A Polícia Civil do Rio de Janeiro afirma não ter dúvidas do envolvimento do agente consular alemão Uwe Herbert Hahn na morte do marido, o belga Walter Henri Maximilien Biot, de 52 anos. O crime ocorreu na noite de sexta-feira (5) na cobertura onde os dois moravam, em um edifício em Ipanema, na zona sul da cidade. Hahn foi preso em flagrante no sábado (6) e permanecerá na cadeia, conforme decisão do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). Neste domingo (7), ele passou por audiência de custódia e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva.
— As conclusões foram pautadas na perícia técnico-científica, necropsia e perícia de local, que apontam de forma segura lesões decorrentes de ações contundentes. Elas estavam espalhadas por todo o corpo, antigas e recentes, e sugerem ter havido espancamento — afirmou a delegada assistente da 14ª DP, Camila Lourenço, responsável pelas investigações do caso.
Agentes da 14ª DP e peritos da Polícia Civil passaram o sábado analisando o apartamento onde o casal morava. Em conversa inicial feita no próprio local, Hahn alegou que o companheiro tinha passado mal e desmaiado, batendo o rosto no chão. Depois, reiterou as declarações em depoimento prestado na delegacia.
O exame de necropsia, contudo, indicou que o corpo da vítima apresentava mais de 30 lesões, algumas antigas, não compatíveis com uma queda. Além disso, a causa da morte foi apontada como traumatismo craniano provocado por ação contundente. A perícia policial no apartamento também indicou sinais de luta corporal.
— A versão do cônsul revela-se frágil, inverossímil. Ele alega que o companheiro teve um surto repentino, levantou do sofá, saiu correndo em direção ao terraço, tropeçou e bateu com o rosto no chão. Mas a causa da morte, lesão na nuca, é incompatível com essa versão — afirmou a delegada. — Havia uma lesão anal, a casa repleta de espargimento de sangue e fezes. A casa estava em completo desalinho, muito suja, com fezes por todo local. Me sinto segura para afirmar que houve espancamento.
Relacionamento "harmonioso"
Além do depoimento de Uwe Herbert Hahn, os policiais ouviram a secretária do casal e o porteiro do edifício. Ele afirmou que a relação do casal "parecia ser pacífica, harmoniosa" e negou ter presenciado discussão entre eles.
Devido à função que exerce, de representante da Alemanha em outro país, há poucas informações sobre a vida pessoal de Uwe Hahn. Sabe-se que ele ficou um tempo nos Estados Unidos e que o próximo posto seria no Haiti.
A representação alemã no Brasil, por sua vez, informou que está em contato direto com as autoridades, mas não poderia dar maiores detalhes porque as investigações estão em andamento e por questões de segurança.
A defesa de Uwe Herbert Hahn não se manifestou publicamente, assim como o representante do consulado no Rio — um deles acompanhou todo o depoimento. Os advogados pediram a soltura do alemão por "imunidade diplomática". Para a delegada Camila Lourenço, o caso de Hahn não se enquadra nesse quesito.
— Foi um crime doloso contra a vida, no interior de um apartamento, em território nacional e não guarda relação com atividades consulares. Entendo que a Convenção de Viena não se aplica ao caso em questão, que trata de prisão preventiva. Nós estamos falando de prisão em flagrante — disse Lourenço.
O juiz Rafael de Almeida Rezende, da Central de Audiência de Custódia, que decidiu pela conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, concordou com a delegada.
"A prisão em flagrante decorrente de crime doloso contra a vida, cometido no interior do apartamento do casal (logo, fora do ambiente consular) não guarda qualquer relação com as funções consulares. Diferentemente dos agentes diplomáticos, os agentes consulares podem ser presos em flagrante de delito ou preventivamente, excetuadas as hipóteses de crimes praticados no exercício das funções, que estariam cobertos pela imunidade", escreveu o juiz.
Rezende também sustentou, ao converter a prisão em preventiva, que Hahn poderia atrapalhar as investigações se ficasse solto. O alemão passou a noite de sábado para domingo preso na delegacia do Leblon. Segundo a delegada, demonstrou-se tranquilo durante toda a noite e tomou um café pela manhã. Depois, foi encaminhado ao Presídio de Benfica, na zona norte. O local serve como ponto de triagem para o sistema prisional do Rio e é onde são realizadas as audiências de custódia.
A delegada aguarda ainda o resultado de um exame toxicológico feito na vítima, para saber se ela teria sido dopada, e também da perícia nos telefones celulares dos dois. Para a delegada, as informações dos telefones podem ajudar a determinar a causa do suposto crime.