A Brigada Militar (BM) pediu a prisão dos três policiais militares suspeitos de envolvimento no desaparecimento de Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos. A BM convocou uma coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (19), após o corpo do jovem ter sido encontrado em São Gabriel, na Fronteira Oeste. Os três PMs já haviam sido afastados das funções e colocados à disposição da investigação para esclarecimentos.
O jovem foi localizado morto em um açude na localidade de Lava Pé, interior do município, onde se concentravam as busca. A coletiva ocorreu no Quartel do Comando-Geral, no centro de Porto Alegre.
A corporação divulgou que também avalia a possibilidade de substituir o comando da BM de São Gabriel. A corporação destacou que trabalha em conjunto com IGP, Ministério Público e Tribunal de Justiça.
O corregedor-geral da BM, coronel Vladimir Luís Silva da Rosa, afirmou que foi feito pedido de prisão dos três policiais — dois soldados e um sargento. Ele também afirmou que solicitou a apreensão dos celulares dos PMs para verificar se houve troca de mensagens que ajudem na investigação. A BM afirma que aguarda a decisão da Justiça Militar sobre o pedido.
— O procedimento padrão era levar o cidadão a um local para avaliação médica, conduzir à delegacia e, se fosse o caso de deter, levar para uma casa prisional. A conduta dos PMs está em desconformidade com o que prevê a corporação — disse o corregedor.
Para apurar o caso, um Inquérito Policial Militar (IPM) foi aberto. A conclusão deve ocorrer em em um prazo de 40 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 20.
O corregedor disse ainda que os PMs envolvidos na abordagem são "experientes". O sargento tem 16 anos de atuação na BM e os soldados, 15 e seis.
— São profissionais da BM, não estamos falando de delinquentes. Foi um erro de procedimento. São agentes públicos que cometeram um delito, erraram, e o caso deve ser apurado. Sobre o comportamento deles, até este momento, avaliamos como excepcional, não eram policiais que tinham prática delitiva contumaz — pontuou o corregedor-geral.
O secretário da Segurança Pública do Estado, Vanius Santarosa, afirmou que a pasta não concorda com abordagens que não sigam o padrão exigido pela corporação.
— São 15 mil pessoas abordadas todos os dias pela BM. E esses 15 mil não apresentam problema. Esse é um caso pontual, mas, quando ocorrem, são apurados com o maior rigor da lei. A investigação vai avaliar o que aconteceu e, depois, se deve ser revisto o padrão de abordagem da BM. Iremos apurar o que aconteceu nessa abordagem, temos o maior interesse em saber — disse Santarosa.
O secretário também se solidarizou com a família do jovem e afirmou que, se comprovado envolvimento na morte, os PMs serão punidos com rigor:
— Não temos o menor problema de cortar na carne. Quero reafirmar nossa solidariedade com a família e ressaltar que a BM tem por história a apuração rígida. Se, ao final da investigação, se comprovar que os PMs cometeram algo que não condiz com a conduta esperada, serão punidos na forma mais dura da lei.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o governo do Estado também irá avaliar se será prestada assistência à família do jovem.
Além do corregedor-geral da BM e do secretário da Segurança Pública, participou da coletiva o comandante-geral da Brigada, coronel Claudio dos Santos Feoli.
— Nosso cotidiano é salvar vidas. Essa é nossa missão. Isso é passado desde o ingresso no curso de formação da Brigada Militar. Só que, por mais que façamos uma formação, temos aí um elemento humano, que não pode ser desconsiderado. E o elemento humano que não estiver de acordo com a conduta esperada deve ser desconsiderado — pontuou Feoli, ressaltando que a BM emprega esforços para a elucidação do caso.
O corpo do jovem foi achado pela Brigada Militar e pelo Corpo de Bombeiros por volta das 16h30min desta sexta. Foi nas proximidades do local que uma jaqueta de Gabriel havia sido encontrada, na quarta-feira (17).
A viatura usada para transportar o jovem teve o percurso registrado por GPS. A BM confirmou que o veículo fez uma parada de um minuto e 50 segundos no local, que fica a dois quilômetros de onde Gabriel foi abordado.
Em depoimento no IPM, os policiais militares admitiram terem levado o jovem até a localidade de Lava Pé depois da abordagem. Alegaram que ele se dizia perdido e teria solicitado para ir ao local, onde procuraria a casa de familiares.