A Polícia Civil indiciou nesta quinta-feira (21) integrantes de duas facções do Rio Grande do Sul e de uma de São Paulo que foram alvo de operação no mês passado em dez Estados. Em uma primeira parte do inquérito, quatro suspeitos apontados como gerentes e líderes do esquema — que estão presos — foram indiciados por lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A apuração continua, porque há mais 54 suspeitos. No total, os criminosos teriam movimentado R$ 347 milhões em um ano. Os três grupos, a partir do lucro obtido com o tráfico de drogas, investiram em 41 operadoras de criptomoedas, em empresas, na bolsa de valores, além da compra de dólares. Não há prazo para a conclusão dos demais inquéritos.
O titular da Delegacia de Lavagem de Dinheiro do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Adriano Nonnenmacher, já remeteu à Justiça a primeira parte da apuração. Segundo ele, após a ação policial no dia 22 de junho, foram apreendidos vários documentos indicando a lavagem de capitais e dezenas de cheques em branco assinados por laranjas.
— Estes documentos e os interrogatórios realizados nos possibilitaram a este indiciamento inicial. Depois dos gerentes e líderes, agora estão na nossa mira operadores financeiros, doleiros, empresários e demais laranjas — explica Nonnenmacher.
O inquérito investiga 58 pessoas. Foram feitas 14 prisões no dia da operação. Depois, alguns dos suspeitos foram soltos e respondem em liberdade.
Lavagem de dinheiro
As organizações criminosas utilizavam o sistema financeiro nacional como objetivo pulverizar ou fracionar ao máximo a distribuição do dinheiro obtido com a venda de entorpecentes. Nonnenmacher identificou ainda orientações dos líderes das facções para investir valores em empresas reais — ou seja, não montar estabelecimentos apenas de fachada —, além da compra de dólares, investimentos na Bolsa de Valores de São Paulo e nas operadoras de criptomoedas em todo o Brasil. Tudo para dificultar o rastreamento.
Inicialmente, parte do dinheiro de uma facção com base no Vale do Sinos e de outra na zona leste de Porto Alegre era enviada para operadores financeiros de outra organização criminosa, que teve origem nos presídios paulistas, com atuação no Mato Grosso do Sul e em São Paulo. Após isso, os valores eram fracionados e enviados para contas bancárias e para empresas que recebiam temporariamente o dinheiro. Os empresários recebiam porcentagens dos valores que ajudavam a lavar. Após isso, os lucros obtidos voltavam para os líderes dos grupos criminosos. De volta ao Rio Grande do Sul, ocorria ainda um novo investimento: compra de dólares no Uruguai.
Operação Pegasus
A chamada Operação Pegasus contou com 400 policiais no cumprimento de 502 medidas judiciais, sendo 21 de prisão, 63 de busca, além de apreensão de imóveis, veículos, bloqueios de contas bancárias e de demais atividades financeiras. No dia da ação, houve 14 prisões, cerca de R$ 200 mil foram apreendidos, 60 mil pesos, três armas e 30 veículos. Também houve o bloqueio judicial de quatro imóveis e de 238 contas bancárias, bem como de criptomoedas que ainda estão sendo contabilizadas. Ainda foram bloqueados os bens de três empresas em São Paulo e no Mato Grosso do Sul.
No Rio Grande do Sul, a operação foi realizada em Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Alvorada, Eldorado do Sul, Santa Vitória do Palmar e Chuí. Além de bens e atividades financeiras, estão na mira 11 líderes do tráfico, 12 operadores financeiros, alguns laranjas , e cinco doleiros. No restante do país, os alvos são gerentes financeiros, laranjas e empresários. Os suspeitos são de Garopaba, no litoral catarinense, Matinhos e Palotina, no Paraná, Franco da Rocha e Francisco Morato, em São Paulo, Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, Pouso Alegre, em Minas Gerais, Goiânia, capital de Goiás, Salvador, na Bahia, Porto Velho, em Rondônia, e Humaitá, no Amazonas.