Um homem de 21 anos que agrediu três mulheres com golpes de machadinhas após uma festa em Gramado, na serra gaúcha, foi indiciado por triplo homicídio tentado e qualificado (por motivo torpe, por recurso que dificultou a defesa das vítimas e pela condição de elas serem do sexo feminino, o que caracteriza tentativa de feminicídio). A Polícia Civil remeteu a conclusão do inquérito para a Justiça nesta segunda-feira (1º).
O caso ocorreu no dia 18, quando Lucas Brostolin de Souza teria supostamente tentado se relacionar, dentro da festa, com uma das jovens, que negou as investidas. Na saída da casa noturna, no Centro de Gramado, ele teria passado a agredir as três amigas. Uma delas chegou a ficar internada no hospital por dois dias. O homem, que é morador de Gramado e está preso preventivamente desde o dia 22, teria confessado o crime, segundo a polícia.
De acordo com o relato das três jovens à polícia, Souza tentou se relacionar com uma delas durante a festa, chegando a agarrá-la à força. A mulher afirmou que precisou empurrar o agressor, e houve troca de empurrões. Ao saírem da casa noturna, as três amigas relatam que voltaram a ser abordadas pelo homem. Ele saiu do local e retornou logo em seguida, com duas machadinhas de metal, e passou a agredir as mulheres.
Duas vítimas, de 25 anos, moradoras de Canela, receberam um golpe cada e conseguiram correr. A terceira mulher, de 26 anos, que reside em Novo Hamburgo, acabou caindo no chão e recebeu diversos golpes pelo corpo. Ela teve ferimentos nos braços, pernas, abdômen e pescoço. A mulher que teve mais ferimentos seria a que negou a investida do homem na festa. As três foram atendidas no Hospital Arcanjo São Miguel, sendo que a vítima de 26 anos ficou dois dias internada. As vítimas afirmaram que não conheciam o agressor antes do episódio.
De acordo com o delegado Gustavo Barcellos, titular em Gramado, Souza só parou com as agressões após ser contido por testemunhas:
— Pelo contexto do caso, concluímos que a intenção dele era matar. Só não conseguiu porque os golpes não atingiram nenhum órgão vital e porque ele foi imobilizado enquanto ainda agredia uma das vítimas, caída no chão. Ao menos duas delas tiveram ferimentos no pescoço, o que também indica tentativa de homicídio. Em depoimento, ele mesmo afirma que estava com muita raiva e que tinha vontade de "arrancar a cabeça" de uma delas.
Segundo Barcellos, Souza traz uma versão diferente dos fatos. Ele relatou que uma das mulheres teria dado em cima dele na festa. Quando ele recusou a abordagem, as três amigas teriam passado a agredi-lo.
— Ele diz que, quando saiu do local para ir embora, viu elas e decidiu que não iria deixar assim, porque elas teriam batido nele antes. Não há provas de que elas tenham começado a agressão. Ainda assim, se elas bateram mesmo no homem, a atitude dele foi totalmente desproporcional — avalia o delegado.
Homem confessou agressão
Na madrugada da festa, Souza estaria com dois amigos. Um chegou a ser levado à delegacia após o fato, junto do indiciado, mas foi liberado porque não teria envolvimento no caso. O outro não foi identificado pelas equipes.
Em depoimento à polícia, o homem confessou as agressões e afirmou que agiu sozinho:
— Ele disse que estava embriagado, mas que tinha plena consciência do que estava fazendo. Falou que foi humilhado por elas e não iria aceitar, não ia deixar assim. Ele ficou com raiva e achou que podia fazer aquilo, colocar a mulher como algo inferior, que ele não poderia ser agredido, empurrado. No depoimento, ele não demonstrou nenhum tipo de arrependimento, de remorso.
À polícia, Souza disse que os itens estavam dentro de uma mochila, que ele havia deixado na portaria na entrada da festa.
Segundo a polícia, o homem não possui antecedentes. No entanto, em janeiro, uma mochila com itens que seriam dele foi deixada na delegacia de Gramado. Dentro, havia um canivete, um cantil, uma machadinha e um soco inglês. Na ocasião, Souza tentou reaver os pertences, conforme o delegado do município:
— Ele disse que dormiu em uma parada de ônibus e acordou sem a mochila, que foi levada à delegacia. Eu devolvi a ele o cantil e o canivete, mas a machadinha e soco inglês não. São itens que indicam intenção de causar mal a alguém, então não entreguei. Ele chegou a entrar com recurso, disse que só andava com o equipamento para proteção, que fazia artes marciais, mas mantive a decisão de não devolver. No entanto, pelo jeito, ele comprou novos equipamentos.
O que diz a defesa
Em nota enviada a GZH, o advogado Luís Bringmann, que faz a defesa de Lucas Brostolin de Souza, diz que aguarda acesso à íntegra da apuração realizada pela polícia:
"Na noite dos fatos, o acusado foi brutalmente agredido, o que acabou desencadeando a fatalidade em comento. Neste momento, a defesa aguarda ter acesso à íntegra da investigação para poder se manifestar sob os fatos."