Hidrômetros, medidores de energia, cadeados, aparelhos de ar-condicionado, tampas de bueiro e fios de cobre. Nada escapa da ação dos criminosos, que vêm causando prejuízos a moradores e comerciantes do bairro São Geraldo, no 4º Distrito, em Porto Alegre.
A comunidade diz que os furtos na região são recorrentes e se intensificaram nos últimos meses. Em pouco mais de duas quadras entre a Rua do Parque e a Conselheiro Travassos, GZH contabilizou pelo menos 15 relatos desse tipo de furto. O industriário Marco Aurélio Cardoso de Melo, 55 anos, que trabalha com materiais gráficos, relatou que já gastou mais de R$ 300 substituindo cadeados furtados.
— Já levaram pelo menos seis cadeados grandes, na faixa de R$ 60 cada um. Toda vez que eu chego fico pensando se não levaram mais alguma coisa. Só depois que eu desisti dos cadeados e coloquei essa formiga (um tipo de fechadura reforçada) eles pararam de levar — comenta.
No estabelecimento ao lado, João Schneider, 71, atua no ramo de recuperação de peças de plástico e fibra de vidro. Segundo ele, o problema ocorre na região há pelo menos três anos. O seu estabelecimento já foi alvo de furto de hidrômetro, medidor de energia e cadeado.
— A gente não sabe mais o que vai fazer porque é uma empresa. Tu chegas de manhã para trabalhar e não tem cadeado. Vai acender a luz e não tem energia. Vai para a CEEE e fica dois ou três dias. O mesmo ocorre com a questão da água, que ainda pode render multa se não for registrada ocorrência policial. Para religar, a gente gasta de R$ 800 a R$ 1 mil só de fios porque eles puxam embaixo e arrancam tudo, então, quando vai reinstalar, tem que trocar toda a fiação — diz Schneider
No conjunto comercial, que vai do número 300 ao 312, todos os locatários têm grades nos hidrômetros e medidores de energia, além de histórias de furto em comum. A poucos metros, em uma gráfica na Rua do Parque, os proprietários relatam que há cerca de dois meses os criminosos levaram parte da fiação. Quando repuseram a instalação, no dia seguinte, tudo havia sido levado outra vez.
O caso mais recente foi registrado em uma empresa de corte de papéis e adesivos que está desde a sexta-feira passada (1º) de portas fechadas, sem poder trabalhar, porque criminosos levaram o relógio medidor de energia e será necessária uma série de reparos antes que a CEEE Equatorial possa reinstalar o equipamento. A empresária Silvia Soares, 53, que é proprietária da empresa, conta que não é a primeira vez que enfrenta esse problema.
Além do relógio de luz, no mês passado também tivemos o hidrômetro furtado e um prejuízo de R$ 130. Estamos desde sexta-feira sem poder trabalhar, com material preso de cliente na empresa esperando a luz retornar para que a gente possa efetivar o serviço. É um fato recorrente no bairro. Vários vizinhos relatam. Toda semana é hidrômetro furtado, é fio cortado, medidor de energia levado, pessoas que ficam de sete a 10 dias sem luz
SILVIA REGINA MELLO SOARES
Empresária
A empresária afirma que desde a sexta-feira passada até a última quarta-feira (6) já havia registrado quatro protocolos junto à CEEE Equatorial e um à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Conforme solicitado pela concessionária, ela afixou na caixa de luz a via original do boletim de ocorrência, registrado ainda na sexta-feira.
À reportagem, a CEEE Equatorial informou que "é necessário a reforma da entrada de energia", pois, "além do furto do medidor, por exemplo, consta a indicação de furto de condutores". Quando há o registro do boletim de ocorrência, a instalação do medidor não é cobrada pela concessionária. Mas as instalações e os seus custos ficam a cargo do usuário e precisam ser refeitas antes que o medidor seja recolocado. Até a tarde desta sexta-feira (8), a empresária não havia conseguido proceder com as adequações e seguia sem energia.
— Esses medidores são instalados nos padrões de entrada dos clientes, mas eles são de propriedade das distribuidoras, e os clientes ficam com eles a título de depositário fiel. Ou seja, ele tem que zelar para que o equipamento fique acondicionado de forma correta. É obrigação dele manter padrão de energia em bom estado. Quando ocorre um furto de um desses equipamentos, nós recomendamos que ele registre um boletim de ocorrência e procure um dos canais de atendimento oficiais da CEEE, seja presencial ou online, para solicitar a substituição — explica o superintendente comercial da CEEE Grupo Equatorial, Sérgio Oliveira.
Repressão à criminalidade
O caso foi registrado na 4ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, mas a investigação foi encaminhada para a 17ª DP, que atende a região. O delegado Thiago Beneman, titular da DP, destaca que pelo menos nove suspeitos por crimes relacionados a furto e receptação de fios foram presos nos últimos 40 dias.
O comandante da Guarda Municipal de Porto Alegre, Marcelo do Nascimento, salienta a efetividade das ações integradas entre as forças da Segurança Pública que vêm sendo realizadas para coibir esses crimes. Ele pontua que faz parte da política da prefeitura o enfrentamento a esses crimes.
— Aumentamos o patrulhamento nessas regiões e as ações integradas para pegarmos os possíveis receptadores do produto dessa prática criminal. Contamos com a colaboração da população através das denúncias pelo 153 ou pelo 190 para que possamos sanar o mais rápido possível esse tipo de criminalidade que está gerando grandes prejuízos para a municipalidade — conclui.