Quatro meses após o desaparecimento de um casal em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, ainda segue o mistério sobre o paradeiro de Rubem Heger, 85 anos, e Marlene Heger, 53. A investigação apontou que os dois foram assassinados, mas os corpos não foram localizados até hoje. A filha do idoso Cláudia de Almeida Heger, 50, e o neto Andrew Heger Ribas, 28, estão detidos pelo crime. A mulher tenta deixar a casa prisional onde está mantida e retornar para a prisão domiciliar, enquanto o filho dela aguarda para passar por perícia para avaliar a sanidade mental.
Ao longo dos quatro meses, a polícia buscou desvendar o paradeiro, inicialmente do casal com vida, quando o fato ainda era investigado como desaparecimento, e posteriormente dos corpos, quando o caso passou a ser tratado como duplo homicídio. Mas até agora nenhuma pista foi encontrada que indique o local onde as vítimas possam ter sido ocultadas. A última perícia concluída, segundo o delegado Anderson Spier, responsável pela investigação, foi a análise dos celulares dos réus, mas não foi encontrado nenhum elemento que contribuísse para apuração.
A investigação apontou que Cláudia e Andrew mataram o casal, depois transportaram seus corpos em um veículo e ocultaram os cadáveres. Cães farejadores chegaram a ser empregados em matagais, mas nada foi encontrado. Para o Ministério Público, o crime teve motivação financeira e também de vingança, já que o pai teria deixado de ajudar a filha após ela se envolver em um caso de falso sequestro. A filha nega as acusações e que tenha sido responsável pelo desaparecimento – Andrew nunca foi ouvido porque a defesa afirma que ele não se comunica verbalmente em razão da esquizofrenia. Buscas só devem ser realizadas novamente pela polícia caso alguma nova pista surja.
Cláudia e Andrew chegaram a receber no início do mês o direito de permanecer presos em casa, mas por descumprimento das condições da prisão domiciliar retornaram ao sistema prisional. Desde então, a mulher vem sendo mantida no Presídio Estadual Feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre. A defesa de Cláudia tenta que ela retorne à prisão domiciliar em razão de problemas de saúde (confira manifestação abaixo) e, por isso, encaminhou recurso ao Tribunal de Justiça. O pedido tramita na 2ª Câmara Criminal do TJ, e ainda não tem data para ter o mérito julgado, mas, segundo o Judiciário, poderá ser incluído na pauta de julho.
No caso de Andrew, segundo a 1ª Vara de Cachoeirinha, o andamento do caso depende da realização da perícia de sanidade mental. Após ser detido, a Justiça determinou que ele seja encaminhado ao Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), onde análise deverá apontar se ele tinha ou não condições de compreender os próprios atos à época do crime. Somente depois do recebimento deste laudo, a Justiça poderá dar seguimento ao processo em relação ao neto. Na sequência, devem começar a ser ouvidas as testemunhas do caso e os próprios réus, até que a Justiça decida se eles devem ou não ir a júri pelo crime.
“É uma agonia constante”, diz filho
Um dia antes do casal desaparecer, Marcelo dos Passos Stafford, 29 anos, esteve na casa da mãe e do padrasto em Cachoeirinha. O filho passou o dia com o casal, e ficou até depois do jantar. No mesmo dia, Cláudia teria questionado Marlene por telefone sobre quem estava na casa com eles.
— Falei para a mãe que achei estranho ela estar se chegando, porque eles ficaram muito tempo sem se falar. Ela não gostava do meu padrasto e nem da minha mãe. Mas como era pai, queria a reaproximação com a filha. Penso nisso 24 horas por dia. Estou tentando ocupar a cabeça, mas é uma agonia constante — relata.
Assim como outros familiares, Stafford conta que o padrasto tinha saúde debilitada, necessitava de medicamentos diários, uso de oxigênio e bombinhas. No último dia em que esteve com os dois, segundo Marcelo, Rubem chegou a ter crise de falta de ar.
— Nós estávamos sentados, ele foi para dentro tomar banho e ficou meio tonto. Se segurou na casa do lado e disse: “estou com falta de ar”. Minha mãe foi ajudar. O oxigênio era todo dia que ele usava — descreve.
Sobre os colchões que Cláudia alega que colocou no sol – a polícia diz que foram usados para impedir a visualização dentro da garagem – Marcelo conta que eram dele e que estavam, inclusive, embalados. Para o filho, as alegações apresentadas pelos réus de que o casal foi até a casa de Cláudia, em Canoas, e de lá desapareceu, não fazem sentido.
— Falei para a mãe tomar cuidado, quando me disse que ela estava se reaproximando. Ela não gostava deles. Em nenhum momento a mãe disse que ela estava indo lá no outro dia — afirma.
O filho saiu da moradia do casal ainda na noite de sábado em direção ao Litoral. No domingo, dia 27 de fevereiro, quando chegou na praia, enviou uma foto para a mãe e os dois conversaram pela última vez. Quatro meses após o sumiço, Marcelo diz que não tem mais esperanças de encontrar os dois com vida. Garante que a mãe não ficaria sem dar notícias, e que não tinha o hábito de pernoitar fora de casa.
— Sabemos que eles não estão mais vivos, pelo tempo que já se passou. Só queremos dar um enterro para eles, e ter descanso, acabar com isso. Todos os dias, vivemos nessa ansiedade. Cheguei a trancar minha faculdade, porque não conseguia mais me concentrar. Se a polícia acha algum corpo, já achamos que são eles. Vivemos nessa espera — desabafa.
O que diz a defesa dos réus
Responsável pela defesa de Cláudia e Andrew, o advogado Rodrigo Schmitt da Silva sustenta que os clientes não tiveram envolvimento no desaparecimento do casal. A filha alega que levou o pai e a madrasta para passarem alguns dias na casa dela, em Canoas, e de lá desapareceram. Cláudia afirma que mantinha boa relação com o pai. O advogado encaminhou nota a GZH sobre a situação da cliente na prisão. Confira:
“O Instituto Penal Madre Peletier comunicou a Magistrada substituta e a Desembargadora Relatora que não possui condições de ficar com a ré e foram taxativos dizendo que ela corre risco de óbito por falta de estrutura no sistema carcerário para uma presa com os problemas de saúde que ela tem. O Poder Judiciário foi claramente avisado que ela irá morrer. Ela está com uma bolsa de colostomia em local insalubre, além de terem confirmado diversos outros problemas de saúde já relatados, como diabetes, lúpus, condição degenerativa na coluna que necessita de fisioterapia, pressão alta, etc. Parece lógico que uma pessoa com bolsa de colostomia não pode ficar em ambiente insalubre e o Madre Peletier tem razão, o risco de morte é evidente. Tanto que na data de ontem (quinta-feira) a defesa foi informada que a ré teve que baixar o Hospital novamente por quadro infeccioso. As infecções vão se tornando recorrentes, mais resistentes aos remédios, até que a pessoa morra, torturada, de forma cruel e lentamente. Ela já teve que ser levada diversas vezes ao Hospital. A Constituição Federal veda pena de tortura, cruel e de morte, mas temos uma pessoa que nem julgada foi e que está sendo deixada para morrer aos poucos na cadeia. A Comissão de Direitos Humanos já esteve no Presídio e está fazendo um relatório. A defesa não tem mais o que fazer no momento, exceto esperar a volta do juiz titular para reapreciação ou julgamento do Habeas no Tribunal, que ainda não tem data marcada.”