Usando verbos no presente, Nilton Trindade da Costa falou, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta segunda-feira (22), sobre o neto Gabriel Marques Cavalheiro, morto, aos 18 anos, após uma abordagem da Brigada Militar, em São Gabriel.
— Uma educação fora de série. Para cuidar criança de colo é um espetáculo, é um guri de uma educação. Disposto para tudo. O vício dele é o cigarro, embrabeci com ele, muito até, sobre isso, para ele não fumar, e tomar cerveja. A gente pedia para ele não fazer. E parece que ele tava tonto no dia que aconteceu isso aí.
Gabriel foi abordado por policiais ao supostamente tentar entrar em uma casa, na noite de 12 de agosto. A moradora ficou assustada com a presença do jovem e chamou a polícia. O rapaz, que estaria alterado, foi algemado, posto dentro da viatura e passou uma semana desaparecido depois disso. O corpo dele foi encontrado em um açude, na localidade de Lava Pé, interior do município, na última sexta-feira (19). Os policiais que o abordaram estão presos e o caso ainda é investigado.
De acordo com o avô, Gabriel estava hospedado na casa de um tio, que fica perto da residência na qual ele estaria tentado entrar quando foi abordado. Ele cumpria os procedimentos para prestar o serviço militar obrigatório e tinha o sonho de servir o Exército.
— Melhor para mim do que um neto daqueles, não existia — comentou Nilton da Costa.
— Eu quero a Justiça. Nem tem explicação (o que sinto). Não sei se é raiva, o que é. Não é raiva, é uma espécie de agonia. Só espero a Justiça, que seja bem feita. Uma pessoa que faz isso aí não é humano. É um bandido. Quem é para nos dar segurança, fazer isso... — desabafou.
Governador diz que vai conversar com pai de Gabriel
Na entrevista desta manhã, o avô de Gabriel, Nilton Trindade da Costa, afirmou que a família não recebeu, ainda, qualquer contato do governo do Estado a respeito do ocorrido e que tem acompanhado os andamentos da investigação pelos meios de comunicação.
— Não falamos com o governo, eles não se apresentaram para nada. Não falaram nada para nós, o que foi, como aconteceu, a gente não sabe. Só esperando a perícia, para ver o que aconteceu com ele (Gabriel).
Questionado a respeito, o governador Ranolfo Vieira Júnior confirmou que não fez contato com familiares, mas disse que pretende ligar, ainda nesta segunda-feira, para o pai de Gabriel, Anderson da Silva Cavalheiro.
— Nós não fizemos contato. Estou, inclusive, com o telefone celular do Anderson, pai do Gabriel. Não quis fazer esse contato ontem, domingo, dia do sepultamento do jovem. Não quis fazer esse contato, achei que não era o momento mais adequado.
— Quero ver se faço ainda hoje este contato com o pai do Gabriel, com os seus familiares, me solidarizando como governador, mais uma vez, diretamente a eles, e colocando à disposição todo esse auxílio, assistência psicológica e tudo o mais que for necessário — acrescentou o governador.
Quanto ao andamento do processo, Ranolfo, que foi delegado de polícia, destacou que não é possível divulgar todos os avanços de uma investigação corrente, porque há risco de o trabalho ser prejudicado, mas afirmou que vai reavaliar o procedimento de atualização da família.
— Vou verificar com os presidentes dos inquéritos que estão em andamento, com o próprio Ministério Público, a possibilidade de ir informando a família passo a passo. Acho difícil. O importante é que o empenho nosso, do Estado, é absoluto no sentido de que, efetivamente, isso venha a ser elucidado na sua forma integral.
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