Foi encerrado na noite desta terça-feira (12) o terceiro júri previsto para este ano sobre o assassinato de Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior, 17 anos, ocorrido em 2015. Os três réus foram condenados por todas as acusações. Contando com os seis réus de dois julgamentos anteriores, são nove pessoas condenadas até o momento pela morte — ainda há um quarto julgamento para ser agendado.
O adolescente morreu após ser agredido com garrafadas, socos e chutes ao sair da festa organizada para arrecadar fundos para sua formatura no Ensino Médio.
A sentença foi lida pelo juiz Jonathan Cassou dos Santos às 23h05min, depois que o conselho de sentença (formado por seis homens e uma mulher) decidiu, ao responder a 101 quesitos, que os réus são culpados. Cristian Silveira Sampaio e Jhonata Paulino da Silva Hammes e Matheus Simão Alves foram condenados a 35 anos e 4 meses de prisão, cada, a ser cumprido em regime fechado.
Eles foram condenados pelos crimes de homicídio, três tentativas de homicídio qualificado, associação criminosa e corrupção de menores. As sentenças aplicadas anteriormente nos outros dois júris, a seis réus condenados, variaram entre 35 e 41 anos.
Como os três réus obtiveram um habeas corpus preventivo, eles não foram presos pelo crime nesta noite, de forma imediata, e seguirão em liberdade enquanto a liminar vigorar. Na decisão que concedeu o habeas corpus, a Justiça considerou o fato de que os réus ficaram mais de seis anos presos e foram libertados recentemente, além de reconhecer "o excesso de prazo na formação da culpa ao corréu Peterson (já condenado no primeiro júri), estendendo os efeitos aos demais acusados". O pedido foi feito pelas defesas dos três réus.
A exceção é Matheus, que tem situação um pouco diferente, já que atualmente está detido em razão de prisão preventiva decretada por suspeita de envolvimento em outro homicídio. Com isso, mesmo com o habeas corpus, ele retornará para a prisão por causa desse outro caso.
Dois dias de júri
O júri começou na segunda-feira (11) pela manhã. No primeiro dia, foram ouvidas as três vítimas de tentativas de homicídio: dois amigos da vítima, Richard Saraiva de Almeida e Francielle Wienke, que eram namorados na época e estavam na festa com o adolescente, e o pai do jovem. Os três também foram agredidos na saída do local, segundo o MP, e estavam no mesmo carro no qual o adolescente foi atingido pelas garrafadas.
Depois, o pai da vítima, Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro, 55 anos, falou por mais de duas horas, em um relato emocionado. O engenheiro relatou que o filho estava feliz antes de ir para a festa e que "botou a melhor roupa e passou perfume".
Ronei pai lembrou mais uma vez que ele e a esposa, Tatiane Faleiro, 46 anos, após se mudarem de Charqueadas por não conseguirem mais viver na cidade depois da perda do filho, reproduziram na nova casa o quarto do adolescente. Dentro do cômodo, mantêm as roupas e tudo que Ronei Júnior mais gostava.
— Muitos vão dizer que é um martírio preservar um quarto de um filho. Minha esposa veste o mesmo tamanho que ele. Num dia de frio, pega a jaqueta dele e veste. Ela lava as camisas dele. Se eu não sentisse dor semelhante, eu diria que ela se judia, mas ela consegue dar uma abrandada porque ela está cuidando do Júnior. Ele não vai mais vestir as roupas nem ligar aquele som. Mas o quarto dele está ali. É um pequeno bálsamo para o nosso coração aquele quarto — contou o pai, na segunda-feira.
Nesta terça, por volta das 19h, enquanto áudios usados no processo eram exibidos aos jurados dentro da sessão, os pais de Ronei saíram da sala do júri. Por alguns minutos, sentaram-se nos bancos do Foro, frente a frente. Com o rosto virado para o chão, eles colocavam os dedos nos ouvidos, na tentativa de não ter de ouvir, mais uma vez, mensagens que os agressores trocaram entre si logo após a morte.
Após o relato do pai da vítima, na segunda, foram ouvidas testemunhas de acusação. Uma delas foi o delegado Rodrigo Reis, que investigou o crime na época. O policial reforçou a importância que a participação do grupo teve para o desfecho, que foi a morte de Ronei Júnior. O delegado afirmou ainda que o crime se deu porque o grupo queria agredir Richard pelo fato de ele ser de São Jerônimo. Reis recordou que uma das testemunhas disse ter visto o grupo se organizando na frente do clube para atacar alguém na saída.
Ainda na noite de segunda, iniciaram os relatos das testemunhas de defesa dos réus.
Na terça, o julgamento foi retomado com o depoimento dos três réus. Cristian Silveira Sampaio e Jhonata Paulino da Silva Hammes pediram que não houvesse transmissão pelo Tribunal de Justiça (TJ), o que foi acatado pelo juiz. Matheus Simão Alves, que também responde ao processo, permitiu que seu interrogatório fosse transmitido — a assessoria do TJ publicou alguns trechos desses depoimentos fechados nas redes sociais.
O primeiro a ser interrogado foi Cristian. Em resposta ao juiz, o réu disse que esteve na festa e saiu quando as luzes foram acesas. Ele negou participação nos crimes.
O segundo a depor foi Jhonata. Ele disse que, na festa, recebeu um empurrão pelas costas e, quando virou, viu Richard. Na saída, segundo ele, ficou esperando por Richard e tentou dar um soco nele. Disse que errou o golpe e caiu.
— Quando levantei fiquei procurando ele, tinha muita gente na volta do carro, e saí dali — disse o réu.
Depois, foi ouvido Matheus, que também negou participação no crime. Ao responder às perguntas do juiz e do Ministério Público, ele disse que saiu da festa com uma menina, com quem estava se relacionando na época, e ficou distante do local onde ocorreram as agressões.
— As pessoas que citam meu nome se confundiram. Desse fato eu não participei, não assisti, não presenciei. Estou há sete anos preso sem ter envolvimento com isso — disse.
Depois da fala dos réus, começou a fase de debates entre os promotores que representam o Ministério Público e as defesas dos acusados. O debate se estendeu até a noite de terça. Por fim, os jurados se reuniram para definir o futuro dos acusados. O juiz leu a sentença na sequência.
Contrapontos
A defesa de Cristian Silveira Sampaio, representada pela advogada Aline Hilgert, afirma que irá recorrer da decisão. Aline questiona o fato de os três réus receberem a mesma quantidade de pena.
— Novamente estamos diante de uma injustiça, onde não houve individualização das penas e de participações no fato — afirmou.
Já a Defensoria Pública do Estado afirmou que respeita a decisão do júri, mas que irá recorrer, nos autos do processo, no que julgar necessário para tentar diminuir a pena imposta ao réu Matheus, assim como aos demais defendidos pela instituição que também foram condenados por participação no caso.