Agredida com machadinhas na saída de uma festa em Gramado, há pouco mais de uma semana, Daiane (nome fictício), 26 anos, conta que ainda lida com reflexos causados pelo episódio. Ela conta que está afastada do trabalho, que precisa lidar com as marcas espalhadas pelo corpo e que não conseguiu dormir direito desde a agressão.
Na madrugada do dia 18 de julho, ela e duas amigas, ambas de 25 anos, foram atacadas pelo homem e precisaram receber atendimento médico. Daiane ficou dois dias internada. De acordo com a Polícia Civil, a agressão ocorreu depois que a jovem recusou uma investida do homem, após a festa.
Na segunda-feira (1º), Lucas Brostolin de Souza, 21 anos, foi indiciado por triplo homicídio tentado e qualificado (por motivo torpe, por recurso que dificultou a defesa das vítimas e pela condição de elas serem do sexo feminino, o que caracteriza tentativa de feminicídio). O homem, que é morador de Gramado e está preso preventivamente desde o dia 22, teria confessado o crime, segundo a polícia.
Conforme Daiane, Souza teria conversado com as jovens ainda na festa, mas foi na saída do local, na rua, que as agressões ocorreram. Ela relata que as três não conheciam o indiciado antes do episódio.
Segundo a vítima, na rua, Souza passou a dar em cima dela, que pediu que ele parasse:
— Ele ficou forçando, dizendo que queria que eu fosse embora com ele. Eu falei que não e ele disse: "Então me dá um beijo" e agarrou o meu braço. As minhas amigas começaram a me puxar, pedir para ele me soltar e nisso ele empurrou minha amiga, jogou ela no chão. Foi quando eu empurrei ele e pedi para parar.
Depois disso, Daiane relata que o homem saiu do local. Ela afirma que ajudou a amiga a levantar do chão. As três estariam no local esperando um motorista de aplicativo, para irem para casa. Minutos depois, Souza retornou com as duas machadinhas de metal.
— Eu só vi um reflexo dele vindo para cima de mim, vi que ele trazia algo com ele. Dei uns passos para trás e caí. Só via sangue voando para tudo que é lado, mas não conseguia assimilar nada. Ele não parava. Nessa hora que ele estava em cima de mim, eu só pensava: "Ele está me matando, eu vou morrer".
A jovem afirma que, em dado momento, desmaiou. Ela diz que quando acordou estava sentada na escada na frente da casa noturna. Foi quando soube que Souza também teria atacado as duas amigas que estavam com ela.
— Eu não lembro disso, mas elas dizem que eu gritava muito. Elas também gritavam, pedindo ajuda, mas nessa hora ninguém veio. Quando eu parei de gritar, porque desmaiei, acho que ele pensou que eu tinha morrido, então foi atrás delas.
As duas amigas, moradoras de Canela, correram para um terreno baldio, com mato alto, onde teriam se escondido, segundo Daiane. Elas também receberam golpes, em diferentes partes do corpo, como no pescoço, antebraço e coxa. O Samu foi acionado e elas foram levadas para atendimento médico no Hospital Arcanjo São Miguel. Daiane, que teve mais ferimentos, ficou dois dias internada na instituição.
Marcas pelo corpo
A jovem relata que teve cortes mais profundos na barriga, no pescoço e na perna. Ela conta que ainda sente dores e permanece com alguns pontos. O caso também deixou marcas no psicológico, diz ela:
— Eu fiquei com o corpo todo marcado, preciso tomar cuidados, não posso pegar sol. E essas marcas são para o resto da vida. Eu achei que ficaria aliviada com ele sendo preso, mas vejo que o dano psicológico persiste. Tanto eu quanto minhas amigas, não conseguimos sair de casa, nem ficar sozinha. Percebo que me assusto com qualquer barulho que ouço. Até hoje, não consegui dormir de verdade, só faço cochilos e logo acordo assustada. Não queria, mas vou precisar tomar remédio para conseguir pegar no sono. O nosso psicológico está preso, igual ele.
Daiane conta que as três são amigas de longa data, mas que há algum tempo não se viam. A jovem, que mora em Novo Hamburgo, havia viajado para a serra gaúcha para rever as amigas e passar o final de semana na região.
O advogado que defende as três jovens agredidas, Wesley Altneter, se manifestou por meio de nota:
"As provas produzidas em sede de inquérito policial demonstram que o indiciado não agiu sob o manto de alguma excludente de ilicitude. O indiciado premeditou todos os seus atos e agiu com extrema brutalidade, com a intenção de matar as vítimas, sendo que somente não alcançou seu objetivo por circunstâncias alheias à sua vontade."
Investigação
O inquérito policial do caso foi conduzido pelo delegado Gustavo Barcellos, titular em Gramado, e remetido ao Poder Judiciário na segunda-feira (1º). Para Barcellos, as agressões cometidas indicam que Brostolin tinha intenção de matar as jovens.
— Só não conseguiu porque os golpes não atingiram nenhum órgão vital e porque ele foi imobilizado enquanto ainda agredia uma das vítimas. Ao menos duas delas tiveram ferimentos no pescoço, o que também indica tentativa de homicídio.
Segundo o delegado, em depoimento, o homem confessou as agressões e disse que agiu sozinho — ele estava com dois amigos na festa. Barcellos diz que, no dia do fato, o homem não apresentava sinais de embriaguez.
Contraponto
Em nota, o advogado Luís Bringmann, que faz a defesa de Lucas Brostolin de Souza, diz que aguarda acesso à íntegra da apuração realizada pela polícia:
"Na noite dos fatos, o acusado foi brutalmente agredido, o que acabou desencadeando a fatalidade em comento. Neste momento, a defesa aguarda ter acesso à íntegra da investigação para poder se manifestar sob os fatos."