ou a uma conclusão para o caso.
Investigador particular contratado pela família de Alessandra, Matheus Trindade explica que foram feitas perícias no computador e no celular da advogada, e que ele tenta entender o momento psicológico pelo qual a advogada passava nos dias que antecederam o desaparecimento. Relatos de amigos e conhecidos que conviviam com ela são outras peças do quebra-cabeça que Trindade tenta montar.
— Queremos entender o estado mental dela naquele momento, que era de grande estresse por conta de repetidas tentativas em concursos públicos, em um momento de incertezas. A busca por câmeras na região foi só o início, tentamos encontrar um indício de que ela tenha entrado em um veículo, por exemplo, por vontade própria ou coação — comenta.
Outros casos
Em São Leopoldo, os números envolvendo pessoas desaparecidas em 2022 preocupam o delegado André Serrão, titular da DHPP. A cidade também procura por outras 62 pessoas desde janeiro — média de quase sete desaparecidos por mês até setembro.