Entre a terça-feira (28) e a quinta-feira (30), ao menos um estudante foi assaltado por dia na região entre a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), o campus central da Universidade Federal do RS (UFRGS) e o prédio do Instituto de Educação General Flores da Cunha, no bairro Farroupilha, em Porto Alegre. Seja em dupla ou caminhando sozinhas, as vítimas relatam ter sido abordadas por homens que anunciam assalto, fazem ameaças e exigem objetos pessoais.
A 17ª Delegacia de Polícia Civil, que cobre a região, confirma que o entorno do Parque Farroupilha (Redenção) tem recorrência de crimes do tipo, e informa que trabalha para identificar os autores das abordagens. Apesar de não indicar números, o delegado Thiago Bennemann confirma que houve aumento nas ocorrências de assalto a pedestres no local nas últimas semanas.
Bennemann diz que assumiu a titularidade da DP em maio e que, desde então, observa que essa é a ocorrência mais recorrente na área. Segundo ele, há um eixo de pequenos roubos — de celulares e quantias em dinheiro — e compra de drogas entre o bairro Farroupilha e a Rua Voluntários da Pátria, do outro lado do Túnel da Conceição, onde as forças de segurança miram seus esforços em mapear e coibir a atuação dos criminosos.
— Em junho, prendemos 40 traficantes na região do Centro, tentando acabar com essa comercialização de drogas, além de realizar operações conjuntas na região da Redenção. Frequentemente encontramos suspeitos portando simulacro ou arma branca (faca), mas a identificação deles por parte das vítimas é dificultada. Se trata, muitas vezes, de pessoas que moram na rua e não ficam no mesmo lugar por mais de uma semana — detalha Bennemann.
Uma das vítimas recentes, que preferiu não se identificar, afirma que atravessava a Avenida Osvaldo Aranha com uma colega, por volta das 22h20min de terça-feira. A dupla foi abordada por dois homens, que levaram celulares e a mochila de uma delas.
— Um deles olhou para mim e disse: "Eu vou acabar com a tua vida, me passa o celular". Eu fui pegar o aparelho na mochila e nisso ele pegou ela também. Levou tudo, celular, caderno, livro, carteira, documentos, chave de casa, cartão de banco, vale-refeição. Preciso comprar ou fazer tudo de novo. As pessoas perguntam: "Ele não fez nada contigo?", mas, na verdade, fez. O psicológico afeta muito, apesar de estar bem fisicamente. Desde então, tento me manter ocupada mas fico pensando nisso sempre. Passa alguém do lado na rua e tenho calafrios. É uma sensação de invasão — conta a estudante de Psicologia, de 20 anos.
Segundo ela, os relatos de assaltos na região ficaram mais recorrentes entre os estudantes após o retorno das aulas presenciais na UFCSPA, no final de abril. A colega que foi assaltada com ela na terça também relata enfrentar dificuldades após o episódio.
— Depois que eles foram embora, eu fiquei chorando o tempo todo, até o ônibus chegar, e isso demorou. É muito frustrante ter medo de ir para a faculdade, de ir estudar, e é algo que todos ali estamos sentindo. Estou vendo outra alternativa para não precisar mais pegar ônibus. Além do assalto, ainda recebi uma mensagem de que eles conseguiram desbloquear meu celular, tendo acesso às minhas informações. Aí é mais um transtorno para resolver — complementa, também pedindo anonimato.
Outro estudante relata que foi assaltado na quinta-feira, perto da Redenção. Um homem de capuz o abordou fazendo ameaças e dizendo para que ficasse em silêncio ou seria baleado. Na ação, foram levados o aparelho celular e dinheiro da vítima.
Nas três ocorrências, ainda não houve captura de suspeitos pela 17ª DP, segundo o delegado Bennemann. A Polícia Civil recorre às imagens do Departamento de Comando e Controle Integrado (DCCI) para monitorar possíveis autores.
Brigada Militar reforça policiamento
De acordo com o tenente-coronel Ivens Giuliano, comandante do 9º BPM, que atende o local, as equipes intensificaram o policiamento na região, inclusive com operações integradas com a Polícia Civil. O patrulhamento é feito com viaturas, que circulam pela área e fazem paradas em ponto estratégicos. Conforme Giuliano, o policiamento no local é constante e as equipes também realizam abordagens preventivas.
Conforme o comandante, um homem foi preso no domingo (26) após levar o celular de uma vítima na região. Depois do assalto, a vítima acionou a polícia pelo telefone 190 e comunicou o fato. O homem estaria portando um faca.
Com as informações, a equipe que estava próxima ao local conseguiu localizar e prender o suspeito. O celular foi recuperado, segundo o comandante.
— A maioria dos relatos que recebemos é pelo WhatsApp, de estudantes que afirmam terem sofrido tentativa de assalto. Só que são mensagens com poucas informações. Não diz como foi, o ponto que ocorreu, se era homem ou mulher que fez a abordagem, se era mais de um suspeito, o que acaba dificultando o trabalho. Mas estamos atuando localizar os autores e fazer as prisões. Nosso interesse é sempre de baixar os índices — argumenta.
O oficial reforça a necessidade do registro de boletim de ocorrência sempre que houver furto, roubo ou qualquer tipo de crime:
— Se houver roubo, furto, a gente pede que as pessoas registrem ocorrências porque elas nos ajudam a monitorar a região e a tomar medidas de forma mais eficaz. Além disso, para situações de emergência, a população deve acionar as equipes pelo telefone 190.
Entre as recomendações de segurança, a polícia orienta que pedestres não manuseiem celular e quantias em dinheiro durante o deslocamento nas ruas, usem bolsas e mochilas na frente do corpo e prefiram se deslocar em vias com maior movimento.