O terceiro júri do assassinato de Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior, 17 anos, em Charqueadas, foi retomado na tarde desta segunda-feira (11), após intervalo de almoço. Nesta sessão, são julgados os réus Cristian Silveira Sampaio, Jhonata Paulino da Silva Hammes e Matheus Simão Alves. Nos outros dois, seis réus foram condenados.
A sessão recomeçou na tarde segunda com o depoimento do pai do adolescente, o engenheiro Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro, 55 anos. Em um relato novamente bastante emocionado, como nos dois júris anteriores, o pai lembrou do dia em que aconteceram as agressões que resultaram na morte do filho. Ele e dois amigos de Ronei, que estavam na festa com o adolescente, também foram agredidos naquele dia.
Ronei lembrou que o filho se arrumou antes da festa e estava feliz por participar do evento. O adolescente foi um dos que ajudou a planejar a celebração, organizada para arrecadar fundos para a formatura do Ensino Médio da turma do estudante. Segundo o engenheiro, era uma das primeiras vezes que o filho havia recebido autorização para sair à noite.
O pai também lembrou que, já no hospital, enquanto o adolescente recebia atendimento médico após as agressões, ouviu um integrante da equipe médica mencionar que uma soqueira teria sido usada na briga contra o jovem. Segundo o MP, o objeto foi utilizado por Jonatha, um dos réus que é julgado nesta semana.
— Meu filho fez a barba, se preparou, botou a melhor roupa, passou perfume para ir para esta festa. Como que alguém se prepara para outra coisa que não a diversão? Porque esses outros adolescentes não se prepararam para isso. Meu filho estava ali na enfermaria com o rosto todo cortado — lembra o pai.
Ronei mencionou novamente as últimas palavras que trocou com o filho:
— Ele me perguntou se eu estava bem, e eu menti. Disse que sim. Mas como é que um pai vai estar bem vendo que o filho está dilacerado? Eu não estava bem, não estou, nunca mais vou estar bem.
Ao final do depoimento, o pai falou sobre como a perda devastou a família, que até hoje tenta lidar com o vazio deixado pela morte do garoto.
— A mãe dele não aceita. Não tem remédio que tire ela do desespero. Minha incapacidade não terminou naquela calçada. A mãe do Junico não consegue entender como a cama está vazia. A casa está vazia. A casa está quieta. A casa está em silêncio. A única frase que a gente queria ouvir era “e aí mãe” e “e aí pai” — desabafou.
Ronei contou mais uma vez que ele e a esposa Tatiane Faleiro, 46 anos, após se mudarem de Charqueadas por não conseguirem mais viver na cidade depois da perda do filho, reproduziram na nova casa o quarto do adolescente. Dentro do cômodo, mantêm as roupas e tudo que Ronei Júnior mais gostava.
— Muitos vão dizer que é um martírio preservar um quarto de um filho. Minha esposa veste o mesmo tamanho que ele. Num dia de frio, pega a jaqueta dele e veste. Ela lava as camisas dele. Se eu não sentisse dor semelhante, eu diria que ela se judia, mas ela consegue dar uma abrandada porque ela está cuidando do Júnior. Ele não vai mais vestir as roupas, nem ligar aquele som. Mas o quarto dele está ali. É um pequeno bálsamo para o nosso coração aquele quarto — contou o pai, que dentro do Fórum de Charqueadas reconheceu em outra pessoa o mesmo perfume que o filho usava.
As defesas dos três réus optaram por não fazer perguntas ao pai, por isso o depoimento foi encerrado às 15h29min, após mais de duas horas, e a sessão entrou em intervalo. Na sequência, deve ser ouvido o delegado Rodrigo Reis, responsável pela investigação na época.
Nesta manhã, foram ouvidos os dois amigos do Ronei, Richard Saraiva de Almeida e Francielle Wienke, que estavam na festa com o adolescente. A previsão para o fim do júri é de até três dias.
O conselho de sentença é formado por seis homens e uma mulher e presidido pelo juiz Jonathan Cassou dos Santos.
Réus
Um dos réus, Cristian, chegou ao Fórum de Charqueadas já com habeas corpus preventivo. Ou seja, mesmo que seja condenado, não poderá sair do plenário preso, caso a pena aplicada pelos crimes seja superior a 15 anos — a menos que o juiz Jonathan Cassou dos Santos entenda que há motivos para prisão preventiva. No entanto, não foi o que aconteceu até o momento.
Nos outros dois júris, os réus conseguiram o mesmo hábeas e, em razão disso, não foram detidos, ainda que tenham recebido sentenças entre 35 e 41 anos de prisão. Matheus, que já está detido por envolvimento em outro homicídio, deve deixar o local ao fim da sessão e voltar à prisão.
Dois júris
No primeiro julgamento, que teve duração de três dias, foram condenados os três réus. Peterson Patric Silveira Oliveira foi sentenciado a 35 anos e quatro meses de prisão. Vinicius Adonai Carvalho da Silva recebeu pena de 38 anos e 10 meses e 20 dias. Já Leonardo Macedo da Cunha foi condenado 35 anos e quatro meses de reclusão. Peterson foi o único que confessou ter cometido o crime e disse ter sido o autor das garrafadas.
No segundo júri, foram sentenciados também os três réus, por todos os crimes. Eles eram acusados de homicídio qualificado, três tentativas de homicídio qualificado, associação criminosa e corrupção de menores. Alisson Barbosa Cavalheiro e Volnei Pereira de Araújo receberam pena de 35 anos e quatro meses e Geovani Silva de Souza foi condenado a 41 anos e seis meses.
Há um décimo acusado de envolvimento nos crimes. Rafael Trindade de Almeida foi denunciado depois dos demais e seu caso é apurado em outro processo. Ele já foi pronunciado e deve ir a júri, ainda sem data marcada.