Pelo terceiro mês consecutivo, o Rio Grande do Sul tem queda nos registros de estelionatos. Em agosto, foram 6.533 casos de golpes comunicados à polícia, ante 7.958 no mesmo período do ano passado — redução de 17,9% ou 1.425 registros a menos. Mas a média de casos ainda é alta: 210 por dia. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado.
Embora o cenário seja de diminuição, essa retração ocorre em um momento no qual os estelionatos alcançaram números muito superiores ao que era praticado há alguns anos. Quando observamos os registros de 2018, por exemplo, percebemos que atualmente a incidência triplicou (confira no gráfico abaixo).
Houve acréscimo nesse tipo de crime especialmente durante a pandemia de coronavírus, quando se proliferaram os crimes virtuais. No período em que as pessoas passaram a ficar em casa e a fazer mais uso da internet, seja para se comunicar ou mesmo desfrutar de serviços e adquirir produtos, também passaram a ser alvo de inúmeros tipos de golpes - o que levou a uma enxurrada de novas trapaças. O crescimento de 2020 se acentuou no ano passado, e 2022 também iniciou com alta, mas, nos últimos meses, a tendência tem sido de queda.
Por trás da recente redução dos indicadores, estão alguns fatores apontados pelos órgãos de segurança. Entre eles, as operações policiais que combatem esse tipo de crime, especialmente quando cometidos por grupos organizados, e as ações preventivas, que buscam alertar as pessoas sobre os golpes. Mas contribui também para a queda a subnotificação, que é quando a vítima deixa de registrar o fato, por diferentes motivos.
— Essa cifra oculta realmente existe e não é possível ter noção de quantas ocorrências deixam de ser formalizadas. Por vezes, o idoso fica com vergonha de ir na delegacia ou da própria família, por ter caído num golpe, por ter pensado que obteria alguma vantagem e ter sido enganado — explica o delegado Rodrigo Bozzetto, titular da Delegacia de Proteção ao Idoso de Porto Alegre.
Alerta
A delegacia atende um dos públicos que sofre frequentemente com esse tipo de crime, seja em golpes virtuais ou presenciais. Além das fraudes financeiras, como empréstimos realizados sem o consentimento do idoso, outras trapaças já conhecidas seguem fazendo vítimas, como o conto do bilhete premiado e o golpe dos nudes.
— Parece que não acontece mais, mas acontece. Já peguei alguns casos, não é um e nem outro, são alguns, nos quais as pessoas acabam entregando por volta de R$ 100 mil para o estelionatário no caso do conto do bilhete. É bem complicado. O leque de fraudes cometidas contra idosos, que são uma categoria diferenciada, e, por isso, têm legislação própria, em razão da condição de vulnerabilidade, é muito amplo — alerta o delegado.
Parece que não acontece mais, mas acontece. O leque de fraudes cometidas contra idosos, que são uma categoria diferenciada, e, por isso, têm legislação própria, em razão da condição de vulnerabilidade, é muito amplo.
RODRIGO BOZZETTO
Titular da Delegacia de Proteção ao Idoso de Porto Alegre
No caso do conto do bilhete, os estelionatários convencem a vítima de que ela poderá receber uma soma em dinheiro ao auxiliar uma pessoa a retirar um prêmio. Esse ganhador se apresenta como alguém humilde, que precisa de auxílio para retirar o valor. No meio da trapaça, convencem a vítima a entregar somas em dinheiro como forma de comprovar sua idoneidade. Quando conseguem obter os valores, os golpistas fogem.
Os idosos também são vítimas dos crimes virtuais, como envio de links maliciosos para capturar dados ou mesmo obter transferências bancárias, como o golpe do falso WhatsApp. Nesse tipo de delito, os criminosos criam uma falsa conta em nome de uma pessoa, com a foto dela, e fazem contato com familiares pedindo dinheiro.
— Muitas vezes, o idoso não tem aquele feeling de logo perceber que é um golpe. Muitos pais acabam enviando por Pix ou transferências valores para esses estelionatários. É preciso estar sempre ligado. Se for parado na rua por alguém que está querendo oferecer valor e em troca precisa de um valor menor, por exemplo, isso não existe. Isso é golpe. Infelizmente, muitas pessoas ainda acabam caindo. Se ficar em dúvida, o idoso deve conversar com familiares, pedir a opinião deles — aconselha Bozzetto.
O policial acredita que a orientação para que as pessoas não caiam nesse tipo de crime é uma das formas mais eficazes de prevenção. Um material informativo sobre crimes praticados contra idosos está sendo elaborado e deverá ser distribuído numa parceria com o Judiciário. Quem comete estelionato contra pessoa idosa, se for identificado, poderá ter condenação mais alta. A legislação prevê que a pena poderá ser aplicada até em dobro nesses casos.
Dados do ano
O RS começou o ano ainda em cenário de elevação dos estelionatos. Os meses de janeiro, fevereiro e março tiveram acréscimo. Este último, inclusive, registrou o maior número de casos, com 8.456 fatos comunicados à polícia. Na sequência, abril apresentou ligeira queda e maio voltou a ter aumento. Os três últimos meses é que mantiveram a redução, com queda mais acentuada em agosto. No total, o RS soma, desde o início deste ano, 60.518 registros, enquanto no mesmo período do ano passado foram 62.150.
Ranking
Foi na Capital que a maior parte dos casos de golpes registrados no Estado ocorreu. Em agosto, foram 1.286 ocorrências desse tipo no município, o que representa cerca de 20% do total no RS. Na sequência, no ranking das cidades com mais casos de golpes registrados, vem Caxias do Sul, na Serra, com 327 fatos, e Canoas, na Região Metropolitana, com 270.
Dicas para não cair em golpes
- Golpistas, em geral, oferecem vantagens para atrair a vítima e têm pressa para obter lucro. Fique atento;
- Não envie dados pessoais ou cópias de documentos para desconhecidos;
- Se estiver acertando qualquer tipo de aluguel, seja por temporada ou permanente, visite o imóvel antes de fechar o negócio;
- Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp;
- Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por valor abaixo do preço de mercado;
- Não adquira produtos pela internet sem antes se certificar de quem está vendendo. Mesmo que seja um perfil conhecido, só efetue o pagamento após conversar diretamente com a pessoa;
- No momento do pagamento, seja por Pix ou transferência, confira se o nome do destinatário é o mesmo de quem se está adquirindo o produto;
- Não repasse códigos recebidos no celular. Essa é uma das principais estratégias usadas para hackear contas no WhatsApp e no Instagram;
- Certifique-se de que a pessoa com quem você está conversando por WhatsApp, por exemplo, é ela mesma. É possível conferir isso telefonando para o contato;
- Desconfie de ligações de desconhecidos e nunca repasse informações pessoais;
- Durante a venda de algum item, só entregue o produto após o dinheiro entrar na conta ou receber o valor. Não confie em comprovantes de transferência porque eles podem ser falsificados;
- Se tiver um familiar idoso, oriente a pessoa sobre os golpes mais comuns e como se prevenir deles;
- Caso seja vítima, registre a ocorrência. É possível utilizar a Delegacia Online. Reúna todas as informações que podem servir como provas, como dados bancários, conversas por mensagens e fotografias .
Fonte: Polícia Civil do RS